segunda-feira, 30 de maio de 2011

A MEMÓRIA VIVA DOS GUAIUBANOS ESTAMPADAS EM DOIS ÁLBUNS DE FOTOGRAFIAS


Durante algum tempo, os guaiubanos encontravam-se fragilizados e tristes com o sumiço de um dos arquivos históricos mais importantes da Paróquia de Guaiúba – um álbum de fotografias organizado na época em que Padre Gerardo José Campos estava a frente da paróquia e que demonstrava o esplendor de uma época áurea para o município de Guaiúba, na época distrito do município de Pacatuba.
Para alguns jornalistas da época, Padre Gerardo era descrito como “um moço, de feições finas e dando a impressão de estarmos frente a frente com um desses simpáticos atores de cinema, interpretando o papel de um sacerdote. Dificilmente se pode acreditar que é um homem do trabalho árduo. Se parte do seu dia é tomada com ensinamentos de crianças e jovens, com assistência espiritual dos seus paroquianos, parte é também dedicada as obras de construção, seja abrindo uma estrada, supervisionando a construção de um prédio, ou algo mais pesado. Ele é realmente magnífico e quando se elogia diz que nada fez, que nada faria sem a ajuda de seu povo”[1].
Para Rubem Alves[2], um álbum de fotografia nada mais é do que “um arquivo paralisado de felicidades perdidas que retornam quando de novo os vemos”. E era assim que se sentiam as pessoas que tinham acesso a esse material: felizes, radiantes, emocionadas. E muitos até sonhavam em fazer parte daquele tempo, que porventura não voltará jamais.
As imagens ali contidas, que na visão de Eduardo França[3] “é uma espécie de ponte entre a realidade retratada e outras realidades, e outros assuntos, seja no passado, seja no presente. E por isso ela não se esgota em si” - representavam cenas do cotidiano dos guaiubanos: moças sentadas na praça do cruzeiro, mulheres e jovens envolvidos em atividades religiosas, a presença das irmãs filhas do amor divino (que ajudavam a administrar o Patronato da Divina Providência), os desfiles cívicos de 7 de setembro, o lactário, os japoneses representativos da colônia que se estabeleceu no núcleo colonial Pio XII no dia 16 de maio de 1960 (destacando
aqui o fato de que esses eram os primeiros nipônicos que chegavam ao estado do Ceará); as comemorações do dia do trabalho, as crianças da catequese com suas catequistas, a construção da praça que embelezava o Patronato, as apresentações artísticas que ocorriam no salão paroquial, as festividades estudantis realizadas pelos alunos do Patronato, a primeira turma de alunos que realizaram o famoso Exame de Admissão para o Ginásio, o pastoril, a inauguração e benção do Patronato da Divina Providência, a inauguração do Patronato São Francisco, em Água Verde, dentre tantas, ajudavam a formar nosso imaginário histórico e comprovavam quão especial era aquele tempo, que até então as pessoas mencionam com um certo saudosismo e com um rosto preenchido pela saudade.
Quando ousamos em utilizar o termo “época áurea” fazemos alusão a um período em que a Igreja Católica comandava todos os rumos de um simples distrito com fóruns de município. Uma época em que os guaiubanos conheceram o apogeu do desenvolvimento do lugar emblematizado pelos serviços prestados pela igreja àquela população carente com recursos oriundos dos católicos da cidade de Colônia na Alemanha e da ação social, rural, paroquial de Guaiúba criada oficialmente em 26 de fevereiro de 1957, além do apoio inestimável de Moema Távora, irmã do ex Governador Virgílio Távora, de quem Padre Gerardo tinha muito prestígio.
Todas essas ações encontram-se bem vivas na memória daqueles que fizeram parte dessa época, muitos ainda vivos como Neguinha, Toto, Raimunda Paiva, Sinval Leitão, Elsa Lima, Margarida Cavalcante, Paulo Rossi, Wilson Fontoura, João Rodrigues, Carmosita, Mosinha, Dona Expedita, Terezinha Assunção, Júlia Araújo e tantos outros que apresentam seus rostos bem configurados em muitas das fotografias contidas nesse vivo memorial histórico e são testemunhas vivas das transformações sofridas por Guaiúba ao longo do tempo.
Entendemos também a preocupação do jovem Pároco, em deixar registrado para a posteridade os grandes feitos por ele idealizados e postos em prática com a ajuda da comunidade católica guaiubana. É importante mencionar que na época as fotografias eram de difícil produção e de difícil acesso, pois dependiam de equipamentos e materiais caros. No entanto, hoje assumem papel comum na sociedade moderna, todos têm suas próprias câmeras e produzem suas próprias fotos, as quais podem ser modificadas, ampliadas e enquadradas da forma que melhor convir aos desejos do fotografo.
Confesso que fiquei emocionado, quando encontrei Padre Emílio César no último domingo na Capela de Santo Antonio, quando no momento em que me dirigi a ele para cumprimentá-lo recebi a feliz notícia de que os álbuns haviam sido resgatados e que já se encontravam nas dependências da paróquia. Guaiúba está de parabéns, por ter ainda documentos valiosos que comprovam sua tão esquecida história.
Antônio Carlos Sales Paiva

[1] FROTA, José Ferreira. Magnifico Jornal Gazeta do Ceará, Fortaleza, CE, p. 11 , 13 set. 1961.
[2] ALVES, Rubem. A alegria de ensinar. Campinas, SP. Papirus. 2000, p. 72.
[3] PAIVA, Eduardo França. História e imagens. Belo Horizonte. Autentica 2002, p. 19.


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