quinta-feira, 7 de julho de 2011

PASTORIL

A ARTE DE TORNAR VIVA NOSSA TRADIÇÃO MEDIADA PELOS COSTUMES CATÓLICOS[1]



Todos os católicos já se deparam com uma música bem peculiar e que nos lembra algo de grande significância em meio ao calendário litúrgico anual. A música inicia-se assim: Boa-noite meus senhores todos/Boa-noite, senhoras também/Somos pastoras/Pastorinhas belas/ Que alegremente vamos a Belém - Sou a Mestra Do Cordão encarnado/O meu cordão eu sei dominar/ Eu peço palmas/ Peço fita e flores/ Oh! Meus senhores queiram me escutar Sou a contramestra do cordão azul/ O meu partido eu sei dominar/Com minhas danças/ Minhas cantorias/ Senhores todos/Queiram desculpar - A Diana, enquanto mediadora, cantava: Sou a Diana, não tenho partido/ O meu partido são os dois cordões,/Eu peço palmas,/Peço riso e flores/Ó meus senhores, sua proteção.
Acredito que aqueles que têm uma mente bem fértil já descobriram de que período se trata essa canção. Se não, lá vai a resposta. Essa música é entoada com regularidade no período natalino, pois faz referência a uma dança tradicional portuguesa, composta na sua maioria por meninas, conhecida pelo nome de pastoril que tem por objetivo louvar o menino Jesus, representando a visita que os pastores fizeram ao estábulo de Belém.
De acordo com Silva[2] (2010)
O Pastoril conta uma viagem que ciganas saem do Egito para se festejar com uma família na qual a mulher acabou de dar a luz a uma criança. Nessa viagem as pastorinhas, que são as ciganas do Egito, passam por muitos lugares; em algumas casas há jardins, e elas e lá encontram borboletas; no caminho fazem amizade com um pastor de ovelhas que as acompanha enquanto elas seguem uma estrela que as guia até a casa onde ocorreu o nascimento do menino que recebeu o nome de Jesus. Todos os nomes têm um significado e o nome Jesus significa “Deus Salva”. Ou seja, a história do pastoril é a história de pessoas que andam até encontrar um motivo para ficar alegres e serem felizes.

Essa dança era tradicional em Guaiúba e era apresentada ao longo do período do advento, sendo encerrada sua apresentação na véspera do dia de reis. É composta por jornadas (subdivididas em jornada de entrada e jornada de despedida) e é caracterizada pela presença de diversos personagens como a cigana, os pastores, a borboleta, a libertina, a jardineira, a Diana, Maria, São José, o Menino Deus, dentre outros. Era apresentada, geralmente, no patamar da Igreja Matriz, pois era organizada para tornar viva e animada os festejos alusivos aos padroeiros da cidade. Eram ensaiadas por catequistas ou senhoras, destacando-se Dona Mariinha de Góes e Dona Idelza, imbuídas de um sentimento cultural e religioso. É válido mencionar que tinha a participação maciça dos alunos e alunas do Patronato da Divina Providência.
Sua composição apresentava elementos, digamos assim, rústicos, pois as participantes eram muito enfeitadas e possuíam um pandeiro confeccionado artesanalmente. Era dividido em dois grupos, sendo o primeiro representante do partido azul (dirigido pela contramestra) e o segundo do partido encarnado (dirigido pela mestra), e para intermediar os dois partidos, ou cordões, era notória a presença de Diana – uma simpática brincante que conduzia todo o desenrolar da dança.
Trajando saias curtas e rodadas, e corpetes ou blusas brancas, e usando um diadema enfeitado com fitas, as pastoras, com toda a graciosidade, trazem na mão pandeirinhos ou maracás, adornados da mesma forma. O Anjo apresenta-se como um anjo de procissão, com asas de papel; a Cigana veste saia comprida e usa brincos, lenços, colares de moedas douradas; a Borboleta usa asas transparentes e antenas de papel colorido; e o Pastor utiliza um cajado. (LÓSSIO[3], 2010, sp)
As quermesses de dezembro contavam com adeptos do Partido Azul e do Partido Encarnado (cordões que faziam parte da composição do pastoril), que competiam entre si para garantir sua vitória no final dos festejos. Esse movimento social ocorria a princípio na Praça da Estação e com o passar dos tempos foram transferidos para a Praça da Igreja Matriz, que era totalmente organizada com barracas, iluminação especial e parque de diversão. Era comum todos os paroquianos participarem da tradicional missa do galo, que ocorria na Igreja Matriz para referendar ainda mais a Sagrada Família de Nazaré. A meia noite as atenções eram voltadas ao côro da igreja, onde se encontrava jovens de vozes suaves e bem colocadas, que cantavam harmoniosamente a tradicional canção noite feliz e o hino ao menino Deus.
Guardo “a sete chaves” o caderninho pertencente a minha avó – Senhora Maria Santiago Paiva – onde a mesma deixa para posteridade a letra de todas as músicas que compunham o pastoril. Envolvidas com os trabalhos paroquiais da época, a mesma dava um suporte aos ensaios da dança, além de participar maciçamente da preparação de todo o figurino.
É importante registrar que até o paroquiato dos Padres Severino Guedes e Vicente Moraes, ainda contávamos com a apresentação do pastoril, sendo organizado de forma mais singular, com menos requinte, incomparáveis aos organizados nas décadas de 50, 60, 70 e 80.
Hoje existem pequenos grupos que ainda resistem a tradição e o Nordeste continua sendo o local onde as raízes se fizeram mais fortes. Pena que Guaiúba não despertou ainda para a urgência da preservação de seu patrimônio imaterial. Esse despertar cultural é, na minha visão, de grande importância para as atuais e futuras gerações, para que ambas possam compreender melhor como se deu todo o processo histórico e cultural que fez de nosso município o que hoje ele é nos mais diversos aspectos, sejam eles sociais, políticos ou econômicos.
Antônio Carlos Sales Paiva

[1] Os leitores terão a oportunidade de vislumbrar uma das páginas do antigo caderno, contendo toda a organização do pastoril, pertencente a senhora Maria Santiago Paiva.
[2] SILVA, Severino Vicente da. O pstoril e outras dança. Texto disponível no site http://biuvicente.com/historiaecanavial. Acessado em 06/07/2010, às 18h.
[3] LÓSSIO, Rúbia. O ciclo Natalino. Artigo publicado no site: www.arteducacao.pro.br. Acesso realizado no dia 07/07/2011 às 08:06h.

3 comentários:

  1. Eu me chamo yaponira da cidade de João pessoa fiquei muito emocionada lendo seu texto sobre a história do pastoril pois estudei em colégio de freira dancei pastoril nas festas do colégio. E tenho muita saudade daquele tempo onde tudo era tão bonito e ingênuo. Vou organizar um pastoril para apresentar na festa junina do meu prédio e estava exatamente pesquisando sobre pastoril quando encontrei o seu texto. Parabéns por tornar viva a história do pastoril do nosso folclore.

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  2. tenho muitas saudades dos pastoris quando era crianca dancei pastoril e gostaria de obter todas as musicas das pastorinhas da cigana da borboleta do velho que queria enganar as pastorinhas por favor como faco para obter isso elena

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  3. Foi uma época linda! Gostaria de obter a letra completa para resgatar toda essa história...

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