quinta-feira, 14 de julho de 2011

Salão Paroquial de Guaiúba – Espaço de convivência e de múltiplas expressões culturais

“A paróquia continua viva e procurando elevar o homem, valorizar a pessoa humana. Essa será sempre a meta de nossos trabalhos apostólicos”. (Padre Gerardo José Campos[1]

Ao assumir a Paróquia de Guaiúba, em 1955, Padre Gerardo Campos percebeu que o distrito não possuía ainda um equipamento cultural propício a formação intelectual e humana da comunidade. Observara, desde a sua chegada, o potencial da juventude guaiubana e buscou, de imediato, meios capazes de alavancar a cultura local e fazer com que aquela mocidade viesse a desenvolver suas habilidades artísticas. Outra preocupação do pároco era a organização de um espaço que agregasse as principais atividades evangelizadoras da paróquia e que ao mesmo tempo fosse um ponto de encontro da família guaiubana.

Em meio aos seus interesses buscou o apoio de lideranças locais e de amigos pessoais para a consecução de uma de suas mais brilhantes obras, que foi a construção de um grande salão a quem denominaria Salão Paroquial de Guaiúba. O prédio fora edificado num terreno pertencente ao Senhor Lindolfo Accioly Pinheiro, onde funcionava seu estabelecimento comercial e um grande armazém de gêneros alimentícios do mesmo proprietário. Com o seu falecimento seus bens ficaram a cargo de sua viúva, a senhora Amélia Araújo Pinheiro, que não tendo herdeiros, resolveu doar para a paróquia aquele prédio, além de outras terras localizadas na sede do distrito de Guaiúba.

O prédio é oficialmente inaugurado no dia 01 de janeiro de 1957 e contou com a presença de diversas autoridades eclesiásticas, as quais podemos citar: Padre José Gaspar, Padre Francisco Hélio Campos e Padre Luis Bassil, que vieram atestar pessoalmente a audácia e sensatez daquele jovem padre.

O espaço recém implantado atenderia espiritualmente e culturalmente a todos os paroquianos. Foi por muitas décadas o cartão de visitas de Guaiúba e ambiente favorável a descoberta de grandes talentos guaiubanos que com grande expressividade subiam aquele palco para cantar, recitar poesias, organizar saraus, declamar dramas, dançar balet, tocar acordeom, violão e realizar diversas atividades que contribuíam para a sua formação social e cidadã. Além disso, era cedido para organização de bailes e outros eventos sociais[2].

Naquele campo de saberes se apresentaram muitas vezes a senhora Fátima de Almeida Frota, Joana Almeida, Lúcia Maria Ferreira Maia, Aldira Paiva Teixeira, Francisca Jorge Teixeira, dentre outros. Essas apresentações artísticas ganhavam um toque especial por ocasião das programações organizadas em meio a uma espécie de show de calouros que existia em Guaiúba, intitulado por Padre Gerardo Campos de “Guaiúba se diverte”, que teve sua primeira edição datada de 23 de outubro de 1957.

Por aquele palco também passaram nomes que ajudaram a delinear a cultura popular no Brasil, como Luiz Gonzaga, presenteado na ocasião por uma obra artesanal confeccionada pelo Professor Antônio Ribeiro, na época um dos responsáveis pelo Centro Profissional Santa Verônica (antiga serraria) que capacitava jovens que se dispunham a criar móveis e artesanatos que eram vendidos em toda região e que atendiam as necessidades da própria paróquia.

O salão paroquial também funcionava como uma espécie de cinema, onde eram exibidas obras cinematográficas da época. Manuseando um projetor de imagem, o Senhor Chico Moco, com a ajuda de Padre Gerardo, responsabilizava-se pela projeção dos filmes. Conta-se que num dia de exibição, todos estavam ansiosos para assistirem ao filme, quando de repente a imagem aparece na tela invertida, pois o responsável pelo manuseio da máquina estava tão ansioso para apresentar a comunidade mais uma sessão de cinema que apertou o botão errado, deixando a platéia ao mesmo tempo eufórica e animada.

No fundo do palco tínhamos uma pintura que lembrava a antiga Capela do Santo Cruzeiro e toda a área ao seu entorno. Não sabemos ao certo o autor da obra, mas é importante mencionar que ela não existe mais, notando-se o total desinteresse de nossas autoridades competentes com a preservação de nosso patrimônio histórico.

O salão ainda existe e preserva muitas de suas características originais. Foi cedido durante um bom período a Prefeitura Municipal para que fosse ali instalado alguns de seus equipamentos administrativos e a pouco tempo foi readquirido pela paróquia que sentiu a necessidade de um espaço para acomodar melhor suas realizações pastorais e sociais. Seria interessante que o espaço fosse revitalizado, que o palco atualmente escondido por divisórias de madeira reaparecesse e fosse totalmente aproveitado pelos artísticas locais e que a antiga pintura existente no fundo do palco fosse redesenhada por um pintor da terra.

Antônio Carlos Sales Paiva


[1] Esse fragmento textual foi retirado do livro de tombo da Paróquia Jesus, Maria e José, pág. 18.

[2] Confira através das fotografias as principais atividades artísticas desenvolvidas no espaço do Salão Paroquial.

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