Queridos
irmãos e irmãs,
A palavra “Quaresma”
deriva de quadragésima, ou quarenta dias. O número 40 nos recorda
alguns episódios da Bíblia: quarenta dias que o povo passou no deserto em busca
da terra prometida; quarenta dias que Moisés passou em cima do monte para
receber as tábuas da lei; quarenta dias que o profeta Elias correu, alimentado
só com o pão e a água dados pelo anjo, até chegar ao monte de Deus; quarenta
dias que Jesus passou no deserto antes de começar a sua pregação. Como se
percebe, quarenta na Bíblia sempre era tempo de preparação para um
acontecimento importante que viria depois: terra prometida, tábuas da lei, monte
Horeb, pregação. O tempo da Quaresma também serve de preparação para algo mais
importante: o tempo da Páscoa, quando celebramos a morte e ressurreição do
Senhor.
O
evangelho de hoje nos indica como devemos viver esse período. Jesus, cheio do
Espírito Santo, é conduzido pelo mesmo Espírito a um lugar solitário para
rezar. A Quaresma é um tempo de graça e conversão no qual a Igreja nos convida
a fazer um grande retiro em preparação para a Páscoa. Sem sair das nossas
casas, nem dos nossos trabalhos, somos convidados a separar um tempo do nosso
dia, pelo menos 15 minutos, para nos dedicar à leitura da Palavra de Deus e à
oração. Podemos fazer ao longo da semana a leitura do evangelho do domingo seguinte.
Assim estaremos nos preparando para a celebração dominical, além de estarmos
procurando viver este evangelho no dia a dia. Para quem diz que não tem tempo
de rezar, é bom lembrar a resposta de Jesus ao diabo: “Adorarás o Senhor teu
Deus, e só a ele servirás” (Lc 4, 8). Não podemos cair na tentação de
transformar coisas boas que Deus nos deu em deuses da nossa vida, que tomam o
Seu lugar: família, trabalho, filhos, lazeres.
Além da
oração, a Igreja nos indica o jejum e a penitência como instrumentos para
acolher a graça que Deus derrama sobre nós neste tempo favorável. O jejum foi o
que Jesus fez durante os quarenta dias e a Igreja nos convida a fazê-lo na
Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira da Paixão, mas podemos estender esta
prática para todas as sextas-feiras deste tempo. Com o jejum e a penitência
descobrimos que “não só de pão vive o homem mas de toda palavra que sai da boca
de Deus”. Deixamos de comer algo que gostamos, saltamos uma refeição ou mesmo
passamos o dia a pão e água e nos dedicamos mais à leitura da Palavra de Deus e
à caridade (amor ao próximo). É muito importante que aquilo que deixamos de
comer não sirva para aumentar nossas economias, mas seja destinado aos pobres.
Por fim, a
Igreja também nos apresenta a esmola como grande ajuda de conversão para este
tempo. Esmola vem da palavra misericórdia,
caridade. A verdadeira esmola não é
dar aquilo que me sobra, mas aquilo que o outro está precisando. Pode ser uma
visita aos doentes ou idosos, um dia de serviço à minha comunidade cristã, ou
mesmo um bem material como uma feira de compras ou dinheiro. A finalidade de
todo exercício quaresmal é justamente a esmola, ou seja, a caridade.
Com estes
três instrumentos estaremos preparados para viver este grande retiro e
conseguiremos atender ao apelo do apóstolo Paulo: “Somos embaixadores de
Cristo, e é Deus mesmo que exorta através de nós. Em nome de Cristo, nós vos
suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus” (2Cor 5,20).
Pe. Emilio Cesar
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