A Descida do Espírito Santo
Cristo Ressuscitou, Aleluia!
Sim, Ressuscitou de verdade, Aleluia!
Caros irmãos e irmãs,
Hoje celebramos a festa de Pentecostes. Esta festa já existia no meio judaico e o próprio Jesus deve tê-la celebrado, seja com seus pais seja com seus discípulos, pois era uma das três festas de peregrinação obrigatória para os judeus que moravam próximo a Jerusalém. Inicialmente foi chamada de festa da colheita (Ex 23,16) pois celebrava o fim da colheita do trigo, que acontecia sete semanas, cinquenta dias (Lv 23,16. Daí a palavra pentecostes), depois da Páscoa (Dt 16,9). Com o passar do tempo foi acrescentada a esta dimensão agrícola um significado histórico: a festa da semana, ou de pentecostes, celebrava o dom da aliança que Deus fizera com seu povo no monte Sinai (Ex 19,3-8.16-20). Se lemos a narrativa da aliança em Ex 19 vamos perceber que o autor descreve este acontecimento como uma manifestação divina (teofania), algo grandioso que hora é descrita como uma tempestade (Ex 19,16), hora como uma erupção vulcânica (Ex 19,18). Deus se manifesta para fazer daquelas pessoas o seu povo: “Se ouvirdes a minha voz e guardardes a minha Aliança, sereis para mim a porção escolhida dentre todos os povos (...) E vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa”(Ex 19, 5-6). No monte Sinai, Deus escolhera aquele povo como Seu, para ser instrumento para todos os outros, instrumento de conversão e salvação. E concedera a ele o dom da Lei (Ex 20).
Retornemos agora à primeira leitura de hoje. Atos nos mostra os discípulos reunidos no dia da festa da semana (=Pentecostes) onde se celebrava a renovação da aliança do Sinai. É interessante perceber que Lucas fez questão de coincidir a vinda do Espírito Santo com esta festa judaica. As semelhanças são perceptíveis também nos sinais utilizados pelo autor para descrever esta nova manifestação divina: um forte vendaval que enche a casa (At 2,2) e o fogo das línguas (At 2,3). Deus está se manifestando novamente e algo grandioso está acontecendo: Ele oferece não mais o dom da Lei como no Sinai mas o do Espírito Santo e mostra que aqueles homens (doze, como as doze tribos aos pés do monte) são o novo povo que Jesus constituiu. A oração que a Igreja faz na vigília de pentecostes após a leitura de Ex. 19 diz: “Ó Deus, entre clarões de fogo, destes na montanha do Sinai a antiga lei a Moisés e hoje manifestastes a nova aliança no fogo do Espírito Santo. Concedei que ardamos sempre pelo mesmo Espírito que (...) infundistes nos vossos Apóstolos, e o novo Israel, congregado de todos os povos, acolha com alegria o mandamento supremo do vosso amor” (Missal Romano, Apêndice, p. 998).
O envio do Espírito se concretiza no novo povo representado pelos doze apóstolos como “outras línguas” (At 2,4). Alguns identificam este dom com aquilo que acontece na Renovação Carismática Católica, o dom das línguas. É importante perceber que o carisma que Lucas descreve aqui é compreensível pela assembleia: “nós ouvimos anunciar em nossas próprias línguas as maravilhas de Deus” (At 2,11). Logo não pode ser identificado imediatamente com as línguas carismáticas que encontram mais semelhança com aquilo que Paulo descreve na carta aos Coríntios (cf. 1Cor 12-14). Mais uma vez precisamos chamar atenção para aquilo que é mais importante no texto, o significado deste dom. O fato de todos ouvirem os apóstolos na sua própria língua materna é algo que reverte o que aconteceu na Torre de Babel: todo mundo falava uma única língua e foram confundidos por Deus em línguas diversas para que no seu orgulho não se elevassem até os céus (Gn 11,1-9). O Senhor agora refaz a unidade perdida, concedendo uma linguagem única, compreensível a todos, símbolo e antecipação maravilhosa da missão universal da Igreja.
Peçamos ao Cristo ressuscitado, doador do Espírito Santo (Jo 20,22 e At 2,33), que mande este dom sobre nós tornando-nos cada vez mais povo escolhido (Igreja) que sabe testemunhar para o mundo o evangelho de Jesus e a linguagem do amor.
Pe. Emilio Cesar
(Pároco de Guaiúba)
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