Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.
Para sempre seja louvado.
Caros irmãos e irmãs,
Na liturgia dos últimos domingos temos celebrado sempre festas que acontecem na história: ressurreição de Cristo, Ascensão, Pentecostes. Hoje não celebramos um acontecimento mas um mistério: a Santíssima Trindade. A segunda leitura nos traz um dos primeiros testemunhos desta nossa fé: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós” (2Cor 13,13). Utilizamos esta passagem para fazer a saudação inicial da nossa celebração eucarística. Ela nos dá a consciência que a vida do cristão é trinitária: a graça vem de Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito.
Este é o maior mistério da nossa fé, que não podíamos nunca descobrir só pela via natural (razão). Pela razão podemos até entender que existe só um Deus, mas nunca poderíamos concluir que esse único Deus é Pai, Filho e Espírito Santo. Essa revelação foi feita pelo próprio Jesus, quando começou a chamar Deus de Abbá, “paizinho”, e disse: “ninguém conhece o Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11,27). O Deus do Antigo Testamento é eternamente Pai em relação a seu Filho único, que só é eternamente Filho em relação a sei Pai (cf. C.I.C. 240). É por isso que os apóstolos confessam Jesus como o Verbo que no início estava junto de Deus e que é Deus (Jo 1,1). A Tradição da Igreja, no Concílio de Nicéia (325 d.C.), definiu que o Filho é consubstancial ao Pai, ou seja um só Deus com Ele. O Concílio de Constantinopla (381 d.C.) confessou “o Filho Único de Deus, gerado do Pai antes de todos os séculos, luz de luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai” (cf. C.I.C. 242)
Antes da Páscoa, Jesus nos ensina que mandará outro Paráclito (ou Defensor, Consolador) para ficar sempre conosco (Jo 14,16). “Outro” porque Jesus se considera um paráclito e o Espírito outro. Ele está em ação desde a criação, falou pelos profetas e agora estará junto aos discípulos e neles, para ensiná-los e conduzi-los à verdade (Jo 16,13). O Espírito é assim revelado como outra pessoa em relação ao Pai e ao Filho. O Concílio de Constantinopla professa: “Cremos no Espírito Santo, que é Senhor e dá a vida; ele procede do Pai”. Isso significa que o Pai é a origem e a fonte de toda a divindade. Mas como o Pai entregou tudo para o Filho, podemos também afirmar que o Espírito procede também do Filho como de um único princípio (mesma divindade) (cf. C.I.C. 243-246).
O que foi escrito nos dois parágrafos anteriores é o mistério de Deus contemplado em si mesmo. Tentamos aprofundar com os termos que a Igreja tem usado nas suas definições de fé, mas tudo poderia ser simplificado da seguinte forma: Deus é amor e o amor não permanece parado mas se expande, circula. Por isso, o Pai gerou Jesus e do amor de ambos procedeu o Espírito Santo. Tudo aconteceu na eternidade, antes do tempo ser criado. Assim Deus é na verdade uma comunidade que se relaciona amorosamente entre si.
Contemplar este mistério, o mais profundo e impenetrável da nossa fé, é interessante, mas o que ele tem a ver conosco? No evangelho de hoje encontramos a resposta: “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). Mais uma vez podemos perceber que é próprio do amor se expandir. A Trindade não se conteve no seu amor e criou o mundo, mais ainda, desceu ao encontro do ser humano, que tinha cometido o pecado, para salvá-lo. O Pai envia seu Filho único para cumprir a missão de nos salvar. O Deus Altíssimo e transcendente, porque é amor, desceu ao nosso encontro, se fez um de nós, para poder nos fazer mais semelhantes a Ele.
Já no Antigo Testamento podemos perceber esta característica de Deus: “O Senhor desceu na nuvem e permaneceu com Moisés” (Ex 34,5 > 1ª leitura), Deus desce das alturas e vem ficar com Moisés. Ainda na primeira leitura pudemos ouvir a oração deste grande homem: “Senhor, se é verdade que gozo de teu favor, peço-te, caminha conosco; embora este seja um povo de cabeça dura, perdoa nossas culpas e nossos pecados e acolhe-nos como propriedade tua” (Ex 34,9). De fato isso aconteceu: o Senhor Deus “desceu” do céu, caminhou com seu povo e fez dele sua propriedade. Podemos não ter entendido muito do mistério do Deus único que é Pai, Filho e Espírito Santo, mas se tivermos entendido que o nosso Deus é uma Pessoa, aliás, Três Pessoas distintas, que descem do céu para caminhar conosco, nos perdoando, nos corrigindo, nos amando... isso é mais do que suficiente! Nosso Deus não é uma ideia, ou um ser distante, é Pessoa e está conosco!
Pe. Emilio Cesar
(Pároco de Guaiúba)
Parabéns padre Emílio. Que Deus, Pai e Filho e Espírito Santo, te conduza em suas missões. Estou rezando por você.
ResponderExcluirIr Paulo Henrique, INJ.
Pe. Emílio, este texto está perfeito. Ao mesmo tempo catequético e querigmático, acessível e profundo. Obrigado por nos lembrar que Deus se derrama em amor ao nos criar, ao nos dar seu Filho e Unigênito e continua renovando este ato de amor fazendo-nos co-participantes do mistério da salvação.
ResponderExcluirIr. Paulo e Edgard, obrigado pelo incentivo dos comentários. Que Deus os abençoe.
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