quinta-feira, 23 de junho de 2011

Homilia do XIII domingo do Tempo Comum - Ano A

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.
Para sempre seja louvado.
Caros irmãos e irmãs,
Retomamos o Tempo Comum, um período em que a Igreja não se dedica a contemplar um mistério particular da vida de Jesus, mas o mistério em sua totalidade. O título, Tempo
Comum, não deve nos levar a pensar que ele seja menos importante que os outros. Sem ele, a celebração do mistério de Cristo seria reduzida a acontecimentos isolados (nascimento, morte, ressurreição etc.), ao invés de impregnar toda a existência dos fiéis e das comunidades[1].
O evangelho deste domingo (Mt 10,37-42) pode ser dividido em dois momentos distintos. No primeiro, Jesus apresenta as condições para segui-lo (Mt 10,37-39). No segundo momento, Ele fala da necessidade de acolher os missionários cristãos, sejam eles apóstolos, profetas ou “pequeninos” (Mt 10, 40-42).
As condições para seguir Jesus são bastante exigentes, são as exigências do amor maior que precisamos ter a Deus (1º mandamento). Mas este amor exigente só pode ser compreendido corretamente na ótica do amor que Ele tem por nós. Deus é amor e nos ama com um amor integral, enviando seu Filho para morrer no nosso lugar. Quem experimenta este amor de Deus toma consciência do sentido da sua vida e descobre que tudo o que faz e vive só tem sentido em vista Dele. Por isso, nada pode ser colocado acima do Senhor, nem ao Seu lado. Pai, mãe, filhos, esposo(a), trabalho, lazer... e até a própria vida são realidades boas que não podem assumir o lugar de Deus. Caso isso aconteça elas se tornam destruidoras e frustrantes. Se a sua vida toda é organizada em torno do seu marido (ou filho, pai, mãe etc.), ao ponto de descuidar do seu compromisso com a Igreja, ou até da celebração dominical, para não desagradá-lo, isso significa que ele assumiu o lugar de Deus. Um dia seu marido pode lhe decepcionar, falecer, trair... o que será então da sua vida?
Da mesma forma, se você deixa seus compromissos na Igreja ou dominicais porque não está “a fim”, ou está cansado demais, questione-se se seu bem estar não foi colocado no lugar de Deus.
A lógica de Jesus é inversa da nossa: “Quem procura conservar a sua vida, vai perdê-la. E quem perde a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la” (Mt 10, 39). Quem valoriza muito uma pessoa, ou coisa, e coloca-a acima de Deus está caminhando para a morte porque isso, isoladamente, nunca poderá lhe dar o sentido para sua vida. No fundo se está caminhando para a própria frustração, destruição. Mas se Deus está no lugar Dele, marido (esposa), filhos, pais, trabalho, lazeres... ganham mais sentido e colaboram na nossa realização.
Estes são pequenos exemplos que podem nos ajudar a refletir sobre as palavras de Jesus. Porque quando perguntamos na assembleia quem ama a Deus acima de tudo, todos respondem positivamente, mas quando começamos a fazer alguns questionamentos práticos (porque o amor é ação e não sentimento) começamos a despertar e perceber que o nosso seguimento a Jesus ainda está distante do que precisa ser. E é importante percebermos isso porque o seguimento é um processo dinâmico de contínua conversão. Acomodar-se significa deixar de segui-lo.
Na segunda parte do evangelho percebemos que Jesus não deseja que todos os cristãos se tornem missionários itinerantes, padres, ou freiras, mas que sejam cristãos autênticos. Cristão autêntico, como já vimos acima, significa colocar Deus acima da sua vida pessoal e da sua família. Por isso, ele precisa dar todo o apoio aos missionários: “Quem vos recebe, a mim recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou. Quem recebe um profeta, por ser profeta, receberá a recompensa de profeta. E quem recebe um justo, por ser justo, receberá a recompensa de justo. Quem der, ainda que seja apenas um copo de água fresca, a um desses pequeninos, por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa” (Mt 10,40-42). Dar um copo d’água, receber, ou acolher um profeta significa apoiar os missionários afetiva e materialmente, ser para ele um apoio, uma família. Podemos visualizar essa realidade na primeira leitura (IIReis 4,8-11.14-16a). A mulher de Suman foi para Eliseu uma verdadeira irmã e recebeu, por isso, uma promessa de recompensa (II Re 4,16).
Quando não é possível ajudar diretamente os missionários, pode-se ajudar as instituições que os apoiam (paróquia, obras missionárias, movimentos) através do dízimo e de colaborações esporádicas, mesmo a custo de sacrifícios. Jesus, porém, prometeu que quem faz isso não ficará sem a sua recompensa – a mulher da primeira leitura recebeu a bênção de um filho (Mt 10,42).
Pe. Emilio Cesar
(Pároco de Guaiúba)

[1] BERGAMINI, Augusto, Cristo festa da igreja: história, teologia, espiritualidade e pastoral do ano litúrgico 3ª ed., São Paulo: Paulinas 2004 , p. 415.

Nenhum comentário:

Postar um comentário