segunda-feira, 6 de junho de 2011

Mensagem do Papa sobre a internet e as redes sociais



“Verdade, anúncio e autenticidade de vida na era digital”. Esse é o tema do 45º Dia Mundial das Comunicações Sociais. Que tema fantástico! Que sabedoria do Papa Bento XVI e da Igreja em discutir um tema tão atual e nos orientar como viver esse “fenômeno característico do nosso tempo: a difusão da comunicação através da rede internet”, à luz do Evangelho. O discurso do papa é tão interessante que, nesta postagem, cito entre aspas vários trechos que considero importantes e tento (não sei se sempre com sucesso) fazer alguns comentários.

O Papa vem confirmar que a comunicação pela web está proporcionando “grande mudanças culturais e sociais” e trazendo “oportunidades inéditas de estabelecer relações e de construir comunhão”. Isso se percebe especialmente nas chamadas redes sociais: Facebook, Orkut, Twitter, MSN etc. Pelas redes sociais, as “pessoas se encontram para além dos confins do espaço e das próprias culturas”. Alguns podem achar matutice da minha parte, mas confesso que fiquei deslumbrado quando uma dia estava conversando pelo MSN com uma amiga de Cabo Verde, na África. Achei fantástico como eu estava conversando com ela do mesmo modo como falo com meus amigos de Fortaleza – e ela estava do outro lado do oceano! Ao comentar as fotos dela no Facebook, fiquei medindo as palavras para não escrever nada contrário à cultura africana – e o marido dela virar uma fera! Cito como um exemplo bem prático disso que o Papa fala sobre a possibilidade de comunhão até com outras culturas.

Mas ele chama a atenção para os “limites típicos da comunicação digital: a parcialidade da interação, a tendência a comunicar só algumas partes do próprio mundo interior, o risco de cair numa espécie de construção da autoimagem que pode favorecer o narcisismo”. Narcisismo no popular cearense é “se sentir, se amostrar”. E como encontramos isso pelos orkuts da vida! Na verdade, o Papa se refere ao risco de criarmos um outro EU:

“Na busca de partilha, de ‘amizades’, confrontamo-nos com o desafio de ser autênticos, fiéis a si mesmos, sem ceder à ilusão de construir artificialmente o próprio ‘perfil’ público”.

Numa busca por ser popular, de receber tantos comentários da nova foto que nós postamos, de ter mais amigos no Facebook que o fulano, corremos o risco de perder nossa identidade, deixar de ser nós mesmos. “Sobretudo os jovens estão vivendo esta mudança da comunicação, com todas as ansiedades, as contradições e a criatividade própria de quantos se abrem com entusiasmo e curiosidade às novas experiências da vida”. E nessa fase em que buscamos descobrir e construir quem nós somos, devemos resistir a essa tentação de perder nossa essência.

Outros perigos que o Papa indica são o de “refugiar-se numa espécie de mundo paralelo ou expor-se excessivamente ao mundo virtual”. E aqui fica o alerta para aqueles que fazem do Orkut e das demais redes sociais uma espécie de reality show da sua vida, seu Big Brother pessoal. Muita gente não tem noção do quanto a internet é pública! Postar fotos de momentos íntimos ou colocar fulanasafadinha como seu nome muitas vezes abre espaço para fofocas, intrigas, pedofilia e até sequestro.

“Temos tempo para refletir criticamente sobre as nossas opções e alimentar relações humanas que sejam verdadeiramente profundas e duradouras?”, pergunta o Papa.

Outro cuidado que precisamos ter é de “nunca esquecer que o contato virtual não pode nem deve substituir o contato humano direto com as pessoas, em todos os níveis da nossa vida”. Tenho um amigo, por exemplo, que disse sentir vontade de excluir seu perfil do Orkut porque seus amigos, por conversarem com ele por lá e verem suas fotos etc, já não marcam mais para saírem juntos. Sua queixa era de que, ao invés de aproximar os amigos, sentia que o Orkut na verdade os distanciava.

Para nós, cristãos – lembra o Papa – cabe também o chamado de darmos testemunho de nossa fé nas redes sociais. “Nos novos contextos e com as novas formas de expressão, o cristão é chamado de novo a dar resposta a todo aquele que lhe perguntar a razão da esperança que está nele (cf. 1 Pd 3, 15)”. Mas o Papa nos ensina que dar testemunho de cristão não é somente falar de assuntos religiosos: “Segue-se daqui que existe um estilo cristão de presença também no mundo digital: traduz-se numa forma de comunicação honesta e aberta, responsável e respeitadora do outro. Comunicar o Evangelho através das novas mídias significa não só inserir conteúdos declaradamente religiosos nas plataformas dos diversos meios, mas também testemunhar com coerência, no próprio perfil digital e no modo de comunicar, escolhas, preferências, juízos que sejam profundamente coerentes com o Evangelho, mesmo quando não se fala explicitamente dele”. Lembro-me de uma amiga que desenvolveu no Facebook uma conversa de muitos comentários com outra garota sobre o chamado "kit anti-homofobia". A tentativa dela era de mostrar nossa posição de cristão sobre o assunto.

Esse testemunho cristão deve sempre acontecer, segundo o Papa, numa “forma respeitosa e discreta de comunicação, que estimula o coração e move a consciência” a uma resposta livre.
E para quem acha que, por ser cristão, seu perfil não é o bam-bam-bam da internet, nosso Pastor ensina que “a verdade que procuramos partilhar não extrai o seu valor da sua ‘popularidade’ ou da quantidade de atenção que lhe é dada”.

“Quero convidar os cristãos a unirem-se confiadamente e com criatividade consciente e responsável na rede de relações que a era digital tornou possível”, encorajando a todos "a manterem vivas as eternas questões do homem”, contribuindo assim para “satisfazer o desejo de sentido, verdade e unidade que permanece a aspiração mais profunda do ser humano”.

O Dia Mundial das Comunic
ações Sociais
A Igreja instituiu em 1966 o Dia Mundial das Comunicações Sociais, comemorado todos os anos na solenidade da Ascensão do Senhor. Isso porque, antes de Jesus subir aos céus, Ele instruiu os discípulos a anunciarem o Evangelho a todas as nações e lhes prometeu: “Recebereis o poder do Espírito Santo, que descerá sobre vós, para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e na Samaria, e até os confins da terra”(At 1, 8). Ser testemunha de Jesus é fazer Comunicação. E comunicar Jesus não é somente falar sobre Jesus, mas dar Jesus aos outros. Comunicar o Evangelho, testemunhando-o em palavras e atos, é missão de todos nós que somos batizados.


Para conferir o texto completo, acesse: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/messages/communications/documents/hf_ben-xvi_mes_20110124_45th-world-communications-day_po.html


Robério Nery
Bacharel em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda

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