sexta-feira, 8 de julho de 2011

Homilia do XV domingo do Tempo Comum - Ano A

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.
Para sempre seja louvado.

Caros irmãos e irmãs,
Hoje as leituras da missa falam da Palavra de Deus usando uma comparação bastante conhecida do nosso povo: a chuva e a plantação (semeadura e colheita).
Quem vive na região do semiárido sabe o que a chuva pode fazer após 15 dias. A caatinga cinza, que parecia morta, volta a brotar, fica tudo verde. O roçado de milho ou de feijão também começa a nascer. E o homem ou a mulher não fazem nada para isso acontecer. Estas pessoas compreendem facilmente a primeira leitura: Assim como a chuva desce do céu e para lá não volta mais, mas vem irrigar e fecundar a terra, e fazê-la germinar e dar semente, para o plantio e para a alimentação, assim a palavra que sair de minha boca: não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la (Is 55,10-11).
A Palavra de Deus tem força por ela mesma, ela criou o mundo, orientou o povo no deserto, deu-lhe de comer e beber, chamou os profetas... se encarnou em Jesus Cristo. Quando Deus fala, acontece. Só uma coisa pode impedir a ação divina de Sua Palavra, o coração do homem e da mulher. É sobre isso que evangelho de hoje nos falou.
Mateus inicia no cap. 13 o terceiro sermão do seu livro, ao todo são cinco[1]. Este discurso é realizado todo em parábolas e na parte que lemos encontramos a ambientação da cena (Mt 13,1-3), a parábola do semeador (Mt 13,3b-9), o porque Jesus fala em parábolas (Mt 13,10-17) e a explicação da parábola do semeador (Mt 13,18-23). Vamos nos deter na parábola e na sua explicação.
A Palavra de Deus agora é identificada com a semente que é lançada na terra. A semente é a mesma, mas os terrenos que a acolhem são diferentes: um perto de um caminho, outro pedregoso, tem ainda o que é cheio de espinhos e, finalmente, o de terra boa. Na explicação da parábola vamos entender que os terrenos representam as diversas formas que o ser humano pode acolher a Palavra de Deus.
A semente lançada à beira do caminho são aqueles que ouvem a Palavra esporadicamente, mas não a compreendem. Eles se deixam absorver facilmente por outras coisas, ao ponto de esquecer o que ouviram. O terreno pedregoso são aqueles que ouvem a Palavra com alegria mas não têm profundidade, diante do primeiro sofrimento ou perseguição por causa da Palavra desistem. São muitos que podem ser classificados assim. Estão em todas as missas de cura, louvores, shows de padres ungidos ou famosos mas quando sofrem qualquer dificuldade, ou não recebem a graça que pediam entram em crise, desistem ou procuram outra fé. As pessoas identificadas com o terreno cheio de espinho são aquelas que ouvem a Palavra mas as preocupações com o que os outros vão dizer, a aparência, a roupa de grife, a última moda ou a ilusão da riqueza falam mais alto. Por fim, a terra boa.
A semente que encontra terra boa é a Palavra semeada no coração de pessoas que ouvem com atenção e procuram compreendê-la (Mt 13,23). Vejam bem, Jesus não falou de ler com atenção, mas de ouvir. Você que por acaso tem dificuldade de ler, ou mesmo não sabe, não está excluído. Você pode ser terra boa, se, em primeiro lugar presta atenção à leitura. É muito comum eu olhar para a assembleia na hora da proclamação do evangelho e perceber que muitos estão distraídos, olhando para o lado, conversando baixinho com o vizinho, prestando atenção a uma criança que corre. A primeira dica para você se tornar terreno bom, é ouvir bem. Para isso, ajuda muito olhar para a pessoa que está fazendo a leitura. A segunda coisa, é guardar uma frase, ideia ou palavra da leitura que tenha lhe tocado. Guarde isso no seu coração e pergunte o que Deus quer lhe falar através disso. Preste, também, atenção à homilia. O sacerdote quando explica as leituras oferece dicas que lhe ajudam a compreender a Palavra que Deus quer lhe dirigir naquela celebração.
Além do verbo ouvir, o terreno bom é identificado com as pessoas que sabem compreender (sun-i/hmi). Este verbo significa literalmente “colocar junto”[2]. No contexto percebemos que o que se coloca junto não são coisas mas ideias, ou melhor, palavras. No cap. 13 de Mateus o verbo aparece no v. 13, 19 e 23. Compreender significa “colocar palavras juntas” fazendo o que a mãe de Jesus fazia: “Maria, contudo, conservava cuidadosamente todos esses acontecimentos e os meditava em seu coração” (Lc 2,19). Juntar a palavra escutada e explicada na celebração com a própria vida. Compreender significa deixar que a Palavra de Deus nos questione, nos oriente, indique o caminho de conversão. Por isso meu irmão, durante os sete dias que separam uma celebração dominical da outra, recorde a palavra que lhe tocou, veja o que ela lhe indica como caminho, o que você precisa mudar para que esta palavra se cumpra na sua vida.


[1] Sermão da montanha (Mt 5-7); sermão apostólico (Mt 10); sermão em parábolas (Mt 13); sermão da Comunidade (Mt 18); Sermão escatológico (Mt 24-25).
[2] Zerwick – Grosvenor, A gramatical analysis of the greek New Testament, 4ª ed., Roma: Editrice Pontificio Instituto Bíblico, p. 41 (Mt 13,13).

2 comentários:

  1. O blog está de parabéns! Tenho acompanhado com frequencia os textos referente as Homilias. com certeza tem sido muito construtivo, pois podemos ficar assimilando por toda a semana a Palavra de Deus.

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  2. Airton, obrigado pela suas observações. Espero contar também com sugestões para melhorarmos nosso trabalho. Deu os abençoe.

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