“Vaidade das vaidades!”
(Lc 10,42)
O livro do Eclesiastes lança um grito para os homens e
mulheres de todos os tempos, especialmente o nosso, que poderíamos traduzir
assim: Qual o sentido de toda a tua labuta? Para que você trabalha e se
preocupa tanto se diante da morte tudo acaba?
Na correria do nosso dia a dia a gente se vê arrastado pelos
compromissos no trabalho, o desejo de melhorar de vida, de comprar coisas, de
ganhar dinheiro... O tempo vai passando, a vida vai escorrendo e a nossa sina é
sempre essa. Até que acontece algo muito trágico – a morte de um filho, uma
doença incurável, um desastre – que nos obriga a pensar e reorienta nossa vida
(quando não caímos na tentação de culpar Deus pelas coisas ruins e continuamos
vivendo da mesma forma). As leituras de hoje podem nos ajudar nesta importante
tarefa: o que é essencial na minha vida?
Um homem foi procurar Jesus pedindo para que ele interviesse
junto ao seu irmão para que dividisse a herança com ele de forma justa. Os
mestres da época, muitas vezes, precisavam fazer o papel de juízes de pequenas
causas e era isso que o homem pedia. Jesus, porém, aproveita a situação para
dar um ensinamento mais profundo: “Tomai cuidado contra todo tipo de ganância,
porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste
na abundância de bens” (Lc 12,15). O que adianta um médico fazer três plantões
por semana para ganhar mais dinheiro para dar uma vida melhor para sua esposa e
seu filho se não tem tempo para ficar com eles? O que adianta alguém conseguir
muito dinheiro se tudo aquilo é fruto de roubo, enganações ou exploração dos
trabalhadores mais pobres? Quando essa pessoa morrer e comparecer diante do
justo Juiz, o que lhe dirá?
Jesus conta uma parábola de um homem que teve uma colheita
extraordinária e pensou: “Minha vida está garantida até o final. Agora vou
estocar tudo isso e desfrutar o resto dos meus dias”. Este homem é um insensato
ao pensar que sua vida depende dos seus bens e se esperou até esse momento para
desfrutá-la. Naquela mesma noite ela lhe será tirada. Precisamos reconhecer que
nossa vida, por mais que tenhamos ou trabalhemos, depende de Deus. Nossa
confiança precisa estar realmente Nele. Se temos essa consciência, iremos
trabalhar para viver melhor (e não viveremos para trabalhar). Aquilo que sobra
dos bens iremos destinar para os pobres, para a missão ou para o sustento da
Igreja[1].
Dessa forma estaremos acumulando um tesouro no céu.
Pe. Emilio Cesar
Pároco de Guaiuba
[1]É importante perceber que Jesus não está fazendo uma
defesa do endividamento, empréstimo ou do financiamento. Se você sabe que irá
precisar de algo daqui a um tempo (faculdade particular para um filho, trocar
de carro etc) não existe problema em fazer uma poupança com este fim. O que
Jesus critica é acreditar que sua vida depende do
dinheiro e querer sempre acumular mais.
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