Pois quem se humilha será elevado (cf. Lc 18, 14).
No domingo passado falamos sobre a oração cristã e
descobrimos que ela precisa ser perseverante para poder alimentar e fazer
crescer a fé. Descobrimos também que o mais importante não é o que se fala mas
com Quem se fala. Hoje vamos dar um passo a mais e descobrir que existem dois
tipos de oração.
Jesus contou uma parábola para alguns que, convencidos de
serem justos, desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo para rezar,
um fariseu observante e um publicano. Já sabemos que o coletor de impostos era
considerado um pecador público porque se colocava do lado do Império Romano
para cobrar as taxas devidas e indevidas, o que ele cobrava a mais ficava para
si. Ele explorava o povo e roubava dos pobres. Podemos dizer que Jesus
apresenta a oração de um homem justo diante dos outros e de um “pecador descarado”, e coloca ambos em paralelo.
O justo rezou de pé dando graças a Deus pela sua retidão: “Ó
Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos,
adúlteros, nem como este cobrador de impostos. Eu jejuo duas vezes por semana,
e dou o dízimo de toda a minha renda’” (Lc 18,11-12). Percebe-se que o sujeito
dessa prece é um grande eu, este homem confia em si mesmo, na sua prática da
lei. Esta sua característica se tornava pior porque ele desprezava todos
aqueles que não tivessem a mesma estatura moral. Nos encontramos diante do
exemplo de uma oração que deixa de ser encontro com Deus e passa a ser encontro
consigo mesmo. Ela possui a fórmula de uma oração dirigida ao Senhor mas o
destinatário dela é o próprio eu, uma exaltação de si mesmo diante de si e dos
outros. Lembrem-se que a oração do judeu era feita em voz audível.
O pecador manteve-se à distância e sem levantar a cabeça
batia no peito dizendo: “Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!” (Lc
18,13). O sujeito da prece não é um EU, mas Deus. O homem reconhece sua
condição de pecador, não se preocupa com o que os outros pensam ou dizem dele,
deseja apenas o perdão do Senhor. Essa é uma oração verdadeira, um diálogo
entre o indivíduo na sua condição frágil e pecadora e Àquele que pode salvá-lo.
Jesus termina dizendo que o pecador voltou para casa
justificado e o fariseu não porque quem se exalta será humilhado e quem se
humilha será exaltado (cf. Lc 18,14). Ser justificado significa ser perdoado
(salvo) e humilhar-se é reconhecer sua condição de necessitado diante de Deus,
a mesma de todos indivíduos diante do seu Criador e Salvador.
A oração é sempre reflexo do que a gente pensa e vive, das
nossas vitórias e derrotas, das fraquezas e virtudes, a oração perfeita não
existe, existe apenas a oração de quem está caminhando. Esta prece, por mais
falha que seja, é sempre um grito de socorro dirigido a Deus que pode e quer,
com nosso consentimento dado pela oração, nos salvar. Por isso, ela transforma
a pessoa (justifica) porque a graça de Deus pode ser derramada sobre aquele que
dirige sua súplica ao Senhor. Obviamente o pecador justificado não volta para
casa para continuar sua vida de pecado e na próxima oração receber novamente o
perdão. Ele vai mudando de vida pela força que Deus lhe dá, vai deixando de
lado o pecado e procurando viver de acordo com sua fé. Este homem pode deixar
de ser ladrão, chegar a jejuar duas vezes por semana, pagar o dízimo de tudo...
mas ele nunca pensará que tudo isso ele faz porque é justo, mas porque Deus o
justificou e lhe deu força para viver de acordo com essa justiça. Sua oração
nunca será semelhante a do fariseu (tendo como sujeito um grande EU), mas
poderia ser da seguinte forma: “Senhor, te dou graças porque tu me libertastes
do pecado e me perdoastes. Obrigado por me dar força de jejuar e devolver o
dízimo, concede-me, ainda, a graça de ajudar meus irmãos a encontrar o caminho
da verdadeira justiça que só tu podes conceder”.
O grande problema da vida espiritual é quando a pessoa reza
a si mesma, como o fariseu. Sua prece não chega a Deus e Ele não pode fazer
nada porque a pessoa basta e ama só a si mesma. Quebrar esse “círculo vicioso” (o círculo da
oração dirigida a si mesmo) é muito difícil porque geralmente são pessoas que
estão no caminho de fé há muito tempo. Por isso, Jesus foi tão incisivo nas suas
críticas contra tais fieis que são personificadas no evangelho como sendo os fariseus,
mas nós sabemos que eles sempre existiram nas sociedades religiosas, inclusive
na nossa Igreja. O Senhor mostrou o perigo desta maneira de viver a fé e tentou
quebrar seu “círculo vicioso” com palavras duras. Quando estas pessoas assumem
posições de coordenação ou de destaque fazem um grande mal aos que estão sob
sua responsabilidade.
Peçamos a Deus a graça de aprendermos a orar como Jesus como
o publicano da parábola.
Pe. Emilio Cesar
Pároco de Guaiuba
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