sábado, 4 de junho de 2011

HOMILIA DA ASCENSÃO DO SENHOR - ANO A

Cristo Ressuscitou, Aleluia!
Sim, Ressuscitou de verdade, Aleluia!

Caros irmãos e irmãs,
Hoje celebramos a Ascensão do Senhor. Esta festa tem sua inspiração na narrativa dos Atos dos Apóstolos que ouvimos na primeira leitura. Após sua paixão, Jesus se mostrou vivo aos Apóstolos falando do Reino de Deus (At 1,3). Segundo Lucas, estas aparições do Ressuscitado duraram 40 dias, número simbólico para indicar um período de preparação para algo importante. Jesus passou quarenta dias no deserto se preparando para sua missão (Lc 4,1-13), agora são os apóstolos que passam 40 dias se preparando para continuar aquilo que seu Senhor iniciou. Após este tempo Jesus sobe aos céus diante deles. Esta “subida” indica a última aparição do Ressuscitado aos Apóstolos e é chamada pela Igreja de Ascensão. Ela revela a entrada definitiva da humanidade de Cristo na glória divina, simbolizada pela nuvem e pelo céu (C.I.C. 660), e nos dá a certeza que seremos conduzidos à mesma glória (prefácio da Ascensão do Senhor I).
É interessante perceber que a liturgia da Igreja é organizada a partir da narrativa de Lucas. Há cerca de 40 dias atrás celebramos a ressurreição e durante este tempo todas as leituras dominicais mostravam esta realidade. Hoje recordamos a subida do Senhor ao céu e daqui a cerca de 10 dias celebraremos a vinda do Espírito Santo, a festa de Pentecostes. A distinção dos acontecimentos (Ressurreição, Ascensão, Pentecostes) ajuda os fiéis a compreender melhor o único mistério divino manifestado na vida de Jesus e da Igreja.
Retomemos agora à Carta aos Efésios quando fala da realidade que celebramos hoje: Deus “manifestou a sua força em Cristo, quando o ressuscitou dos mortos e o fez sentar-se à sua direita nos céus” (Ef 1,20). A Ascensão também é chamada de Entronização, quando Jesus Ressuscitado assume no céu o lugar devido a Ele, inaugurando o Reino do Messias (cf. Dn 7,14). “A partir desse momento, os apóstolos se tornam as testemunhas do Reino que não terá fim” (C.I.C. 664). É nesse contexto que poderemos entender o evangelho de hoje.
Podemos nos perguntar por que a Igreja apresenta o evangelho de Mateus na festa da Ascensão, se ele não a narra? Para Mateus, Jesus ressuscitado já estava entronizado: “Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra” (Mt 28,18); e é Jesus quem promete a sua presença constante: “Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo” (Mt 28,20). Podemos dizer que para Mateus a Ascensão é a certeza da presença de Jesus ressuscitado no meio da sua Igreja em missão (cf. Mt 28,19). A carta aos Efésios vai aprofundar isso dizendo que Deus colocou tudo aos pés de Jesus e fez dele a cabeça da Igreja (Ef 1,22). A Igreja não é um clube, uma associação ou um grupo de terapia que frequento quando estou precisando. A Igreja é uma realidade divina, está unida a Cristo como o corpo está à sua cabeça. Nela Jesus se manifesta vivo a todos que a formam. É importante salientar que Igreja, antes de tudo, é uma comunidade concreta, que se reúne em torno de Cristo Cabeça representado pelo bispo e padres. Desta verdade surgem diversos questionamentos. Se Deus escolheu este meio normal de se manifestar aos homens e mulheres de todos os tempos, por que ainda existem pessoas que não percebem a diferença entre celebrar com a comunidade e assistir à missa pela televisão? Por que alguns não têm coragem de se comprometer concretamente com uma comunidade para aí experimentar o Ressuscitado, mas preferem participar somente de algumas celebrações sem maior compromisso?
Espero que esta festa da Ascensão nos faça compreender aquilo que iremos rezar como Igreja no prefácio: “Ele, nossa cabeça e princípio, subiu aos céus, não para afastar-se da nossa humildade, mas para dar-nos a certeza de que nos conduzirá à glória da imortalidade” (prefácio da Ascensão do Senhor I).

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