sábado, 16 de julho de 2011

Homilia do XVI domingo do Tempo Comum - Ano A

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.
Para sempre seja louvado.

Caros irmãos e irmãs,
Na celebração de hoje continuamos o evangelho iniciado domingo passado, o discurso em parábolas do capítulo 13 de Mateus.
Jesus nos fala sobre o Reino dos Céus, não aquele perfeito que está junto de Deus, ou que se manifestará no final dos tempos, mas do Reino que se encontra sobre a terra, ainda em crescimento, ainda sendo fermentado, imperfeito.
Este Reino não se identifica cem por cento com a Igreja, ele pode ser encontrado fora dela, mas sem dúvidas que Jesus nos deixou sua comunidade de seguidores para ser o início e o germe dele (cf. CIC 567). Se alguém conhece Jesus e quer entrar no seu Reino deve procurar o meio normal que ele nos deixou: sua Igreja.
Precisamos, porém, conhecer as características do Reino de Jesus para não identificá-lo com elementos presentes na história da Igreja que são próprios da cultura ou do tempo.
O Reino dos Céus é como uma semente de mostarda. Mesmo os que não viram, sabem que uma semente de mostarda é muito pequena em comparação com outras sementes. Mas quando ela cresce se torna uma grande hortaliça, é um pouco exagerado dizer que se torna uma árvore. O Reino começou pequeno, ele se identificava com a própria pessoa de Jesus, o grão de mostarda que caiu na terra, morreu para frutificar[1]. Daquele pequeno grão nasceu um arbusto, nasceu a Igreja que pode abrigar em seus frágeis galhos muitos pássaros. Lembremos que nós fazemos parte destas aves que vieram procurar abrigo nesta “planta”, na Igreja. Ela nos acolheu pelo batismo, alimentou pela eucaristia, nos protege do sol pelas orações dos santos...
Algumas interpretações desta parábola carregam na grandiosidade atual da Igreja, árvore milenar presente em cinco continentes, rica de história, de grandes homens, indestrutível etc. Jesus já tinha deixado claro que o Reino é dos pobres, dos que são perseguidos, dos pacíficos, dos misericordiosos... (cf. Mt 5,1-12). A parábola na verdade quer motivar os primeiros leitores do evangelho, aqueles que o leram no ano 85 d.C., a não desanimar. A comunidade cristã nessa época era pequena, perseguida pelos judeus, rejeitada pela sociedade. Se tornar cristão, entrar no Reino, era, muitas vezes, romper com a família, a cultura e a sociedade. Ao ouvir que Jesus já tinha advertido sobre a pequenez inicial do Reino, e seu crescimento gradual, os primeiros cristãos se motivavam a continuar seu caminho por mais difícil que fosse.
Nós católicos que fazemos parte desta Igreja milenar, precisamos estar sempre atentos para não perder aquilo que é próprio do Reino, a humildade, a pequenez. Não podemos nos deleitar do nosso “glorioso passado”, da grande multidão que participa dos encontros com o Papa e com alguns padres, da nossa riqueza cultural, teológica ou mesmo material. Somos fruto de uma pequena semente. Mesmo hoje, como a mostarda, somos apenas uma grande hortaliça, nem chegamos a ser uma pequena árvore.
Sempre que tentamos iniciar um novo projeto de evangelização que mexe com o passado glorioso e sedimentado da nossa Igreja percebemos como é difícil no começo. Muitos se opõem, os que aderem são poucos, as dificuldades enormes. Mas uma das características do Reino é ser perseguido e começar pequeno. Se for Reino de Deus ele vai crescer por conta própria, sem glórias, mas com a força de Deus, e vai frutificar.
Quero concluir com um questionamento, a sua comunidade cristã têm as características do Reino de Deus (cf. Mt 5,1-12)? Como você contribui para o crescimento do Reino na Igreja de Cristo?


“O Reino dos Céus é como um homem que semeou boa semente no seu campo. Enquanto todos dormiam, veio seu inimigo, semeou joio no meio do trigo, e foi embora” (Mt 13, 24-25).
O joio é uma planta bastante parecida com o trigo. Ela, porém, não tem nenhuma função alimentícia, é uma erva daninha que esgota o solo e se for moída com o trigo compromete a qualidade da farinha. Quando os empregados perceberam que no campo do seu patrão tinha joio eles quiseram arrancá-lo, mas o patrão não permitiu: “Não! Pode acontecer que, arrancando o joio, arranqueis também o trigo. Deixai crescer um e outro até a colheita! (Mt 13,29-30).
Mais adiante compreendemos que o trigo são os que pertencem ao Reino de Deus e o joio os que pertencem ao Maligno (cf. Mt 13,38). Destes Jesus ainda diz que são os que fazem outros pecar e que praticam o mal. O Senhor está dizendo que no Reino de Deus os filhos da luz têm que conviver com os filhos das trevas enquanto estiverem neste mundo. Em outras palavras, na Igreja encontramos não só trigo mas também joio. Muitas vezes nos revoltamos e desejaríamos que Deus ou as autoridades eclesiais dessem um jeito nisso, mas não é assim que as coisas acontecem, nem foi assim que Jesus orientou.
Existem situações na Igreja que precisam ser punidas e resolvidas de imediato, como a pedofilia. Em primeiro lugar, para proteger as crianças do agressor. Depois, para tentar proteger o próprio agressor da sua maldade e ajudá-lo no processo de conversão. Tirando casos extremos como esse, a maioria das vezes convivem na Igreja filhos da luz e filhos das trevas, por que?
A resposta nos é dada na primeira leitura e no salmo: “Vós, porém, sois clemente e fiel,/ sois amor, paciência e perdão” (Sl 85). Deus está usando de paciência, ele espera que o joio se converta em trigo, que os operadores de maldade se arrependam e realizem as obras de Cristo.
Neste Reino não existe lugar para servos impacientes que só fazem invocar o castigo divino para quem não caminha corretamente. Precisamos imitar a paciência de Deus e esperar e rezar pela conversão dos pecadores.
Por outro lado, olhando para dentro de nós percebemos que não somos apenas trigo. Uma parte de nós é também joio. Se a colheita acontecesse hoje você seria recolhido no celeiro de Deus como boa semente ou queimado no fogo como joio? Para nossa felicidade estamos no tempo da paciência divina, tempo de conversão. Aquilo que é joio em nós pode se transformar em trigo se nós colaborarmos com a graça divina e dermos frutos de conversão. Não percamos tempo.


[1] Cf. Raniero Cantalamessa, La parola e la vita, p.207.

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