I. FUNDAMENTO BÍBLICO-TEOLÓGICO DO PROJETO
3. A espiritualidade da ceia
Quase todos os cultos da
antiguidade utilizavam os banquetes com um sentido simbólico e sagrado. O povo
de Israel também se aproveitou para sua vivência religiosa desse ato tão
socialmente humano. O Banquete fazia parte da festa do Senhor. A festa reunia o
povo na presença de Deus e comemorava as maravilhas por Ele operadas na
História, tendo em vista a constituição de uma família, a Sua família.
O Banquete era o ponto culminante
e o centro da celebração. Não é, pois, de admirar que a festa religiosa por
excelência do Antigo Testamento fosse, precisamente, uma CEIA: a Páscoa. Era um
Banquete que servia para dar ao povo a consciência de sua unidade religiosa e
de sua missão no mundo.
“Observa o mês
de Abib, celebrando uma Páscoa para o Senhor teu Deus, porque foi uma noite do
mês de Abib que o Senhor teu Deus te fez sair do Egito. Sacrificarás para o
Senhor teu Deus uma Páscoa, ovelhas e bois, no lugar que o Senhor teu Deus
houver escolhido para aí fazer habitar o seu nome. Não comerás pão fermentado
com ela. Durante sete dias comerás com ela Ázimos – um pão de miséria – pois
saíste da terra do Egito às pressas, para que te lembres do dia que saíste da
terra do Egito, todos os dias da tua vida. Durante sete dias não se encontrará
fermento em todo o teu território, e da carne que tiveres sacrificado na tarde
do primeiro dia nada deverá restar para a manhã seguinte” (Dt 16, 1-4. Cf. Lev
23,5).
Por sua vez a Páscoa representava
antecipadamente o Banquete celeste para o qual Deus convidava o seu povo.
“O Senhor dos
Exércitos prepara para todos os povos, sobre esta montanha, um banquete de
carnes gordas, um banquete de vinhos finos, de carnes suculentas, de vinhos
depurados. Ele destruiu sobre esta montanha o véu que envolvia todos os povos e
a cortina que se estendia sobre todas as nações; Ele fez desaparecer a morte
para sempre. O Senhor Deus enxuga as lágrimas de todos os rostos; ele removerá
de toda a terra o opróbrio do seu povo, porque o Senhor o disse” (Is 25, 6-8. Cf.
Is 65,13).
Jesus Cristo ao chamar pessoas
para segui-lo formou com elas uma Comunidade de irmãos, e escolheu o símbolo do
Banquete como um dos elementos centrais de seu ministério. Este costume chegava
a tal ponto que muitos o acusavam de comilão e beberrão (cf. Mt 11, 18-19).
Foi, pois, através desses Banquetes, em volta de uma mesa, que a Comunidade de
discípulos foi se constituindo em torno de Jesus. Mais tarde, Ele mesmo vai se
entregar como alimento espiritual para a vida do mundo.
“Então lhe perguntaram: ‘Que sinal
realizas, para que vejamos e creiamos em ti? Que obras fazes? Nossos pais
comeram o maná no deserto, como está escrito: Deu-lhes pão do céu a
comer’. Respondeu-lhes Jesus: ‘Em verdade,
em verdade, vos digo: não foi Moisés quem vos deu o pão do céu, mas é meu Pai
que vos dá o verdadeiro pão do céu; porque o pão de Deus é aquele que desce do
céu e dá vida ao mundo’. Disseram-lhe: ‘Senhor, dá-nos sempre deste pão!’ Jesus
lhes disse: ‘Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim, nunca mais terá fome, e o
que crê em mim nunca mais terá sede’” (Jo 6, 30-35).
As Comunidades dos primeiros
cristãos também se formaram na intimidade da mesa fraterna e eucarística. Um
dos traços característicos destas Comunidades é que seus membros partiam o pão pelas casas e tomavam o alimento com
alegria e simplicidade de coração (cf. At 2, 46).
Entre eles já não se tratava de
um simples beber em comum, nem de uma simples convivência. Os cristãos chegaram
a designar suas ceias fraternas com o nome característico do amor cristão:
ÁGAPE. E isso porque elas expressavam a convivência dos irmãos unidos na fé e
no amor e que os tornava UM SÓ CORAÇÃO. Era em torno desses ágapes que se
forjavam os laços de fraternidade, as comunidades que tanto impacto causavam entre
os pagãos.
A espiritualidade da ceia nos
motiva a visualizar o objeto sem o qual, hoje, não pode haver refeição: a mesa.
Deve-se imaginar uma mesa grande para caber todos os irmãos do Senhor. A MESA é
o espaço em torno da qual se reúnem os filhos (comunidade); lugar onde se celebra o Banquete (liturgia);
local em que se escuta a Palavra e se vive os Gestos de Jesus (Bíblia), particularmente o Lava-pés que
nos coloca a serviço de todos os irmãos.
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