I. FUNDAMENTO BÍBLICO-TEOLÓGICO DO PROJETO
2. A espiritualidade da escuta
A espiritualidade é um estilo de
vida no Espírito. Há muitas propostas de espiritualidade embora alguns
elementos sejam comuns a todas: profundo fundamento na Palavra de Deus,
centralização na Pessoa de Jesus Cristo e solidariedade com o outro.
Perscrutando o Evangelho,
percebemos que a escuta é o grande distintivo do cristão. O discípulo é aquele
que escutou o chamado do Mestre e, deixando tudo, o seguiu. Sentado a seus pés
ouvia o que ele tinha a lhe ensinar e, como Maria, guardava tudo em seu coração
meditando o significado das palavras (cf. Lc 2,19) para poder vivê-las. Esta
escuta, meditação e vivência devem ser tão intensas que levam o ouvinte a se
tornar irmão e mãe de Jesus (cf. Mc 3,31-35), fazendo que Jesus seja novamente
gerado, não mais no ventre de Maria, mas na própria vida.
Para visualizar melhor e
aprofundar a espiritualidade do discípulo missionário propomos como
fundamentação a parábola do semeador (Lc 8,4-16). O semeador é Jesus. A semente
é sua Palavra. A semeadura é o anúncio. Os terrenos são os ouvintes com suas
diferentes formas de acolher a Palavra.
A semente traz em seu bojo, uma
força dinâmica de crescimento e de identidade. Esconde “dentro” uma potência e
é a partir dela que vive o seu processo de desenvolvimento. Eis porque Jesus
Cristo e o seu Reino são comparados a uma semente que deve desabrochar em nós e
em nossas comunidades e paróquia, até atingir a sua plena maturação. Esta
semente, porém, com toda a sua força, se não encontra uma terra boa não pode
germinar, crescer, florescer e frutificar. Por isso, o discípulo missionário
precisa saber ouvir, guardar e meditar a Palavra para que ela frutifique na sua
vida. Em Lucas esta parábola é um esboço da história da missão, o modo de ser e
de atuar das Comunidades. Quando posteriormente o evangelista escreve os Atos
dos Apóstolos, ele se preocupa em destacar o crescimento das primeiras
Comunidades. Embora não faça alusão direta à parábola, sentimos que tem
presente o processo de crescimento da semente: “E a palavra do Senhor crescia.
O número dos discípulos aumentava, enormemente, em Jerusalém...” (At 6,7); “...a
Palavra de Deus crescia e se multiplicava” (At 12,24); “Ouvindo isso, os
gentios se alegravam e glorificavam a Palavra do Senhor e todos os que eram
destinados à vida eterna abraçaram a fé. Assim, a Palavra do Senhor difundia-se
por toda a região” (At 13, 48-49).
O crescimento ao qual faz alusão
é sinal da autenticidade da semente (Palavra de Deus) que, viva e eficaz, não
pode deixar de dar frutos quando encontra terra boa (ouvintes atentos).
Portanto, a escolha da semente e
do seu processo evolutivo para caracterizar a nossa espiritualidade nos leva,
através de sua vivência, a formar Comunidades Missionárias. Esta vivência supõe
um processo, como acontece com a evolução normal da semente. O fruto que queremos
colher não aparece mecanicamente. Ele representa a culminância de um processo,
onde há um tempo para tudo: tempo para semear, tempo para germinar e nascer,
tempo para podar, tempo para frutificar, finalmente, tempo para colher (cf.
Eclo 3,1-8). Por isso, sugerimos que cada comunidade visualize esta
espiritualidade plantando, cuidando, podando, contemplando a floração e fazendo
a colheita de uma pequena árvore que representa a sua espiritualidade. O
processo pedagógico seguirá o tempo litúrgico da seguinte forma:
Advento –
plantar a semente;
Natal – cuidar
do broto;
Quaresma - podar;
Páscoa –
florescer;
Tempo comum –
frutificar e colher
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