“Isto é o meu corpo” (1Cor 11,24)
Hoje a Igreja celebra o Corpo e o Sangue de nosso Senhor
Jesus Cristo. Esta festa foi instituída pelo Papa Urbano IV em 1264 motivado
pelas visões de uma monja belga (S. Juliana de Cornillon) e pelo milagre de
Bolsena. A religiosa afirmava ter visto uma lua brilhando, mas que tinha uma
marca escura. Jesus teria lhe explica que a lua era a Igreja, sua claridade
seria as festas litúrgicas e a mancha, a ausência de uma data dedicada ao Corpo
de Cristo. Em Bolsena (cidade italiana), um sacerdote que celebrava a missa,
duvidou que a consagração fosse algo real e no momento de partir a Hóstia consagrada
viu sair sangue dela que ensopou o corporal e manchou a pedra do altar (ambos
expostos para veneração na cidade italiana de Orvieto, próximo onde aconteceu o
milagre)[1].
No evangelho de hoje encontramos o milagre da multiplicação
dos pães. Cinco pães e dois peixes conseguem matar a fome de mais de cinco mil
pessoas e sobram doze cestos cheios de pedaços. O motivo disso ter acontecido
não pode ser explicado apenas pela partilha, mas em algo mais profundo. Jesus,
após mandar todo o povo sentar-se, como na última ceia, “tomou os cinco pães (...), elevou os olhos para o céu, abençoou-os, partiu-os e os deu aos
discípulos para distribuí-los à multidão” (Lc 9,16). Este acontecimento é uma
prefiguração da última ceia e de todas aquelas que seguiram por orientação de
Jesus. De fato, S. Paulo escreve (2a leitura): “O que eu recebi do
Senhor foi isso que eu vos transmiti: Na noite em que foi entregue, o Senhor
Jesus tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse: ‘Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em minha memória’” (1Cor
11,23-24). Pode se perceber claramente como a narrativa da multiplicação dos
pães é feita de uma forma a aproximá-la da ceia que Jesus celebrou na última
quinta-feira de seu ministério terreno, bem como da eucaristia celebrada pela
comunidade primitiva.
A missa, ainda hoje, é uma partilha do pouco que temos (dois
peixes e cinco pães) que nas mãos de Jesus se torna muito e sacia grande
multidão. Ele toma o que temos,faz
uma oração de ação de graças, parte os pães em pedaços menores e pede
que seus discípulos distribuam com o
povo. Nisso acontece um milagre, todos comem, todos se saciam e ainda sobra.
Porém, para que o milagre acontecesse foi necessário partilhar o que se tinha,
o pouco, o quase nada diante daquela multidão.
Na celebração eucarística, na hora do ofertório, o padre
reza em voz baixa no momento que eleva a patena com a partícula grande que será
consagrada: “Bendito sejais, Senhor Deus do universo, pelo pão que recebemos da vossa bondade, fruto da terra e do trabalho humano, que agora vos apresentamos e
para nós se vai tornar pão da vida”. Para Deus transformar o pão em Corpo de
Cristo é preciso oferecer a Ele, precisamos dar-lhe o fruto do nosso trabalho e
do dom da terra. Não existe eucaristia sem que entreguemos a ele o pouco que
temos como comunidade e como indivíduo. Precisamos nos perguntar se estamos
dando do que temos para Ele fazer o milagre de saciar a fome do povo. Às vezes
tenho a impressão que não estamos querendo dar a Jesus nossos cinco pães e dois
peixinhos, preferimos retê-los porque em caso de necessidade temos o que comer.
Com isso, aquele que retém, depois de um tempo fica sem nada e com fome, e o
povo de Deus permanece sempre com fome.
Para acontecer este grande milagre, eu preciso dar o pouco
que tenho, o fruto do meu trabalho e do dom da terra. Nas mãos de Jesus, o meu
pouco vai se transformar em muito, não apenas na quantidade mas também na
qualidade. Ele vai tomar o que dei, fazer uma oração de agradecimento ao
Pai, depois vai dizer: “Isto é meu Corpo!”. O pão que oferecemos e representa o
pouco que demos ao Senhor na coleta, no trabalho pastoral, na fidelidade aos
grupos de catequese, no dízimo generoso e fiel... Tudo isso se torna pão,
alimento para o povo faminto, e sobre ele Jesus pode dizer: “Isso é meu
corpo!”. Fieis da paróquia de Jesus Maria José, não retenham nem se retenham,
entreguem tudo ao Senhor numa vida doada livre e generosamente, assim vamos
experimentar um milagre inefável.
Pe. Emilio Cesar
Pároco de Guaiuba
[1]Cf. http://www.presbiteros.com.br/site/historia-da-solenidade-de-corpus-christi/
(acessoem 30 de maio de 2013).
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