Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Para sempre seja louvado!
Caros irmãos e irmãs,
No tempo de Jesus, o mundo era dividido em dois: os judeus e
os não-judeus. Estes também eram chamados de pagãos e considerados impuros e,
por isso, inadequados ao culto e à fé judaica até o momento de sua conversão,
que se dava com a circuncisão e a obediência aos 613 mandamentos da lei. Nos
Atos dos Apóstolos temos exemplos claros de como essa mentalidade também estava
presente nos primeiros seguidores de Jesus: história de Pedro pregando na casa
do pagão Cornélio (At 10), o mesmo apóstolo precisa justificar sua conduta
quando retorna à Igreja-mãe (At 11,1-18), a dificuldade em Antioquiaem relação
à salvação dos não-judeus(At 15, 1-2) e a solução do problema na assembleia de
Jerusalém (At 15).
É muito difícil para nossa cultura católica nordestina
entender isso. Pagão, no Novo Testamento, são todos aqueles não pertencem ao
povo, à cultura e à religião de Jesus, o judaísmo. Eles eram vistos pela
maioria dos judeus, e pelos primeiros cristãos (que eram judeus), como pessoas
inadequadas à fé no único Deus, naquele que tinha libertado o povo do Egito e
lhe constituído nação santa. Nós, leigos presentes nesta Igreja, padre,
bispos... também seríamos considerados pagãos, inadequados às práticas
religiosas da época de Jesus. O que, então, mudou isso? Por que nós, cristãos
de origem pagã (não-judeus), somos mais numerosos do que os de origem judaica?
A resposta dessa pergunta seria muito extensa, e não daria
para tratar de todo o assunto durante uma homilia. Aqui queremos ir na raiz da
mudança e ela se encontra no evangelho. Jesus ficou impressionado com a fé de
um centurião romano (chefe de um grupo de soldados romanos), que era pagão, e declarou:
“Eu vos declaro que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé” (Lc 7,9).
Aquele homem queria que Jesus curasse um funcionário seu que
estava muito doente, mas ele não se sentiu digno nem mesmo de encontrar o
Mestre no caminho. Por isso, pediu, através de seus amigos, que Ele dissesse
uma só palavra que seu servo seria curado. Assim como a palavra do centurião
podia fazer muitas coisas, porque tinha soldados sob sua ordem, quanto mais a
palavra de Jesus. Ela podia curar sem mesmo precisar entrar na sua casa. Quanta
confiança e abandono desse homem ao ponto de merecer o elogio do Senhor. Nenhum
judeu recebeu tais palavras por sua fé, somente um pagão.
Aquilo que Jesus procura são homens e mulheres que confiem
nele mais que em sua própria etnia, história, capacidade e forças. Alguém que
faz um ato de humildade e diz: “Eu creio em Ti, eu confio em Ti mais do que em
mim”. É isso que agrada a Deus e faz nascer um novo povo, não mais ligado pelo
sangue e cultura, mas pela fé na mesma pessoa: Jesus morto e ressuscitado.
O evangelho de Paulo, presente na segunda leitura, é
justamente esse que falamos antes. A fé em Jesus morto e ressuscitado conduz a
pessoa ao perdão dos pecados, ao batismo e a uma vida nova na comunidade dos
cristãos. Paulo, na carta aos Gálatas, é muito duro com quem não permanece fiel
a esta Boa Nova ou quem anuncia algo diferente, principalmente se propõe
práticas judaicas e pagãs (circuncisão, observância de calendário lunar,
abstinência de alimentos etc.) como se fossem instrumentos de salvação para si.
Além de confiar na pessoa de Jesus, precisamos também
acreditar em suas palavras e no evangelho pregado por Paulo. Esse evangelho
continua sendo o fundamento da vida cristã. Por isso, antes de aceitarmos qualquer pregação, por mais espiritual que seja ou
por mais autoridade que tenha o pregador (poderia ser até um anjo a nos falar,
diz São Paulo em Gl 1,8!), precisamos confrontá-la com essa Boa Nova para não
desviarmos do caminho que Jesus nos deixou.
Meus irmãos, façamos silêncio e deixemos que a Palavra do
Senhor nos sonde e nos mostre como está nossa fé.
Pe. Emilio Cesar
Pároco de Guaiuba
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