“Tu és Pedro” (Mt 16, 18).
celebramos a festa de S. Pedro e S. Paulo, dois
missionários de Jesus. Pedro o discípulo que Jesus escolheu para estar a frente
do grupo dos doze apóstolos, aquele que conduziu a Igreja nas primeiras décadas
do cristianismo sendo pedra de unidade,e morreu mártire na perseguição que o
imperador Nero desencadeou contra os líderes cristãos no ano de 64 d.C.. Paulo,
aquele que foi a Damasco perseguir alguns cristãos e no caminho foi “alcançado”
pelo Senhor, recebeu a “revelação” de que Jesus era o Filho de Deus e que tinha
sido escolhido para ser seu missionário entre os gentios (não judeus). Após
percorrer boa parte do mundo conhecido anunciando esta Boa Nova, foi preso e
martirizado também por Nero no ano de 64.
Nós acreditamos que estes dois homens foram escolhidos por
Deus e seu Filho para colocar o fundamento da fé cristã. Eles anunciaram a Boa
Nova do Reino e a ressurreição de Cristo, testemunharam com a vida esta fé, e
preferiram morrer a renegá-la. O fato destes dois grandes missionários terem
morrido em Roma fez que o ministério deles fosse ligado àquela Igreja, assim o
segundo bispo da capital do Império, Lino, é herdeiro não só do ministério
petrino(ser ponto de unidade para toda Igreja) mas também do paulino (ser
missionário incansável do evangelho). Por isso, nesta missa, rezamos pelo atual
bispo de Roma, o Papa, e ofereceremos toda a coleta para as suas obras missionarias
e de caridade (óbulo de S. Pedro)
Na homilia de hoje queremos nos deter no evangelho: “E vós,
quem dizeis que eu sou?” (Mt 16,16). Jesus solicita que seus discípulos se
manifestem em relação à sua identidade: Quem sou eu para vocês? Pedro responde
em nome de todos: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo[1]”
(v.15), em outras palavras: Tu és o Ungido que nós, judeus, esperávamos para implantar
o Reino de Deus, tu és aquele que tem uma relação única com Deus, o Seu filho
unigênito.
Pela bem-aventurança declarada por Jesus descobrimos que o
que Pedro falou foi uma verdadeira profissão de fé, fruto de uma revelação
divina: “Bem-aventurado és tu, Simão... porque não foi carne ou sangue que te
revelaram isso, e sim meu Pai que está nos céus”[2]
(v. 17). “Carne e sangue” é uma expressão para indicar o ser humano na sua
natureza material e limitada, em oposição ao mundo espiritual e ilimitado.
Jesus afirma que aquilo que o Apóstolo falou não provém de sua humanidade fraca
e limitada, mas é uma re-velação
(tirar o véu), ou seja, um desvelamento realizado por Deus. Ele já tinha
afirmado: “Eu te louvo, Pai, porque escondestes estas coisas aos sábios e
entendidos e as revelastes aos
pequeninos” (Mt 11,25). Nós cristãos acreditamos que Deus manifestou a
plenitude de sua revelação (quem Ele é e o seu desígnio a nosso respeito) em
Jesus Cristo e durante o período apostólico, graças ao Espírito Santo. Aqui não
se trata de revelações privadas, místicas, ou espirituais (“Deus me revelou que
vou ser padre”), mas de descortinar uma parte do mistério de Deus e de seu
desígnio. A Igreja católica ensina que este tipo de revelação já está concluída
com a morte do último Apóstolo (cf. Cat. 66), mas sua compreensão cresce com a
reflexão e o estudo dos fieis, com a vida da Igreja e a pregação dos bispos.
Com isso, podemos perceber a profundidade das palavras de Pedro e o alcance da
bem-aventurança declarada por Jesus.
Partindo desta realidade Jesus declara: “Tu és Pedro (Céfas)
e sobre esta pedra (céfas) edificarei a minha Igreja”. Simão, graças a
profissão da sua fé que por sua vez foi revelada por Deus, se torna pedra de
unidade para a Igreja. Aquilo que ele declara (ligar e desligar) tem autoridade
não apenas sobre a terra mas também no céu. É uma autoridade assustadora para
alguém feito de “carne e sangue” e precisa ser compreendida corretamente para
não causar prejuízo.
Tudo isso precisa ser usado para o serviço, para ajudar os
irmão na fé a encontrarem o caminho da salvação: “... O maior dentre vós deve
ser aquele que vos serve” (Mt 23,11). Pedro continua sendo apenas um irmão que
recebeu a missão de ser pedra, fundamento da unidade de fé entre os cristãos:
“... um só é o vosso Mestre e todos vós sois irmãos” (Mt 23,8). Ele não recebeu
a graça da impecabilidade ou da infalibilidade[3]
em todas as suas falas, tanto é que logo após a cena do evangelho que estamos
lendo Jesus o repreende por não dizer as coisas de Deus mas as dos homens (Mt
16,23); ele também nega o Mestre no momento da paixão (Mt 26,69-75). Nós
católicos, não podemos transformar o ensinamento deste evangelho em culto da
personalidade do Papa, isso está totalmente fora da Boa nova de Jesus. O que é
importante em Pedro e seus sucessores não é a sua pessoa, seu jeito de ser, o
seu desejo, mas a fé que ele proclama como pastor supremo da Igreja.
Pedro continua feito de carne e sangue, mas ele recebeu a
graça de se tornar pedra de unidade para todos os cristãos. Aquele que quiser
ser católico verdadeiro precisa estar unido à profissão de fé proclamada por
este Apóstolo e todos os seus sucessores, assim teremos certeza de estarmos na
Igreja que Cristo fundou: “Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18). Caso contrário, poderemos ter bons
propósitos, práticas religiosas, obras de caridade, mas
estaríamos construindo uma igreja que não é a de Jesus mas a nossa ou de nosso
grupo ideológico.
Pe. Emilio Cesar
Pároco de Guaiuba
[1]O título Filho de Deus vivo corresponde à fé da Igreja
após vivenciar a ressurreição do Senhor e aprofundá-la na comunidade.
[3]A doutrina da Igrejaensinaque o Papa é
infalívelquandoproclamacom um atodefinitivoumadoutrinareferente
a fé e a moral. Issoacontece de forma muitoextraordináriaquando o Papa declara
um dogma e em outros poucosmomentos (cf. Cat. 891).
Nenhum comentário:
Postar um comentário