Sois filhos de Deus
pela fé em Jesus (cf. Gl 3,26).
A fé em Cristo trouxe uma grande revolução na cultura da
época. O mundo de então se dividia entre pagãos e judeus. Pagão era todo aquele
que não pertencia aos descendentes de Abraão por nascimento ou por conversão
(adesão aos 613 mandamentos da lei e à circuncisão), e por isso não tinham
direito a prestar culto ao Deus único. As mulheres que nasciam judias tinham
uma posição melhor que os estrangeiros, mas nunca podiam ser consideradas
iguais aos homens judeus diante de Deus e entre si. Aquelas que não pertenciam
a esse povo não podiam sequer se converter independentemente de seus maridos.
S. Paulo, conhecendo o ensinamento e a prática de Jesus, vai
fazer uma afirmação que ainda hoje é revolucionária, e, talvez, ainda não
tenhamos entendido de forma adequada: “O que vale não é mais ser judeu nem
grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um só,
em Jesus Cristo” (Gl 3,28). A fé cristã trouxe uma nova e igual dignidade para
o ser humano. O importante não é a etnia (raça), gênero (homem e mulher),
nacionalidade, cultura, classe social... mas aquilo que somos a partir da nossa
fé e batismo. Somos filhos de Deus, revestidos de Cristo, descendência de
Abraão, herdeiros segundo a promessa. Títulos que Paulo atribui ao cristão
presente na passagem de Gálatas que lemos hoje.
Jesus, de fato, não colocou limites para as pessoas se tornarem
seus discípulos. Entre esses existiam homens e mulheres, pecadores públicos e
fariseus devotos. No evangelho de hoje ouvimos o seu convite: “Se alguém quer me
seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz cada dia, e siga-me” (Lc 9,23).
Aqueles que acreditam no Messias que veio dar sua vida pelos seus e desejam
segui-lo, precisam viver como Ele. Entre os seus discípulos não existem maiores
ou menores; todos têm o mesmo valor diante do Mestre. Se lemos com atenção as
cartas paulinas e os Atos dos Apóstolos, percebemos que as mulheres assumem
funções importantes na comunidade cristã, o que não era comum naquela época.
Será que nossa comunidade cristã tem levado a sério esta
afirmação da Escritura: somos todos iguais diante de Deus, somos filhos. Ou
ainda consideramos que na Igreja existem os mais e os menos importantes? Em
primeiro lugar estaria o padre, depois os ricos, inteligentes... por último eu
que não tenho muita coisa a oferecer.
Na Igreja não deve ser assim. Somos todos iguais, padres,
bispos, leigos, homens e mulheres... somos filhos de Deus graças à fé em Cristo
e ao batismo. Em Mateus encontramos uma palavra revolucionária de Jesus nesse
sentido: "Vós, não vos façais chamar de ‘rabi’, pois um só é vosso Mestre
e todos vós sois irmãos”(Mt 23,8).
Somos todos irmãos e como tal precisamos viver na nossa comunidade. O padre, ou
bispo, é colocado nela como um irmão que tem a missão de ajudar os outros nessa
caminhada, não como alguém que se impõe, mas como servo
(“o maior dentre vós deve ser aquele que serve”: Mt 23,11).
Será que nossas comunidades são uma Igreja de irmãos, ou
fazemos ainda distinção de pessoas mais e menos importantes? Será que colocamos
o padre como o mais importante de todos, que precisa fazer tudo para nós; ou o
vemos como um irmão que está junto conosco na caminhada, que tem a função de
nos ajudar por ser "mais velho" (presbítero: ancião), mas também
precisa da nossa ajuda?
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