“Tua fé te salvou.”
Quando lemos esta passagem ficamos tão desconcertados com aquilo que a mulher faz que esquecemos esta última frase de Jesus. Foi a sua fé que a salvou dos pecados.
S. Paulo, na segunda leitura de hoje, vai nos ensinar que a
fé é uma confiança total em Jesus Cristo que nos leva a ser justificados, ou
seja, a ser perdoados de todos os pecados. Não são as obras da lei (a
circuncisão, a obediência aos 613 mandamentos da lei...) que nos conquistam da
parte de Deus o perdão e a justiça mas é a confiança que temos na obra
redentora do nosso Salvador. Se eu vivo crendo no filho de Deus que me amou e
se entregou por mim na cruz então sou um cristão autêntico.
Em outras palavras, esta é a experiência fundamental do
cristão, é aquilo que faz uma pessoa começar seu nascimento para a vida cristã.
O Documento de Aparecida vai falar desta experiência como encontro, pessoal e
comunitário, com Jesus (D.A. 11, 12, 13, 14, 21). Para acontecer isso é preciso
que a pessoa se perceba necessitada do Senhor, reconheça a sua condição de
pecadora. O encontro da miséria humana presente no indivíduo com o Deus amoroso
que perdoa seus pecados gera um coração grato. É esta experiência de fé que foi
decisiva naquela mulher e que o evangelho não narra mas pressupõe.
A mulher entra na sala onde estavam os convivas reclinados à
mesa (naquela época os grandes banquetes eram realizados dessa maneira e não
sentados) e se coloca aos pés de Jesus e começa a banhá-los com suas lágrimas,
enxugar com seus cabelos, beijá-los e perfumá-los. A educação dizia que um
anfitrião ao receber um convidado ilustre em sua casa deveria acolhê-lo
beijando na face, derramando óleo perfumado na cabeça e oferecendo água para
banhar os pés. Nada disso Simão tinha feito, mas aquela mulher fazia todos os
gestos de acolhimento de uma forma extrema.
A parábola que Jesus conta, além de desmontar o pensamento
maldoso do fariseu (cf. Lc 7,39), explica o sentido daquelas ações exageradas
da mulher. Um credor (alguém que emprestou dinheiro) perdoou a dívida de duas
pessoas, um lhe devia pouco e outro muito. Qual dos dois amará mais o credor
bondoso? Simão, o anfitrião de Jesus, teve que dar uma resposta e, com ela, se
envolveu na história: “Acho que é aquele ao qual perdoou mais” (Lc 7,43).
“Julgaste bem”, disse Jesus, e se
voltando para a mulher continuou falando para Simão. Imaginar esta cena é
muito importante para perceber a força das palavras do Mestre. Jesus Fala ao
fariseu olhando para a pecadora! É como se ele dissesse: esta mulher demonstra
muito amor para comigo porque ela experimentou o perdão de seus pecados, e ela reconhecia
eram muitos. Você não demonstrou amor para comigo fazendo os gestos de
acolhimento normais porque se acha justo, não necessitado de perdão, por isso
seu coração não é grato e não consegue demostrar amor como esta pecadora.
Sei que muitas vezes ouvimos homilias ou pregações que
interpretam esta passagem no sentido inverso: quem ama mais receberá maior
perdão. Mas a parábola e a última frase que Jesus diz a Simão demonstra
claramente o sentido apresentado acima: “Aquele a quem se perdoa pouco, mostra
pouco amor” (Lc 7,47).
Como é difícil para os homens e mulheres do século XXI
dizer: eu sou pecador, indigente, preciso de Deus e do seu perdão. Se esta pessoa
consciente de sua limitação se encontra com o amor de Deus manifestado na morte
e ressurreição de Jesus faz uma experiência libertadora. Ela vê sua vida
transformada pelo perdão divino e passa a ter um coração grato que em tudo
procura amar a Deus sem medo da desmesura, nem vergonha
do que vão falar.
Pe. Emilio Cesar
Pároco de Guaiuba
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