Ele elevou os humildes
(cf. Lc 1, 52).
Pela autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo, e pela nossa própria autoridade, pronunciamos, declaramos e definimos como dogma que a Virgem Maria, terminado o curso da vida terrena, foi elevada em corpo e alma à glória celeste (cf. Munificentissimus Deus, n. 44).
Os cristãos, porém, desde o século III ou IV, já
demonstravam acreditar que Maria, a mãe de Jesus, tinha sido levada ao céu[1].
Por que Deus exaltaria desta forma uma criatura sua? Por que
Ele elevaria à glória do céu uma mulher da mesma forma que já tinha feito com
seu próprio Filho? A resposta pode ser encontrada no texto do evangelho de
hoje. “Bem aventurada aquela que
acreditou”, disse Isabel à Maria, que por sua vez respondeu proclamando: “A minha alma engrandece o Senhor (...)
porque olhou para humildade de sua serva (...) Ele mostrou a força do seu
braço: (...) Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes” (Lc
1,48.51-52).
Deus olhou para situação humilde que vivia Maria e, na
pessoa dela, todo o seu povo, e veio visitá-la, propondo um plano de salvação
que dependia do seu sim. Essa situação humilde é a condição de pobreza e
indigência que vivia o povo, dominado pelo Império Romano, explorado com taxas
e tributos excessivos recolhidos pelos irmãos da própria raça, vendidos como
escravos para pagar suas dívidas.
No Antigo Testamento, o povo de Deus já tinha experimentado
situações de grandes humilhações: derrotas em batalhas e guerras, escravidão no
Egito, exílio na Babilônia, doenças. Tais situações fizeram o povo tomar
consciência da sua fraqueza congênita e da miséria do pecador que se separa de
Deus. Com este reconhecimento, o ser humano pode se inclinar e se voltar para
Deus com um coração contrito (cf. Sl 50,19), com aquela humildade feita de
dependência total e de docilidade confiante que inspira a oração de alguns
salmos (cf. Sl 24; 105)[2].
Em Maria esta inclinação se manifestou de uma forma mais profunda, através da
fé. Ela confia inteiramente Naquele que a criou e lhe convida a participar de
Seu plano de salvação. Confia Nele e em suas palavras.
A humildade de Nossa Senhora é ainda mais profunda. Ela,
antecipadamente, age como o seu Filho, que se declarou “manso[3]
e humilde de coração” e disse para aprender com Ele (Mt 11,29). Jesus foi
humilde não para si, mas por causa dos outros. Ele lavou os pés do seus
discípulos (cf. Jo 13,14ss) e morreu na cruz (cf. Fl 2,6; Mc 10 ,45) para
salvar os homens e as mulheres. Portanto, a humildade de Cristo é amor – não sentimento,
mas ação concreta. “Em Jesus se revela não só o poder divino sem o qual não
existiríamos, mas a caridade divina sem a qual estaríamos perdidos (cf. Lc
19,10)”[4].
Se retornamos ao nosso evangelho percebemos que a humilde serva
do Senhor foi apressadamente ao encontro de Isabel porque sabia que sua prima
estava precisando dela. Quando sua prima a proclama “bem-aventurada” porque
acreditou, ela está lembrando o sim que Maria deu ao anjo: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra”
(Lc 1,38). Mais uma vez a humildade de Nossa Senhora não permite pensar em
primeiro lugar em si, seus sonhos de esposa de José, mas pensa no povo que
precisava da visita de seu Deus. A humildade de Maria foi também caridade.
Na festa de hoje somos convidados não só a cumprir o
evangelho, proclamando Nossa Senhora bem-aventurada, feliz, santa (cf. Lc 1,
48), mas, principalmente, fugir do nosso orgulho e imitar a humildade dela, para que também nós uma dia sejamos exaltados por Deus.
Pe. Emilio Cesar
Pároco de Guaiuba
[1] Cf. O livro do
repouso de Maria; Narrativas da dormição dos Seis Livros (cf.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Assunção_de_Maria. Acesso 15 de julho de 2013.
[2] Cf. M.-F. Lacan, “Humildade”. In: X. Léon-Dufour (Dir.), Vocabulário de teologia bíblica, p. 416.
[3]Em grego praüs indica
o humilde cuja submissão a Deus o torna paciente e manso (cf. Mt 5,4 e 11,29);
(Cf. M.-F. Lacan, “Humildade”. In: X.
Léon-Dufour (Dir.), Vocabulário de
teologia bíblica, p. 415).
[4] Cf. M.-F. Lacan, “Humildade”. In: X. Léon-Dufour (Dir.), Vocabulário de
teologia bíblica, p. 416-17.
Nenhum comentário:
Postar um comentário