sábado, 24 de agosto de 2013

XXI DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C



“Há últimos que serão primeiros” (Lc 13,33).
Jesus continua sua viagem para Jerusalém (cf. Lc 13,22), já sabemos que é a última de seu ministério público, quando chegar na cidade santa ele dará sua vida por nós. Por isso, todo seu ensinamento ganha o peso de legado[1].
Uma pessoa versada na lei do A.T. e conhecedora das discussões teológicas pergunta: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?”. Alguns mestres da época diziam que todo o povo judeu iria se salvar, outros acreditavam que somente parte receberia a salvação. Jesus vai além e diz:
“Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita. Porque eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão. Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vós, do lado de fora, começareis a bater, dizendo: ‘Senhor, abre-nos a porta!’
Ele responderá: ‘Não sei de onde sois’.
Então começareis a dizer: ‘Nós comemos e bebemos diante de ti, e tu ensinaste em nossas praças!’” (Lc 13,24-26).
Esta parábola mostra que fazer refeições com Jesus (prestígio) e ceder as próprias praças para que ele pregasse não é garantia de salvação. Podemos então concluir que pertencer a uma etnia (raça) e praticar a religião com atos exteriores por pura tradição (costumes adquiridos) não é garantia de entrar no Reino. É preciso passar pela “porta estreita”.
A exclusão daqueles que acreditavam que estavam salvos se dá exatamente porque eles praticam a injustiça. Podemos então concluir que “a porta estreita” é realizar a justiça. No evangelho de Lucas três pessoas são reconhecidas como justas: o velho Simeão (Lc 2,25), José de Arimatéia (Lc 23, 50) e Jesus no alto da cruz (Lc 23,47). No cântico de Zacarias, se proclama que Deus se recordou de sua aliança e libertou seu povo para que o servisse com justiça e santidade em sua presença (cf. Lc 72-75). A justiça não deve ser entendida como justiça dos tribunais, ou fazer tudo de maneira corretíssima, mas agir de acordo com a lei do amor. Jesus já tinha falado sobre isso em Lc 10,25-28 e para explicar melhor sua posição contou a parábola do bom samaritano (cf. Lc 10,29-37). Pode-se concluir que a única garantia de que se entrará no Reino de Deus, que se terá a salvação eterna, é agir com justiça, com amor, se fazer próximo de quem está precisando.
Por isso Jesus acrescenta que vai haver muita dor, tristeza e raiva quando aqueles que acreditavam que tinham a garantia da salvação por pertencer à etnia de Abraão, Isaac e Jacó, ao povo eleito do A.T., se ver excluído. No seu lugar estarão homens e mulher de todos os cantos da terra (norte, sul, leste oeste), pessoas que não pertenciam ao povo de Deus se sentarão com os patriarcas e os profetas no banquete do Reino, porque estes operaram a justiça, amaram com atos concretos quem precisava de sua ajuda. Aqueles serão “lançados fora” porque não agiram com Justiça mas se confiaram apenas nas suas falsas garantias.
Esta parábola foi contada por Jesus para alertar os judeus de sua época sobre as falsas certezas da salvação. Mas quando foi escrita pelo autor do evangelho ela já deve ter assumido outra função, alertar os cristãos que já pertenciam à Igreja há muito tempo que isso não era garantia de salvação: “E assim, há últimos que serão os primeiros, e primeiros que serão últimos” (Lc 13,30). Alguns de nós pode pensar que porque participa das missas dominicais, das catequeses de adultos, ajuda nos trabalhos da Igreja, devolve o dízimo há mais de 20 anos já tem a salvação garantida. Nada disso é certeza de salvação, mas sim a vivencia do amor. Se tudo isso for feito como expressão de caridade e se você se tornar próximo de quem necessita, então você está entrando pela porta estreita. Caso contrário você se parecerá com aqueles que Jesus critica.
Talvez tenhamos uma grande surpresa no último dia quando percebermos que muitos que acreditávamos que seriam condenados estarão no banquete do Reino porque passaram pela porta estreita da justiça, do amor ao próximo; enquanto que vários cristãos tão puritanos serão excluídos porque se confiaram apenas  na sua pertença oficial à Igreja (batizado, crisma, 1a comunhão) e em alguns atos religiosos (missas dominicais, catequese etc.) mas se esqueceram de se fazer próximo de quem precisava, especialmente se estes eram diferentes de si (pecadores, prostitutas, ateus, criminosos etc.).
Entremos, então, pela porta estreita do amor.




Pe. Emilio Cesar
Pároco de Guaiuba




[1] “Disposição de última vontade pela qual o testador deixa a alguém um valor fixado ou uma ou mais coisas determinadas” (Houaiss. Dicionário da Língua Portuguesa).

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