sábado, 31 de agosto de 2013

XXII DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C

“Quem se humilha será, será elevado” (Lc 14,11).
Lendo esse evangelho podemos pensar que toda a nossa paróquia segue a risca o ensinamento de Jesus. De fato, quando vamos celebrar uma eucaristia os primeiros bancos ficam vazios, mesmo que existam pessoas atrás de pé. E é com muito sacrifício que conseguimos preenche-los, mas quase sempre sobram lugares vazios na primeira fileira. Parece que ninguém quer ser o primeiro na nossa comunidade, todos querem ser os últimos!
O sentido da parábola de Jesus, porém, é bem mais profundo. O banquete que Jesus fala é escatológico. Entre a escolha dos lugares por parte dos convidados e a intervenção do dono da casa que coloca uns mais para frente e outros mais para trás existe um salto escatológico entre esta vida e a outra, e no meio está o julgamento universal. A relação não é em primeiro lugar entre um homem (convidado) e outro (dono da casa), mas entre Deus (dono da casa) e um homem (convidado)[1].
Na conclusão da primeira parábola Jesus afirma: “Porque quem se eleva, será humilhado e quem se humilha, será elevado” (Lc 13,11). Precisamos nos perguntar o que significa humilhar-se para Jesus. Logo nos vem à mente uma passagem de Mateus: “(...) Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29). Como Jesus é humilde se ele não conheceu pecado? Logo, não poderia humilhar-se diante de Deus e do próximo reconhecendo suas fraquezas. Mas ele é humilde no sentido mais puro do termo porque ele se humilhou, se abaixou. Sendo Deus não usou de seu direito de ser tratado como tal mas se despojou, tomando a forma de escravo e reconhecido como homem abaixou-se, tornando-se obediente até a morte, à morte sobre uma cruz (cf. Fil 2,6-8). No seu ministério, símbolo maior deste descer de sua condição para servir os seus é o lava-pés (cf. Jo 13,1-15).
Jesus humilhou-se descendo de sua divindade e nós, de onde deveríamos descer? Precisamos descer do pedestal que sem querer nos colocamos devido ao nosso coração orgulhoso, à presunção, à ira ou à falsa humildade. Podemos até pensar e dizer que somos pecadores e fracos mas não permitimos que ninguém fale mal de nós, ficamos com raiva, indignados. Não nos aventuramos nem sequer a sentar nos primeiros bancos da Igreja com medo de alguém pedir para sair e assim ficarmos profundamente humilhados diante dos homens. Precisamos descer deste pedestal e reconhecer diante de Deus, de nós mesmos e do irmão que somos orgulhosos e por isso, pensamos apenas em nós mesmos.
Depois da confissão dos próprios pecados, o segundo passo da humildade é confiar inteiramente em Deus, como uma criança de colo nos braços de sua mãe (cf. Mt 18, 1-4), como os pobres do Senhor do Antigo Testamento (cf. Sf 2,3; 3,11-12). Esta confiança se expressa principalmente pela oração: “faça-se em mim segundo a tua vontade”; “não seja feita a minha mas a tua vontade”. Como, porém, reconhecer que esta humildade é verdadeira?
A prova de fogo da humildade, e este é o terceiro passo, é a minha maneira de me relacionar com o próximo. João já falava sobre isso na sua primeira carta em relação ao amor: como posso dizer que amo a Deus a quem não vejo, se não consigo amar meu irmão a quem vejo (cf. 1Jo 4,20)? Como posso dizer que sou humilde em relação a Deus, se não sou em relação ao meu próximo? O Senhor nos oferece o irmão para nos humilharmos, ou seja para servi-lo em suas necessidades mais urgentes. Mesmo que eu não goste dele, que ele seja um pecador, ou me cause repulsa. Não importa os próprios sentimentos, o que importa é o amor que é antes de tudo ações concretas e gratuitas. Por isso Jesus nos alertou na segunda parábola, quando dermos um banquete convidemos aqueles que não podem nos retribuir, ou seja, quando fizer o bem a outra pessoa (humilhar-se) não espere retribuição dela, faça gratuitamente, Deus irá lhe retribuir fazendo-se sentar bem perto de si no banquete escatológico.

Pe. Emilio Cesar
Pároco de Guaiuba




[1] Cf. Raniero Cantalamessa, La parola e la vita. Riflessioni sulla Parola di Dio delle Domeniche e delle feste dell’anno C. 9a Ed. Roma: Città Nuova Editrice, 2001, p. 327-328. Não só esta ideia mas toda a homilia foi inspirada neste capítulo do livro do Pe. Raniero Cantalamessa.

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