sexta-feira, 8 de novembro de 2013

XXXII DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C


“Deus não é um Deus dos mortos, mas dos vivos” (Lc 20, 38).

O evangelho de hoje fala da ressurreição dos mortos, um tema polêmico na época de Jesus e ainda hoje. Alguns saduceus se aproximaram do Mestre para ridicularizar sua crença na ressurreição com uma história criada a partir da lei do levirato[1]. Essa norma dizia que se um homem se casasse com uma mulher e morresse antes de deixar um filho, seu irmão deveria tomá-la como esposa e o primeiro filho que tivesse seria considerado do falecido (cf. Dt 25,5-10; Gn 38,8). Isso garantiria a descendência e que suas propriedades continuariam na família. Se esta situação tivesse acontecido entre uma mulher e sete irmãos, na ressurreição ela seria esposa de quem? Perguntou um saduceu.

O grupo dos saduceus só aceitavam a Lei escrita (primeiros cinco livros da Bíblia), eram ligados às famílias sacerdotais e ao templo de Jerusalém e não aceitavam a ressurreição dos mortos, por isso queriam caçoar de Jesus. A história que eles contam mostra uma ideia muito materialista da ressurreição, como se essa fosse um retorno à vida terrena, ou como se a realidade futura se regesse segundo nossas leis: procriação, envelhecimento, morte etc.
Jesus fala claramente que a ressureição deve ser pensada de uma maneira nova: “são iguais aos anjos, serão filhos de Deus” (Lc 20,36). Uma vez um fiel me procurou dando uma interpretação muito estranha dessa passagem. Alguém tinha lhe ensinado, e ele passava a ideia adiante, que na vida futura nós não iríamos mais conhecer quem foi nossa mãe, pai, irmãos, esposa, esposo... Tudo seria apagado da nossa memória e seríamos anjos[2]. Nada mais errado para a nossa fé. É verdade que não estaremos mais sob a lei do envelhecimento, nem do espaço, ou do tempo; veremos Deus face a face, o que nos dará uma alegria inefável. Mas a nossa memória não se apagará, a nossa história será transfigurada juntamente conosco e reconheceremos todos aqueles com quem nos relacionamos sobre a terra, isso será um acréscimo na alegria experimentada no céu. Fico imaginando como será grande a alegria de uma mãe ao reencontrar seu filho na glória celeste.
Toda missa dominical nós rezamos: “Creio na ressurreição da carne”. O que isso significa?
A Igreja Católica acredita que da mesma forma que Cristo ressuscitou dos mortos, e vive para sempre, assim também, depois da morte, os justos viverão para sempre com Cristo ressuscitado e que Ele os ressuscitará no último dia (cf. Rm 8,11). Dizer “creio na ressurreição da carne", é acreditar que após a morte não haverá somente a vida da alma imortal, mas que mesmo os nossos "corpos mortais" (Rm 8,11) readquirirão vida[3].
Alguns que me escutam podem estar pensando, essa é minha única esperança. Quando morrer vou parar de sofrer e começar a ser feliz. Um dos segredos da fé cristã é que essa ressurreição inicia já aqui na terra. O evangelho já dizia, “Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos”  (Lc 20,37), não só para quem já morreu (Abraão, Isaac e Jacó) mas também para quem está vivo.
A bem-aventurança da ressurreição começa aqui na terra! Quando alguém ouve as palavras de Jesus e crê nele passa da morte para a vida (Jo 5,24), deixa de viver uma vida sem rumo certo, medíocre, morta, e começa a viver plenamente; porque vive com o Senhor e ele é a Vida (cf. Jo 11,25-26; At 3,15; 5,20).
Crer não é apenas dizer: “Eu creio”, mas é confiar naquele que morreu e ressuscitou para nos salvar e viver a partir desse princípio em uma comunidade cristã.  A vida de muitos que estão hoje aqui não é nada fácil. Existem dificuldades na família, no trabalho, nas amizades... sinais de morte. Quem acredita realmente em Jesus assume duas atitudes fundamentais: 1) deixa de lado tudo aquilo que leva à morte e pode afastar da Vida (a mentira, o roubo, o adultério, a violência, as superstições...); 2) leva Deus para aquelas situações de morte com o objetivo de transformá-las em instrumento de ressurreição e vida (pobreza, dificuldade com o marido, vizinha ou filhos, falta de emprego etc). Essa é a experiência que muitas pessoas que fazem parte dos grupos de catequese de adultos têm experimentado e testemunhado.
Na missa de hoje desejo convidá-lo mais uma vez a fazer essa experiência de ressurreição que muitos já fizeram. Aproxime-se mais da sua Igreja através de um grupo de catequese de adultos, ou um movimento, e viva essa aventura da fé.


Pe. Emilio Cesar
Pároco de Guaiuba




[1] Levir é uma palavra da língua latina usada para “cunhado”.
[2] O texto fala que seremos como anjos.
[3] Cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 988-990.

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