sábado, 4 de janeiro de 2014

MISSA DA EPIFANIA DO SENHOR



Is 60,1-6
Ef 3,2-3a.5-6
Mt 2,1-1

"Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram" (Mt 2,11).

A solenidade da Epifania nasceu no Oriente e é anterior à celebração do Natal, surgida no Ocidente. O termo é de origem grega, significa a entrada poderosa na notoriedade e referia-se à chegada de um rei ou de um imperador[1]. Inicialmente, no Oriente, ela tem o mesmo conteúdo da festa do Natal do Senhor, a sua "aparição" na carne. Quando ela foi levada para o Ocidente assume um conteúdo novo: a revelação de Jesus ao mundo pagão, simbolizado pelos Magos. A esta recordação unia-se ainda o batismo do Senhor (cf. Mc 3,13-17 e par.) e o primeiro milagre em Caná (cf. Jo 2,1-12)[2].

A primeira leitura é uma poesia de conteúdo profundamente consolador para a comunidade que retornava do exílio[3]: "Levanta-te, acende as luzes, Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor" (Is 60,1). Jerusalém é apresentada como a luz porque nela habita o Senhor com Sua glória. Ao ver tamanha glória, todos os seus filhos retornam trazendo riquezas para presenteá-la (v. 4-5). Os povos pagãos e os reis que se encontravam nas trevas serão iluminados pelo mesmo esplendor (v. 3) e também irão visitar a cidade da luz levando seus presentes: ouro e incenso, e proclamando a glória do Senhor.

O evangelho parece uma explicação narrativa de como esta profecia de Isaías se cumpriu, especialmente em relação aos não judeus. Os magos do Oriente, que nós chamamos de reis, eram homens sábios que procuravam a verdade estudando as estrelas. Não eram judeus, e talvez nem fossem monoteístas, mas tinham uma retidão de coração: humildemente buscavam a verdade e o bem. Deus, então, se manifesta a eles através de um astro e lhes diz: O rei dos judeus nasceu, vão homenageá-lo (cf. Mt 2,1-2). Eles deixam sua cidade, seu conforto e começam uma longa viagem. Ao chegarem em Jerusalém, vão direto ao palácio do rei, mas descobrem que o menino não estava lá. Auxiliados pelos sumos sacerdotes e os mestres da lei, descobrem um profecia das escrituras dos judeus que dizia: "E tu Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor (...) porque de ti sairá um chefe que vai ser o pastor de Israel, o Meu povo" (Mt 2,6; Mq 5,1). Os que eram versados na Palavra sabiam de tudo isso, mas nenhum se dignou a sair do conforto de seu palácio, ou sua casa, e ir ao encontro do verdadeiro rei dos judeus juntamente com os sábios. Aqueles três estrangeiros partem sozinhos e continuam seguindo a estrela luminosa, que para no lugar onde estava o menino, a Luz do mundo. Isso lhes dá uma grande alegria e, sem se importarem com a simplicidade da casa e da família, ajoelham-se diante do menino e o adoram. E oferecem-lhe presentes trazidos da terra deles, como Isaías tinha profetizado (cf. cap. 60,6): ouro, incenso e mirra.
Que mistério é esse que a Igreja celebra? A manifestação divina aos não judeus (=pagãos), àqueles que não eram chamados povo de Deus, não eram destinatários diretos da aliança. Agora se percebe que eles também são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo (Igreja), são associados à mesma promessa em Jesus Cristo (cf. Ef 3,6). A nossa alegria em celebrar esta solenidade é que nós, pagãos (ou seja, não descendentes de judeus), podemos desfrutar do cumprimento das promessas feitas ao povo do Antigo Testamento (judeus). Agora somos povo de Deus a pleno direito, graças ao Menino que nasceu.

Quantas mensagens podemos tirar dessas leituras: 1) Deus manifesta Sua vontade a homens que têm uma fé diferente daquela que Ele mesmo revelou no Antigo Testamento, pessoas que na sua limitação buscam com humildade a verdade e o bem. São estes, juntamente com as Escrituras, que testemunham a verdade aos sacerdotes e doutores da lei no Palácio de Herodes. 2) Mas os homens versados na Lei e que deveriam ser os primeiros a se colocarem em caminho para adorar e presentear o menino-rei, permanecem acomodados em suas mansões, casas ou igrejas, como alguns ministros do evangelho. 3) O poderoso Herodes e a grandiosa Jerusalém ficam perturbados com a Boa-nova, como ainda hoje acontece com certos políticos e intelectuais! Temem perder seu lugar de prestígio, honra e poder. Temem que sua ideia dominante ou sua autoridade seja ameaçada. 4) Apesar de Jesus ter escolhido se unir à nossa humanidade de forma indissociável e a Igreja fazer parte deste mistério como seu corpo, Deus continua agindo e falando fora dos muros desta instituição. E precisamos reconhecer que alguns homens e mulheres não católicos, não cristãos, não monoteístas e até ateus, têm sido grandes instrumentos da verdade de Deus para nós católicos. Unamo-nos a eles e adoremos o menino que nasceu para nos dar a paz e a salvação.


Pe. Emilio Cesar
Pároco de Guaiuba



[1] O latim traduz o termo por adventus.
[2] Cf. Augusto Bergamini, Cristo, Festa da Igreja: história, teologia, espiritualidade e pastoral do ano litúrgico. 3a Ed., São Paulo: Paulinas, 2004 (Liturgia e participação), p. 224-225.
[3] Cf. BJ 60,1, nota Z.

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