Is
60,1-6
Ef
3,2-3a.5-6
Mt
2,1-1
"Ajoelharam-se diante dele, e o
adoraram" (Mt 2,11).
A solenidade da Epifania nasceu no Oriente e é anterior à celebração
do Natal, surgida no Ocidente. O termo é de origem grega, significa a entrada
poderosa na notoriedade e referia-se à chegada de um rei ou de um imperador[1].
Inicialmente, no Oriente, ela tem o mesmo conteúdo da festa do Natal do Senhor,
a sua "aparição" na carne. Quando ela foi levada para o Ocidente
assume um conteúdo novo: a revelação de Jesus ao mundo pagão, simbolizado pelos
Magos. A esta recordação unia-se ainda o batismo do Senhor (cf. Mc 3,13-17 e
par.) e o primeiro milagre em Caná (cf. Jo 2,1-12)[2].
A primeira leitura é uma poesia de conteúdo profundamente
consolador para a comunidade que retornava do exílio[3]:
"Levanta-te, acende as luzes,
Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor"
(Is 60,1). Jerusalém é apresentada como a luz porque nela habita o Senhor com
Sua glória. Ao ver tamanha glória, todos os seus filhos retornam trazendo
riquezas para presenteá-la (v. 4-5). Os povos pagãos e os reis que se encontravam nas trevas serão iluminados pelo mesmo esplendor (v. 3) e também irão visitar a
cidade da luz levando seus presentes: ouro
e incenso, e proclamando a glória do
Senhor.
O evangelho parece uma explicação narrativa de como esta
profecia de Isaías se cumpriu, especialmente em relação aos não judeus. Os
magos do Oriente, que nós chamamos de reis, eram homens sábios que procuravam a
verdade estudando as estrelas. Não eram judeus, e talvez nem fossem
monoteístas, mas tinham uma retidão de coração: humildemente buscavam a verdade
e o bem. Deus, então, se manifesta a eles através de um astro e lhes diz: O rei
dos judeus nasceu, vão homenageá-lo (cf. Mt 2,1-2). Eles deixam sua cidade, seu
conforto e começam uma longa viagem. Ao chegarem em Jerusalém, vão direto ao
palácio do rei, mas descobrem que o menino não estava lá. Auxiliados pelos
sumos sacerdotes e os mestres da lei, descobrem um profecia das escrituras dos
judeus que dizia: "E tu Belém, terra
de Judá, de modo algum és a menor (...) porque de ti sairá um chefe que vai ser
o pastor de Israel, o Meu povo" (Mt 2,6; Mq 5,1). Os que eram versados
na Palavra sabiam de tudo isso, mas nenhum se dignou a sair do conforto de seu
palácio, ou sua casa, e ir ao encontro do verdadeiro rei dos judeus juntamente
com os sábios. Aqueles três estrangeiros partem sozinhos e continuam seguindo a
estrela luminosa, que para no lugar onde estava o menino, a Luz do mundo. Isso
lhes dá uma grande alegria e, sem se importarem com a simplicidade da casa e da
família, ajoelham-se diante do menino e o adoram. E oferecem-lhe presentes trazidos
da terra deles, como Isaías tinha profetizado (cf. cap. 60,6): ouro,
incenso e mirra.
Que mistério é esse que a Igreja celebra? A manifestação
divina aos não judeus (=pagãos), àqueles que não eram chamados povo de Deus,
não eram destinatários diretos da aliança. Agora se percebe que eles também são
admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo (Igreja), são associados à mesma promessa em Jesus Cristo (cf. Ef
3,6). A nossa alegria em celebrar esta solenidade é que nós, pagãos (ou seja,
não descendentes de judeus), podemos desfrutar do cumprimento das promessas
feitas ao povo do Antigo Testamento (judeus). Agora somos povo de Deus a pleno
direito, graças ao Menino que nasceu.
Quantas mensagens podemos tirar dessas leituras: 1) Deus
manifesta Sua vontade a homens que têm uma fé diferente daquela que Ele mesmo
revelou no Antigo Testamento, pessoas que na sua limitação buscam com humildade
a verdade e o bem. São estes, juntamente com as Escrituras, que testemunham a
verdade aos sacerdotes e doutores da lei no Palácio de Herodes. 2) Mas os
homens versados na Lei e que deveriam ser os primeiros a se colocarem em
caminho para adorar e presentear o menino-rei, permanecem acomodados em suas
mansões, casas ou igrejas, como alguns ministros do evangelho. 3) O poderoso
Herodes e a grandiosa Jerusalém ficam perturbados com a Boa-nova, como ainda
hoje acontece com certos políticos e intelectuais! Temem perder seu lugar de
prestígio, honra e poder. Temem que sua ideia dominante ou sua autoridade seja
ameaçada. 4) Apesar de Jesus ter escolhido se unir à nossa humanidade de forma
indissociável e a Igreja fazer parte deste mistério como seu corpo, Deus
continua agindo e falando fora dos muros desta instituição. E precisamos
reconhecer que alguns homens e mulheres não católicos, não cristãos, não
monoteístas e até ateus, têm sido grandes instrumentos da verdade de Deus para
nós católicos. Unamo-nos a eles e adoremos o menino que nasceu para nos dar a
paz e a salvação.
Pe. Emilio Cesar
Pároco de Guaiuba
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