TEMPO DO NATAL
MISSA DO BATISMO DO
SENHOR
Is 42,1-4.6-7
At 10,34-38
Mt 3,13-17
"Este é o meu Filho amado" (Mt 3,17).
Queridos irmão e irmãs em Cristo, esta é a última homilia
que profiro a vocês como pároco deste lugar. No meu coração existe um misto de
tristeza e alegria. Lemos, ouvimos, guardamos e tentamos viver juntos a Palavra
de Deus. Partilhamos o Pão Eucarístico todos os domingos, trabalhamos juntos
para construir uma porção do Reino de Deus neste município e agora precisamos
nos despedir. Nestes últimos dias muitas pessoas têm me procurado para
partilhar, agradecer e declarar que vão sentir saudades. A maioria delas
partilham o quanto cresceram na fé, na compreensão da Palavra de Deus, na vida
em comunidade. Esses são os motivos de alegria, acreditar que colaborei com o
Senhor para que vocês crescessem. A tristeza fica por conta da despedida que
precisamos realizar hoje. As leituras de hoje, porém, têm algo a nos ensinar
também nesta situação.
Na primeira leitura Isaias anuncia um “servo sofredor” muito
amado pelo Senhor. Ele recebe Seu Espírito e promove a justiça misericordiosa
sobre todas as nações. Não levanta a voz, não quebra a vara que estava rachada,
não apaga o pavio que fumegava. Ele é luz das nações. No tempo de Jesus alguns
esperavam um messias justiceiro, que viesse logo separar os bons dos maus (cf.
Mt 11,2-6), mas todos os evangelistas o apresentam aos moldes desta passagem,
manso e humilde.
Trinta anos após a visita dos Magos, quando as palavras (rhema) deles, bem como as de todas as outras testemunhas do nascimento do
Senhor, estavam guardadas apenas no coração de poucas pessoas (especialmente de
Maria), Deus manifesta novamente a identidade e missão de seu Filho
publicamente. Nestas três décadas Jesus permaneceu no silêncio e escondido. Um
homem como qualquer outro. Tanto foi assim que ele se colocou tranquilamente na
fila dos penitentes que queriam vivenciar o rito penitencial de João (cf. Lc
3,3). Ninguém lhe reclamou: “Tu, Senhor, não precisas estar nesta fila, não
tens pecado!” Ele era mais um na multidão, assumindo nossos pecados. Apenas o
Batista reconhece a grandeza daquele homem, mas se deixa convencer pela
necessidade de cumprir toda a justiça, ou seja, de submeter-se à vontade
salvífica de Deus. Neste sentido o batismo de Jesus é a aceitação e a
inauguração da sua missão de Servo sofredor, e antecipação da sua paixão e
morte pelos nossos pecados (cf. Cat. 536-537).
Depois do batismo, quando Jesus tinha saído das águas (não
foi o batismo de João que provocou isso porque era apenas um rito penitencial),
o céu se abriu e ele viu o Espírito de Deus descendo e pairando sobre si[1]. O
silêncio de trinta anos é rompido clamorosamente não mais com uma estrela mas
com a própria voz de Deus: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus o meu
agrado” (Mt 3,17. Cf. Is 42,1). O salmo 28 nos ajuda a contemplar: é a voz do
Senhor sobre as águas, é a voz do Senhor com poder, sua voz no trovão reboando,
não tanto fora quanto dentro dos corações dos homens e mulheres. Aqui se
encontra o ápice da epifania, Deus revela quem é Jesus a todos.
É essa voz de Deus que continua ressoando através da voz de
Pedro na casa de pagão Cornélio[2],
como ouvimos na segunda leitura. Ela, poderosamente, ecoa nos corações dos
presentes: “Vós sabeis o que aconteceu (...): como Jesus de Nazaré foi ungido
por Deus com o Espírito Santo e com poder. Ele andou por toda a parte, fazendo
o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio; porque Deus
estava com ele” (At 10,37-38). Essas palavras levaram a todos os presentes
aderirem a Cristo e a se tornarem discípulos dele através do batismo.
A voz do céu ou de Pedro nos apresenta o Filho amado de Deus
e nos convida a uma adesão de fé, confiar inteiramente naquele que foi enviado
para nos salvar. Constatamos o dúplice movimento próprio da epifania: Deus vai
ao encontro do homem com sua revelação (estrela dos Magos, voz do céu, pregação
de Pedro), mas também o homem deve ir ao encontro de Deus com a sua fé[3].
Esta é a maior alegria que vocês podem me dar, o melhor
presente: uma adesão a Cristo, uma fé autêntica e profunda que provoca uma
mudança na própria vida e no que está em torno. Sei que fiz algumas coisas
materiais nesta paróquia:
·
Reforma do CCP, da casa paroquial, do salão, da
capela de S. Luzia, da casa de Itacima, da capela de S. Jerônimo;
·
Compra do terreno do bairro Pinheiro e da
comunidade de S. Luzia;
·
Construção da capela de NS de Fátima na Água
Verde, de S. Pedro no Bom Princípio e de NS das Graças no Saco dos Maias;
·
Terrenos para construção de capelas das
comunidades de Vila Bela, Carrapateira, Pedra d’Água;
·
Organização das finanças.
E outras pastorais:
·
Grupos de catequeses de adulto espalhados em
todas as comunidades da paróquia. São cerca de 30 com aproximadamente 15
pessoas cada;
Mas como já disse, a minha maior alegria, e isso ninguém
pode me tirar, é o que Deus fez no coração de vocês. É a fé mais autêntica e
ativa que nasceu em vocês. Que Deus os abençoe e continuem firmes na caminhada.
Eu estarei sempre com vocês com minhas orações. Um forte abraço afetivo,
fraterno, paterno e filial. Não sou apenas pai de vocês pelo meu ministério
presbiteral, sou também irmão pela graça do batismo e filho. Sim, sou filho de
vocês porque aqui vocês me ensinaram tantas coisas, especialmente a
simplicidade da vida e como ser um pastor apesar das minhas limitações e
fraquezas. Um abraço a todos.
Pe. Emilio Cesar
Última homilia como pároco de Guaiuba
[1] O
evangelho de Mateus nos dá a impressão que só Jesus viu o Espírito Santo descer
sobre si (cf. Mt 3,16), como se ele tivesse necessidade de uma confirmação que
fosse o Messias. Foi isso que alguns teólogos afirmaram. É possível que nosso
Senhor, enquanto homem, tenha crescido conhecimento da sua missão e identidade.
Nossa fé católica, porém, é ancorada na consciência que Jesus tinha de si como
Messias e Filho de Deus. Ele nos salva porque é Filho, ele faz de nós filhos
adotivos de Deus porque sendo Seu Filho por natureza se fez nosso irmão. A
consciência do Senhor Jesus é manifestada em tantas palavras e ações do
evangelho[1], basta
pensar na resposta que deu a Maria e José aos doze anos de idade: “Por que me
procuráveis? Não sabíeis que eu devo estar na
casa de Pai?” (Lc 2,49). Seria possível, então, descobrir qual o momento
exato que Jesus atingiu a plenitude desta consciência? (cf. Raniero Cantalamessa, La
Parola e la vita. Riflessioni sulla Parola di Dio delle Domeniche e delle feste
dell’anno A. 12a Ed., Roma: Città Nuova 2004, p. 56).
[2] Essa expressão é utilizada da mesma maneira
que foi na homilia passada. Significa “não judeus”, como os Magos do oriente.
[3] Raniero Cantalamessa, La
Parola e la vita. Riflessioni sulla
Parola di Dio delle Domeniche e delle feste dell’anno A. 12a Ed., Roma:
Città Nuova 2004, p. 57.
Aonde fores que sua homilia chegue até nos. Deus o abençoe! Espero encontrá-lo dia 24 em Messejana.
ResponderExcluir