At 12,1-11
2Tm 4,6-8.17-18
Mt 16,13-19
Caros irmão e irmãs,
Hoje nós celebramos o martírio de S. Pedro e S.
Paulo que aconteceu na cidade de Roma no ano de 64. Pedro teria sido crucificado
de cabeça para baixo, juntamente com dezenas de outros cristãos; e Paulo, por
ser cidadão romano, sofreu uma morte menos dolorosa e mais rápida, a
decapitação. Esta perseguição e assassinato, segundo o historiador Tácito[1], foi realizada por Nero como uma forma de
punir os cristãos pelo incêndio de
Roma. Na verdade, indica o historiador, o
incêndio parece ter sido provocado pelo próprio imperador que queria reformar a
cidade[2] mas diante da revolta do povo que
perdeu propriedades e familiares precisou encontrar um bode expiatório, os
cristãos.
Através destes dois apóstolos a Igreja celebra hoje
a sua apostolicidade: “Creio na Igreja, uma, santa, católica, apostólica”.
Para entender o que significa isso precisamos ler a Carta aos Efésios: “Assim,
já não sois mais estrangeiros nem migrantes, mas concidadãos dos santos. Sois
da família de Deus. Vós fostes integrados no edifício que tem como
fundamento os apóstolos e os profetas, e o próprio Jesus como fundamento
principal. É nele que toda construção se ajusta e se eleva para formar o
templo santo no Senhor” (Ef 2,19-21). Pedro e Paulo são o fundamento visível do
edifício espiritual que é a Igreja, os dois últimos elos de uma corrente que
nos une ao próprio Cristo, fundamento principal [3]. Na reflexão de hoje aprofundaremos a
dimensão petrina da apostolicidade da Igreja.
No evangelho ouvimos Jesus perguntar: “E vós quem
dizeis que eu sou?” (Mt 16, 15). Simão responde: “Tu és o Messias, o Filho do
Deus vivo” (Mt 16,16). Estas palavras manifestam a fé da própria Igreja: Jesus
é o Messias esperado e anunciado em todo Antigo Testamento; o Messias é também
o Filho de Deus, aquele que se manifestou vivo e soberano aos onze apóstolos
após sua ressurreição (cf. Mt 28, 18).
Diante de tal confissão Jesus afirma: “Tu és Pedro
(Kefas) e sobre esta pedra (kefas) edificarei a minha Igreja” (v.
18). Para entender profundamente este versículo é preciso voltar a uma passagem
do profeta Isaias: “é por esta razão que assim diz o Senhor Deus: Eis que porei
em Sião uma pedra, uma pedra de granito, pedra angular e preciosa, uma pedra de
alicerce bem firmada: aquele que nela puser a sua confiança não será abalado”
(Is 28,16). Nesta passagem o profeta anuncia que Deus irá colocar em Jerusalém
o fundamento de um novo edifício espiritual, de um novo povo. Esta realidade
nova será salva do poder da morte escatológica (cf. Is 28,15). Ao dar um novo
nome a Simão, Jesus lhe comunica uma missão, a missão de ser esta pedra para o
novo povo que vai surgir. E este povo é chamado pelo Senhor de Igreja (ekklesia),
assembleia convocada por Deus para o culto (cf. Dt 4,10) [4].
É muito interessante perceber que o Senhor fala
da minha Igreja. Não se trata de qualquer grupo de pessoas que
acreditam que Jesus foi um grande líder, mas daquele grupo convocado por Deus
para se tornar a comunidade de salvação. Pedro é o fundamento visível deste
novo povo que se espalhou pelo mundo inteiro. A Igreja católica acredita que
esta missão de Pedro, ser sinal visível de unidade para todas as comunidades
cristãs, continua nos seus sucessores, os bispos de Roma, também chamados
carinhosamente de Papa, papai[5]. Simão Pedro foi o primeiro bispo de Roma
e, com sua morte, parte do ministério dele passou para o segundo bispo da
cidade, Lino (segundo Papa). Depois veio Cleto, Clemente, Sisto, Cornélio,
Cipriano.... João Paulo II, Bento XVI, Francisco. Nosso Papa atual é o 266º
sucessor de Pedro, e ele foi colocado na nossa Igreja por Jesus para confirmar
a nossa fé. Um das características para descobrir que fazemos parte da Igreja
de Jesus é a nossa união efetiva e, se possível, afetiva com o sucessor de
Pedro. Ouvir e seguir o que ele ensina, deixar-se conduzir pelo seu pastoreio
universal.
Jesus promete que o poder do inferno nunca poderá
vencer a Igreja (cf. Mt 16,19). O sentido principal dessa frase é dizer que a
Igreja é um lugar seguro diante das forças da morte, uma comunidade de salvação
diante do mal e da morte eterna. Também quer indicar a duração perpétua desta
comunidade nova, por mais que o mal tente destruí-la isso nunca acontecerá.
“Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o
que tu ligares na terra será ligado no céu; tudo o que tu desligares na terra
será desligado no céu” (Mt 16,19). Para entender o significado das chaves
precisamos novamente ler o profeta Isaias (22,19-22). Eliacim é escolhido para
substituir Sobna como responsável da corte do rei: “Pôr-lhe-ei sobre os ombros
a chave da casa de Davi: quando abrir ninguém fechará; quando fechar ninguém
abrirá” (Is 22,22). Não se trata apenas de um porteiro mas do ministro mais
importante da corte. Assim, o evangelista nos indica que Pedro é constituído
por Cristo como chefe máximo da sua comunidade (minha Igreja), seu
delegado supremo para o governo do novo povo de Deus.
Nas palavras de Jesus não existe identificação
entre a Igreja e o Reino de Deus. Este representa a realidade última e
definitiva; aquela, a Igreja, está no tempo, a caminho da meta final. Pedro tem
em mãos as chaves, isto é, a autoridade para governar a casa de Deus e conduzir
o povo para salvação final do Reino de Deus[6].
“O poder de ‘ligar e desligar’ significa a
autoridade para absolver os pecados, pronunciar juízos doutrinais e tomar
decisões disciplinares na Igreja. Jesus confiou esta autoridade à Igreja pelo
ministério dos apóstolos e particularmente de Pedro, o único ao qual confiou
explicitamente as chaves do Reino” (C.I.C. 553). Essa ação de Pedro encontra
plena confirmação da parte divina, o que ele faz na terra será feito no céu
(cf. Mt 16,19).
Queremos concluir esta reflexão com as palavras do
Pe. Raniero Cantalamessa: A Igreja não é uma sociedade de livres pensadores mas
é a comunidade daqueles que se unem a Pedro na proclamação da fé em Jesus
Cristo. Desde quando foi escrito o capítulo 16 de Mateus, para se estar
verdadeira e plenamente na Igreja, é preciso estar em comunhão com a fé de
Pedro e com a sua autoridade ou, ao menos, estar caminhando para isso. Não se
pode ser Igreja sem Pedro. Isso não significa que precisamos nos apoiar na
personalidade ou no testemunho de vida dele ou de seus sucessores. A história
nos ensina que eles falharam muitas vezes no pastoreio ou no serviço, mas não
na fé. Pedro negou Jesus, outros Papas cometeram pecados grandiosos. Só Cristo
é o pastor que não nos decepciona, só ele é a pedra angular do novo edifício
espiritual, a Igreja (cf. Ef 2,20). Precisamos, porém, estar unidos a Pedro na
proclamação da fé católica[7].
Pe. Emilio Cesar
Pároco de Messejana
[5] Possivelmente provém do Latim "Papa", do Grego πάππας,
uma palavra carinhosa para pai (cf. http://pt.wikipedia.org/wiki/Papa#cite_note-0.
Consulta realizada no dia 30 de junho de 2011 às 23:49)
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