domingo, 27 de julho de 2014

XVII DOMINGO DO TEMPO COMUM


1Rs 3,5.7-12
Rm 8,28-30
Mt 13,44-55

Um homem, cheio de alegria (cf. Mt 13,44).
Continuamos lendo o discurso das parábolas presente no capítulo 13 de Mateus. “O Reino do Céus é como...” Sempre Jesus começa assim. As parábolas do domingo passado falavam do Reino em si mesmo, sua composição (trigo e joio), sua função (fermentar) e seu crescimento inesperado (grão de mostarda). Nas duas primeiras histórias de hoje, aquelas que iremos comentar, Jesus resolveu mostrar o que acontece com o homem e a mulher que encontra o Reino[1].

O que é o Reino de Deus? É difícil responder brevemente a esta pergunta. Já escreveram muitos livros e teses sobre o assunto. Gostaria, porém, de simplificar. Para entender melhor o sentido do vocábulo grego (basileia), ou hebraico (malkut), seria melhor, na tradução para o português, utilizar a palavra “Reinado”, enquanto função de soberania própria do rei[2]. Quando Jesus anuncia o “Reinado dos céus” ele está proclamando que Deus está em agindo na história de uma forma única, como nunca acontecera antes. Ele ensina que o Reinado está próximo (cf. Mc 1,15), que se aproxima (cf. Mt 12,28) e que “está no meio de vós” (cf. Lc 17,21). No seu núcleo essencial, o Reinado de Deus torna-se presente em Jesus e por ele[3] na medida que os homens e mulheres tornam-se seus discípulos, discípulos do Reinado dos Céus exercido pelo Mestre (cf. Mt 13,52).
Na primeira parábola Jesus compara o Reinado de Deus a um tesouro escondido em um campo. Um homem estava trabalhando ou passando por ali e sem querer encontra o tesouro. Ele vai, vende tudo o que tem e compra aquele terreno para que o tesouro se torne seu. Gostaria de chamar a atenção para o estado de ânimo daquele varão quando foi vender todos os seus bens: “cheio de alegria”. Muitos comentaristas salientam a necessidade moral de vender tudo, deixar tudo, renunciar a tudo para possuir o Reinado. Os ouvintes sentem um grande peso nas costas e saem tristes após o comentário dessa palavra porque possuem coisas, situações e pessoas valiosas.
Nessa ocasião nos lembramos da história de um jovem rico que foi procurar Jesus para saber o que precisava fazer para “ter a vida eterna” (cf. Mt 19,16ss), no decorrer da história percebemos que seu desejo era o de entrar no Reinado de Deus. Depois de um diálogo inicial, Jesus lhe revelou o que estava lhe faltando para “ser perfeito”[4]: vender tudo, dar aos pobres e depois segui-lo (cf. Mt 19,21). O moço saiu pesaroso ao ouvir essas palavras porque possuía muitos bens e, eu acrescentaria, ainda não tinha descoberto que Jesus valia muito mais que todos os seus bens.
Outro acontecimento do Novo Testamento que ilustra melhor o que o Mestre queria ensinar com essa história. É o encontro de Paulo com Jesus no caminho de Damasco. O próprio apóstolo dos gentios, na carta aos Filipenses, escreveu que antes de ser alcançado pelo Senhor (cf. Fil 3,12) era possuidor de um tesouro incalculável para um judeu praticante: circuncidado ao oitavo dia, da raça de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu filho de hebreu; quanto à lei, fariseu; quanto ao zelo, perseguidor da Igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível (cf. Fil 3, 5-6). Mas, a partir do momento que ele conheceu Jesus Cristo, considerou tudo isso lixo[5]. Para esse homem que teve um encontro pessoal com o Senhor e seu Reinado, deixar tudo o que tinha não foi tão difícil como foi para o jovem rico do evangelho. Durante a sua vida inteira ele foi “vendendo” tudo e investindo no Reinado de Deus: família, trabalho, tempo, realizações... Mas ele fez isso com alegria, como o homem que encontrou um tesouro no campo.
A segunda parábola é parecida com a primeira. O Reinado dos céus é como um comprador que procura pérolas preciosas. O homem, porém, parece ser de uma classe social mais elevada porque colecionava ou era comerciante de pérolas. Quando ele encontra uma que vale mais que todos os seus bens, vende tudo para compra-la. Foi uma decisão dele, foi um investimento para toda a vida que realizou sem amargura e sem ser pressionado por ninguém. Algumas pessoas que estão procurando um sentido para suas vidas (ateus, prostituas, adúlteros, agnósticos etc.) quando encontram Jesus conseguem deixa-lo exercer o seu reinado na própria vida com muito mais facilidade que outras que desde criança vivem na Igreja. Eles vendem tudo com alegria e determinação, e investem no seguimento de Jesus através do seu reinado presente na Igreja (cf. Lc 18,29 e Mt 19,29).
Você já descobriu o tesouro escondido no campo da sua vida? Ou encontrou a pérola mais preciosa do que tudo o que você possui?


Pe. Emilio Cesar
Pároco de Messejana




[1] [1] Cf. Raniero Cantalamessa, La Parola e la vita. Riflessioni sulla Parola di Dio delle Domeniche e delle feste dell’anno A. 12a Ed., Roma: Città Nuova 2004, p. 211.
[2] Cf. Joseph Ratzinger, Jesus de Nazaré. Do batismo do Jordão à transfiguração. São Paulo: Planeta do Brasil 2007, p. 64.
[3] Cf. Joseph Ratzinger, Jesus de Nazaré. Do batismo do Jordão à transfiguração. São Paulo: Planeta do Brasil 2007, p. 68.
[4] O judeu perfeito é aquele que se torna discípulo de Jesus. Lembremos que a perfeição de Deus é a misericórdia (cf. Mt 5,48 e Lc 6,36).
[5] A Bíblia de Jerusalém traduz por “esterco”.

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