1Rs 3,5.7-12
Rm
8,28-30
Mt 13,44-55
Um homem, cheio de
alegria (cf. Mt 13,44).
Continuamos lendo o discurso das parábolas presente no
capítulo 13 de Mateus. “O Reino do Céus é como...” Sempre Jesus começa assim.
As parábolas do domingo passado falavam do Reino em si mesmo, sua composição
(trigo e joio), sua função (fermentar) e seu crescimento inesperado (grão de
mostarda). Nas duas primeiras histórias de hoje, aquelas que iremos comentar,
Jesus resolveu mostrar o que acontece com o homem e a mulher que encontra o
Reino[1].
O que é o Reino de Deus? É difícil responder brevemente a
esta pergunta. Já escreveram muitos livros e teses sobre o assunto. Gostaria,
porém, de simplificar. Para entender melhor o sentido do vocábulo grego (basileia), ou hebraico (malkut), seria melhor, na tradução para
o português, utilizar a palavra “Reinado”, enquanto função de soberania própria
do rei[2]. Quando
Jesus anuncia o “Reinado dos céus” ele está proclamando que Deus está em agindo
na história de uma forma única, como nunca acontecera antes. Ele ensina que o
Reinado está próximo (cf. Mc 1,15), que se aproxima (cf. Mt 12,28) e que “está
no meio de vós” (cf. Lc 17,21). No seu núcleo essencial, o Reinado de Deus
torna-se presente em Jesus e por ele[3] na
medida que os homens e mulheres tornam-se seus discípulos, discípulos do
Reinado dos Céus exercido pelo Mestre (cf. Mt 13,52).
Na primeira parábola Jesus compara o Reinado de Deus a um
tesouro escondido em um campo. Um homem estava trabalhando ou passando por ali
e sem querer encontra o tesouro. Ele
vai, vende tudo o que tem e compra aquele terreno para que o tesouro se torne
seu. Gostaria de chamar a atenção para o estado de ânimo daquele varão quando
foi vender todos os seus bens: “cheio de alegria”. Muitos comentaristas
salientam a necessidade moral de vender tudo, deixar tudo, renunciar a tudo
para possuir o Reinado. Os ouvintes sentem um grande peso nas costas e saem
tristes após o comentário dessa palavra porque possuem coisas, situações e
pessoas valiosas.
Nessa ocasião nos lembramos da história de um jovem rico que
foi procurar Jesus para saber o que precisava fazer para “ter a vida eterna”
(cf. Mt 19,16ss), no decorrer da história percebemos que seu desejo era o de entrar
no Reinado de Deus. Depois de um diálogo inicial, Jesus lhe revelou o que
estava lhe faltando para “ser perfeito”[4]: vender
tudo, dar aos pobres e depois segui-lo (cf. Mt 19,21). O moço saiu pesaroso ao
ouvir essas palavras porque possuía muitos bens e, eu acrescentaria, ainda não
tinha descoberto que Jesus valia muito mais que todos os seus bens.
Outro acontecimento do Novo Testamento que ilustra melhor o
que o Mestre queria ensinar com essa história. É o encontro de Paulo com Jesus
no caminho de Damasco. O próprio apóstolo dos gentios, na carta aos Filipenses,
escreveu que antes de ser alcançado pelo Senhor (cf. Fil 3,12) era possuidor de
um tesouro incalculável para um judeu praticante: circuncidado ao oitavo dia,
da raça de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu filho de hebreu; quanto à lei,
fariseu; quanto ao zelo, perseguidor da Igreja; quanto à justiça que há na lei,
irrepreensível (cf. Fil 3, 5-6). Mas, a partir do momento que ele conheceu
Jesus Cristo, considerou tudo isso lixo[5].
Para esse homem que teve um encontro pessoal com o Senhor e seu Reinado, deixar
tudo o que tinha não foi tão difícil como foi para o jovem rico do evangelho.
Durante a sua vida inteira ele foi “vendendo” tudo e investindo no Reinado de
Deus: família, trabalho, tempo, realizações... Mas ele fez isso com alegria,
como o homem que encontrou um tesouro no campo.
A segunda parábola é parecida com a primeira. O Reinado dos
céus é como um comprador que procura pérolas preciosas. O homem, porém, parece
ser de uma classe social mais elevada porque colecionava ou era comerciante de
pérolas. Quando ele encontra uma que vale mais que todos os seus bens, vende
tudo para compra-la. Foi uma decisão dele, foi um investimento para toda a vida
que realizou sem amargura e sem ser pressionado por ninguém. Algumas pessoas que
estão procurando um sentido para suas vidas (ateus, prostituas, adúlteros,
agnósticos etc.) quando encontram Jesus conseguem deixa-lo exercer o seu
reinado na própria vida com muito mais facilidade que outras que desde criança
vivem na Igreja. Eles vendem tudo com alegria e determinação, e investem no seguimento
de Jesus através do seu reinado presente na Igreja (cf. Lc 18,29 e Mt 19,29).
Você já descobriu o tesouro escondido no campo da sua vida? Ou
encontrou a pérola mais preciosa do que tudo o que você possui?
Pe. Emilio Cesar
Pároco de Messejana
[1]
[1] Cf. Raniero Cantalamessa, La Parola e la vita. Riflessioni sulla Parola di Dio delle
Domeniche e delle feste dell’anno A. 12a Ed., Roma: Città Nuova 2004, p.
211.
[2]
Cf. Joseph Ratzinger, Jesus de Nazaré. Do batismo do Jordão à
transfiguração. São Paulo: Planeta do Brasil 2007, p. 64.
[3]
Cf. Joseph Ratzinger, Jesus de Nazaré. Do batismo do Jordão à
transfiguração. São Paulo: Planeta do Brasil 2007, p. 68.
[4]
O judeu perfeito é aquele que
se torna discípulo de Jesus. Lembremos que a perfeição de Deus é a misericórdia
(cf. Mt 5,48 e Lc 6,36).
[5]
A Bíblia de Jerusalém traduz
por “esterco”.
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