Is
55,1-3
Rm 8,35.37-39
Mt 14,13-21
Vós que estais com
sede vinda às águas (cf. Is 55,1).
Não foi à toa que a Igreja colocou como primeira leitura de
hoje essa passagem de Isaias. Ela oferece a chave interpretativa para o evangelho:
todos os que estão com sede venham às águas e bebam, quem tem fome venha e se
sacie gratuitamente. A própria profecia explica qual a natureza da sede e da
fome que Deus irá prover (cf. Is 55, 3).
Os homens e mulheres têm sede e fome de paz, serenidade,
alegria e felicidade. Investem trabalho, tempo, dinheiro, amizades para
conseguir saciar-se mas, geralmente, sem êxito. Deus questiona essa busca
inútil (cf. Is 55,2) e convida à satisfação completa através da escuta da Sua
Palavra: “Inclinai vosso ouvido e vinde a mim, ouvi e tereis vida” (Is 55,3). É
preciso ter coragem de reconhecer que nós também estamos nesta busca
desenfreada pela vida, mas muitas vezes de forma errada. Voltemo-nos para a
Palavra que o Senhor nos dirige como alimento verdadeiro.
Na segunda leitura,
S. Paulo nos diz qual é o conteúdo essencial dessa Palavra: O amor de Deus por
nós que nos une a Ele: “Quem nos separará do amor de Cristo?” (Rm 8,35). Nada
poderá nos separar do amor de Deus por nós, manifestado pela vida, ação e palavra
de Cristo Jesus (cf. Rm 8,39). Paulo esqueceu de dizer nessa passagem, mas nós
podemos completar, que apenas a própria pessoa com sua decisão, seu “não”, pode
se apartar dessa comunhão de amor. Lembremos, porém, que a indiferença ou pouco
caso a Sua palavra já é uma negativa que Lhe damos.
No evangelho encontramos Jesus se dirigindo para um lugar
deserto após saber a notícia da morte de João Batista. Uma indicação do
evangelista que o Mestre tinha a intensão de ficar só, talvez para rezar. Mas
ao chegar ao local foi surpreendido por uma multidão de pessoas que já tinha
experimentado sua autoridade (exousia)
através dos milagres (cf. Mt 9,6) e da pregação (cf. Mt 7,28). Ele tinha algo
para oferecer àqueles homens e mulheres que estavam com sede e fome de felicidade
e vida.
O evangelista diz que Jesus foi tomado de compaixão. Deixou
de lado seu plano original e começou curar a muitos. Marcos afirma que o
Messias também se dedicou ao ensinamento (cf. Mc 6,34). Após uma jornada,
imaginamos que tenha sido cansativa porque estavam num lugar afastado, aquela
multidão deveria estar fome de alimento material, por isso os discípulos
sugeriram ao Mestre de despedi-la (cf. Mt 14,15). Um grande número de pessoas
com fome num lugar deserto! Isso nos faz lembrar imediatamente de um
acontecimento do Antigo Testamento. O povo que Deus tirou da escravidão do
Egito estava no deserto com fome e sem comida. O Senhor, então, envia o maná – chamado
pelo evangelista João de pão do céu – e sacia sua fome (cf. Ex 16; Nm 11).
Jesus age como seu Pai e sacia a fome do povo, ele é verdadeiramente o Senhor.
“Dai-lhes vós mesmo de comer” (Mt 14,16). Os verdadeiros
discípulos de Jesus não podem pensar que basta oferecer ao povo o alimento
espiritual. Se ele tem fome material e não tem o que comer é preciso ir ao
encontro dessa necessidade. Tiago nos ensina:
Imaginai que um irmão ou uma irmã não têm o que vestir
e que lhes falta a comida de cada dia; se então algum de vós disser a eles:
“Ide em paz, aquecei-vos” e “Comei à vontade”, sem lhes dar o necessário para o
corpo, que adianta isso? (Tg 2,15-16).
Os discípulos só tinham cinco pães e dois peixes. Mas o que
era isso para tanta gente!? “Trazei-os aqui” (Mt 14,18), pediu Jesus. O milagre
começou com a partilha de quem tinha trazido o que comer[1].
Jesus tomou essa oferta, ergueu os olhos para o céu, deu graças a Deus, partiu e entregou a seus discípulos para que distribuíssem com a multidão que estava sentada (cf. Mt 14,19). Esta
é a dinâmica da eucaristia: nós oferecemos o pouco que temos e o Senhor nos
devolve muito para que passemos aos homens e mulheres que estão famintos. Damos
o fruto do nosso trabalho, pão e vinho, e Ele nos devolve seu Corpo e Sangue;
damos nosso dinheiro e dízimo para que ele, através da sua Igreja, sacie a
necessidade de alguns pobres[2].
Hoje, Jesus lhe oferece o alimento da sua Palavra amorosa e lhe
pede seus cinco pães e dois peixes para que ele possa fazer um milagre: saciar
a fome dos pobres de espírito e de matéria. Como podemos tornar nossa fé ativa
pela caridade?
Pe. Emilio Cesar
Pároco de Messejana
[1]
Com certeza Mateus tem em mente a multiplicação do azeite e do pão realizado
por Eliseu em 2Rs 4,1-7.42-44.
[2]
Na nossa paróquia o trabalho social tem acontecido através de uma obra chamada
AVE (_____) que trabalha com idosos carentes. Temos destinado a coleta da
terça-feira (Missa do pão de S. Antônio) para essa instituição. Quem tiver
interesse de ajudar com trabalho voluntário ou materialmente basta procurar a
mim, o professor Miguel ou o Marquinhos na secretaria. Em julho colaboramos com
R$ 500,00, além dos alimentos e da santa missa com eles.
Nenhum comentário:
Postar um comentário