sábado, 2 de agosto de 2014

XVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM

 
Is 55,1-3
Rm 8,35.37-39
Mt 14,13-21

Vós que estais com sede vinda às águas (cf. Is 55,1).

Não foi à toa que a Igreja colocou como primeira leitura de hoje essa passagem de Isaias. Ela oferece a chave interpretativa para o evangelho: todos os que estão com sede venham às águas e bebam, quem tem fome venha e se sacie gratuitamente. A própria profecia explica qual a natureza da sede e da fome que Deus irá prover (cf. Is 55, 3).

Os homens e mulheres têm sede e fome de paz, serenidade, alegria e felicidade. Investem trabalho, tempo, dinheiro, amizades para conseguir saciar-se mas, geralmente, sem êxito. Deus questiona essa busca inútil (cf. Is 55,2) e convida à satisfação completa através da escuta da Sua Palavra: “Inclinai vosso ouvido e vinde a mim, ouvi e tereis vida” (Is 55,3). É preciso ter coragem de reconhecer que nós também estamos nesta busca desenfreada pela vida, mas muitas vezes de forma errada. Voltemo-nos para a Palavra que o Senhor nos dirige como alimento verdadeiro.
 Na segunda leitura, S. Paulo nos diz qual é o conteúdo essencial dessa Palavra: O amor de Deus por nós que nos une a Ele: “Quem nos separará do amor de Cristo?” (Rm 8,35). Nada poderá nos separar do amor de Deus por nós, manifestado pela vida, ação e palavra de Cristo Jesus (cf. Rm 8,39). Paulo esqueceu de dizer nessa passagem, mas nós podemos completar, que apenas a própria pessoa com sua decisão, seu “não”, pode se apartar dessa comunhão de amor. Lembremos, porém, que a indiferença ou pouco caso a Sua palavra já é uma negativa que Lhe damos.
No evangelho encontramos Jesus se dirigindo para um lugar deserto após saber a notícia da morte de João Batista. Uma indicação do evangelista que o Mestre tinha a intensão de ficar só, talvez para rezar. Mas ao chegar ao local foi surpreendido por uma multidão de pessoas que já tinha experimentado sua autoridade (exousia) através dos milagres (cf. Mt 9,6) e da pregação (cf. Mt 7,28). Ele tinha algo para oferecer àqueles homens e mulheres que estavam com sede e fome de felicidade e vida.
O evangelista diz que Jesus foi tomado de compaixão. Deixou de lado seu plano original e começou curar a muitos. Marcos afirma que o Messias também se dedicou ao ensinamento (cf. Mc 6,34). Após uma jornada, imaginamos que tenha sido cansativa porque estavam num lugar afastado, aquela multidão deveria estar fome de alimento material, por isso os discípulos sugeriram ao Mestre de despedi-la (cf. Mt 14,15). Um grande número de pessoas com fome num lugar deserto! Isso nos faz lembrar imediatamente de um acontecimento do Antigo Testamento. O povo que Deus tirou da escravidão do Egito estava no deserto com fome e sem comida. O Senhor, então, envia o maná – chamado pelo evangelista João de pão do céu – e sacia sua fome (cf. Ex 16; Nm 11). Jesus age como seu Pai e sacia a fome do povo, ele é verdadeiramente o Senhor.
“Dai-lhes vós mesmo de comer” (Mt 14,16). Os verdadeiros discípulos de Jesus não podem pensar que basta oferecer ao povo o alimento espiritual. Se ele tem fome material e não tem o que comer é preciso ir ao encontro dessa necessidade. Tiago nos ensina:
Imaginai que um irmão ou uma irmã não têm o que vestir e que lhes falta a comida de cada dia; se então algum de vós disser a eles: “Ide em paz, aquecei-vos” e “Comei à vontade”, sem lhes dar o necessário para o corpo, que adianta isso? (Tg 2,15-16).
Os discípulos só tinham cinco pães e dois peixes. Mas o que era isso para tanta gente!? “Trazei-os aqui” (Mt 14,18), pediu Jesus. O milagre começou com a partilha de quem tinha trazido o que comer[1]. Jesus tomou essa oferta, ergueu os olhos para o céu, deu graças a Deus, partiu e entregou a seus discípulos para que distribuíssem com a multidão que estava sentada (cf. Mt 14,19). Esta é a dinâmica da eucaristia: nós oferecemos o pouco que temos e o Senhor nos devolve muito para que passemos aos homens e mulheres que estão famintos. Damos o fruto do nosso trabalho, pão e vinho, e Ele nos devolve seu Corpo e Sangue; damos nosso dinheiro e dízimo para que ele, através da sua Igreja, sacie a necessidade de alguns pobres[2].
Hoje, Jesus lhe oferece o alimento da sua Palavra amorosa e lhe pede seus cinco pães e dois peixes para que ele possa fazer um milagre: saciar a fome dos pobres de espírito e de matéria. Como podemos tornar nossa fé ativa pela caridade?



Pe. Emilio Cesar
Pároco de Messejana




[1] Com certeza Mateus tem em mente a multiplicação do azeite e do pão realizado por Eliseu em 2Rs 4,1-7.42-44.
[2] Na nossa paróquia o trabalho social tem acontecido através de uma obra chamada AVE (_____) que trabalha com idosos carentes. Temos destinado a coleta da terça-feira (Missa do pão de S. Antônio) para essa instituição. Quem tiver interesse de ajudar com trabalho voluntário ou materialmente basta procurar a mim, o professor Miguel ou o Marquinhos na secretaria. Em julho colaboramos com R$ 500,00, além dos alimentos e da santa missa com eles.

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