Jr 20, 7-9
Rm 12, 1-2
Mt
16, 21-27
“Se alguém quer me seguir...” (Mt 16,24).
No evangelho do domingo passado ouvimos Simão professando a
fé dos discípulos: Tu és o Messias, o Filho de Deus. E por causa desse
testemunho Jesus disse: Não foi a carne ou o sangue que te revelou isso, por
isso te digo que tu és Pedro e sobre essa pedra edificarei minha Igreja. A fé
de Pedro é o fundamento sólido sobre o qual foi construída a comunidade fundada
por Cristo que se chama Igreja, uma porção visível daquilo que o Senhor veio
iniciar: o Reino de Deus.
Na passagem de hoje ouvimos a narrativa que a mesma pessoa
agora é dita “pedra de tropeço” (scandalon)!
Não porque fraquejou na profissão de fé, mas porque não quis aceitar um
ensinamento de Jesus e, pior ainda, tentou corrigir o Mestre: “Deus não permita
tal coisa, Senhor! Que isso nunca te aconteça” (Mt 16,22). Qual ensinamento ele
não conseguia entender e aceitar?
Que Jesus “devia ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos
anciãos, dos sumos sacerdotes e dos mestres da Lei, e que devia ser morto e
ressuscitar no terceiro dia” (Mt 16,21). Agora que Jesus tinha aceitado ser
chamado de Messias ele vinha manifestar que seu messianismo era muito diferente
daquilo que os judeus esperavam e sonhavam: um líder que viesse libertar o povo
das amarras políticas e do julgo da dominação romana. A reação de Pedro é
compreensiva. Mais uma vez ele devia estar sendo porta-voz do pensamento da
maioria dos discípulos: como compreender que o Messias tão esperado ia sofrer e
morrer logo em Jerusalém, na cidade de Davi, na cidade messiânica!?
Para entender melhor a reação de Jesus em relação à Pedro é
preciso imaginar a cena: Simão tinha levado Jesus a um lugar à parte para
corrigi-lo discretamente, agora Jesus fica de frente para esse discípulo e lhe
fala com toda franqueza e autoridade: hypage
opisô mou, Satana! Nosso texto litúrgico traduziu como: “Vai para longe,
Satanás”. Mas se prestarmos atenção ao grego vamos perceber que a tradução
devia ser bem diferente. Opisô mou é
a expressão que Mateus utiliza para falar do seguimento a Jesus, daquele que é
convidado a seguir o Mestre. Assim foi à beira do lago de Genezaré quando Jesus
viu Simão e André e os convidou: “Segui-me” (Mt 4,19: deute opisô mou). A mesma expressão ele vai dizer mais à frente na
passagem que estamos lendo: “Se alguém quer me seguir” (Mt 19,24: opisô mou elthein). O que Jesus está
dizendo à Pedro não é uma ordem de exorcismo como transparece da nossa tradução
mas: “vai para traz de mim!”, volta para teu lugar de discípulo, não queira ser
meu metre! Essa é também a nossa tentação. Quando ouvimos no evangelho algo que
não nos agrada tentamos distorcer, dar uma interpretação mais suave, ou de
acordo com nossa vontade. Tentamos corrigir a Palavra do Senhor!?
O discípulo de Jesus precisa saber que está seguindo um
Mestre que veio dar a sua vida em resgate dos pecadores, veio para servir não
para dominar. Por isso Jesus, voltando-se para todos os discípulos, após
recriminar Pedro, diz:
Se alguém quer
me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois, quem quiser
salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, vai
encontrá-la (Mt 16,24-25)
O discípulo precisa trilhar o mesmo caminho do Mestre, o da
renúncia e o da cruz. O que isso significa?
O que Jesus quis dizer com perder a própria vida?
Certamente ele não estava querendo que seus discípulos
renunciassem a todos os seus projetos de vida, a seus sonhos e se tornassem
homens e mulheres frustrados. Certamente não era isso, porque antes ele tinha
falado da felicidade (“bem-aventurança”: Mt 5). Quando fala de perder a vida
para salvá-la não está querendo dizer que o discípulo precisa ser infeliz aqui
na terra para ganhar o céu. Mas que precisa aprender a colocar Deus em primeiro
lugar e o próximo em segundo, só assim vai encontrar realização. Não é isso que
a gente vê na histórias dos homens e mulheres apaixonados que pensam primeiro
no seu amante!? Os pais que renunciam tantas coisas por causa do seus filhos e
encontram na felicidade deles a própria realização!? É também nesse mistério de
renúncia a si mesmo que podemos entender o caminho do discípulo de Jesus. Basta
olhar para uma Santa Teresa de Calcutá, ou um São João Paulo II. O que eles
fizeram sobre a terra não foi só por obrigação, quase que constrangidos pela
“vontade de Deus”, mas porque o ideal do Senhor tornou-se o próprio, e na vida
de doação ao próximo encontraram a própria realização.
Que o Senhor nos conceda a graça de sermos verdadeiros
discípulos daquele que veio para servir e não para ser servido e neste
seguimento encontrarmos nossa realização e vida! E assim nos tornarmos
testemunhas da alegria e esperança para aqueles que não creem e buscam apenas a
si mesmo.
Pe. Emilio Cesar
Pároco de Messejana
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