domingo, 31 de agosto de 2014

XXII DOMINGO DO TEMPO COMUM



Jr 20, 7-9
Rm 12, 1-2
Mt 16, 21-27

“Se alguém quer me seguir...” (Mt 16,24).
No evangelho do domingo passado ouvimos Simão professando a fé dos discípulos: Tu és o Messias, o Filho de Deus. E por causa desse testemunho Jesus disse: Não foi a carne ou o sangue que te revelou isso, por isso te digo que tu és Pedro e sobre essa pedra edificarei minha Igreja. A fé de Pedro é o fundamento sólido sobre o qual foi construída a comunidade fundada por Cristo que se chama Igreja, uma porção visível daquilo que o Senhor veio iniciar: o Reino de Deus.

Na passagem de hoje ouvimos a narrativa que a mesma pessoa agora é dita “pedra de tropeço” (scandalon)! Não porque fraquejou na profissão de fé, mas porque não quis aceitar um ensinamento de Jesus e, pior ainda, tentou corrigir o Mestre: “Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isso nunca te aconteça” (Mt 16,22). Qual ensinamento ele não conseguia entender e aceitar?
Que Jesus “devia ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos sumos sacerdotes e dos mestres da Lei, e que devia ser morto e ressuscitar no terceiro dia” (Mt 16,21). Agora que Jesus tinha aceitado ser chamado de Messias ele vinha manifestar que seu messianismo era muito diferente daquilo que os judeus esperavam e sonhavam: um líder que viesse libertar o povo das amarras políticas e do julgo da dominação romana. A reação de Pedro é compreensiva. Mais uma vez ele devia estar sendo porta-voz do pensamento da maioria dos discípulos: como compreender que o Messias tão esperado ia sofrer e morrer logo em Jerusalém, na cidade de Davi, na cidade messiânica!?
Para entender melhor a reação de Jesus em relação à Pedro é preciso imaginar a cena: Simão tinha levado Jesus a um lugar à parte para corrigi-lo discretamente, agora Jesus fica de frente para esse discípulo e lhe fala com toda franqueza e autoridade: hypage opisô mou, Satana! Nosso texto litúrgico traduziu como: “Vai para longe, Satanás”. Mas se prestarmos atenção ao grego vamos perceber que a tradução devia ser bem diferente. Opisô mou é a expressão que Mateus utiliza para falar do seguimento a Jesus, daquele que é convidado a seguir o Mestre. Assim foi à beira do lago de Genezaré quando Jesus viu Simão e André e os convidou: “Segui-me” (Mt 4,19: deute opisô mou). A mesma expressão ele vai dizer mais à frente na passagem que estamos lendo: “Se alguém quer me seguir” (Mt 19,24: opisô mou elthein). O que Jesus está dizendo à Pedro não é uma ordem de exorcismo como transparece da nossa tradução mas: “vai para traz de mim!”, volta para teu lugar de discípulo, não queira ser meu metre! Essa é também a nossa tentação. Quando ouvimos no evangelho algo que não nos agrada tentamos distorcer, dar uma interpretação mais suave, ou de acordo com nossa vontade. Tentamos corrigir a Palavra do Senhor!?
O discípulo de Jesus precisa saber que está seguindo um Mestre que veio dar a sua vida em resgate dos pecadores, veio para servir não para dominar. Por isso Jesus, voltando-se para todos os discípulos, após recriminar Pedro, diz:
Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois, quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la (Mt 16,24-25)
O discípulo precisa trilhar o mesmo caminho do Mestre, o da renúncia e o da cruz. O que isso significa?  O que Jesus quis dizer com perder a própria vida?
Certamente ele não estava querendo que seus discípulos renunciassem a todos os seus projetos de vida, a seus sonhos e se tornassem homens e mulheres frustrados. Certamente não era isso, porque antes ele tinha falado da felicidade (“bem-aventurança”: Mt 5). Quando fala de perder a vida para salvá-la não está querendo dizer que o discípulo precisa ser infeliz aqui na terra para ganhar o céu. Mas que precisa aprender a colocar Deus em primeiro lugar e o próximo em segundo, só assim vai encontrar realização. Não é isso que a gente vê na histórias dos homens e mulheres apaixonados que pensam primeiro no seu amante!? Os pais que renunciam tantas coisas por causa do seus filhos e encontram na felicidade deles a própria realização!? É também nesse mistério de renúncia a si mesmo que podemos entender o caminho do discípulo de Jesus. Basta olhar para uma Santa Teresa de Calcutá, ou um São João Paulo II. O que eles fizeram sobre a terra não foi só por obrigação, quase que constrangidos pela “vontade de Deus”, mas porque o ideal do Senhor tornou-se o próprio, e na vida de doação ao próximo encontraram a própria realização.

Que o Senhor nos conceda a graça de sermos verdadeiros discípulos daquele que veio para servir e não para ser servido e neste seguimento encontrarmos nossa realização e vida! E assim nos tornarmos testemunhas da alegria e esperança para aqueles que não creem e buscam apenas a si mesmo.

Pe. Emilio Cesar
Pároco de Messejana

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