Gn 22,1-2.9-13.15-18
Rm
8,31b-34
Mc 9,2-10
“Este é o meu Filho
amado. Escutai o que ele diz!” (Mc 9, 7)
No segundo domingo da quaresma a Igreja nos apresenta o
evangelho da transfiguração de Jesus. O motivo é pedagógico e corresponde ao
mesmo que levou o evangelista a colocar esta cena após o anúncio que Jesus fez
de sua paixão e das condições para segui-lo (cf. Mc 8,31-38). Os discípulos
poderiam ser esmagados pela tristeza da morte de seu Mestre, poderiam se
desesperar. É isso que rezaremos no prefácio de hoje:
Tendo predito aos discípulos a
própria morte, Jesus lhes mostra, na montanha sagrada, todo o seu esplendor. E
como o testemunho da Lei e dos Profetas, simbolizados em Moisés e Elias, nos
ensina que, pela Paixão e Cruz, chegará à glória da ressurreição[1].
Após uma semana de jejum, oração e caridade, a Igreja nos mostra
qual o fim último da nossa penitência em vista da conversão: a transfiguração,
a ressurreição, a vida plena, que nós iremos celebrar antecipadamente na
páscoa.
Talvez você me diga que nem lembrou da penitência e que esta
semana não se diferenciou das outras. Mesmo assim esta leitura é para você que
está passado, ou já passou, momentos difíceis ao ponto de duvidar da existência
de Deus ou de Sua proximidade e cuidado.
Na primeira leitura ouvimos a narrativa de Abraão que ouve o
Senhor lhe pedindo em sacrifício o seu único filho, aquele que foi fruto de uma
promessa divina que demorou décadas para ser cumprida, Isaac. O filho que Deus
lhe deu! Na última hora o Senhor poupou Isaac. Ele só queria provar a fé e o
amor de Abraão. Jesus é a realização perfeita deste sacrifício: carregou nos
ombros o lenho, foi amarrado (durante a paixão) e posto sobre um monte
(Jerusalém – Gólgota)[2].
Deus, porém, não poupou seu Filho, mas o entregou por todos nós (cf. Rm 8,32).
A morte de Jesus deixa de ser uma simples condenação, ou assassinato, para se
tornar sacrifício único e perfeito pelo qual temos o perdão e a vida (nova e
eterna Aliança). Jesus inaugura assim a estrada estreita que conduz à vida (cf.
Mt 7,14).
Tanto sofrimento poderia desanimar, por isso precisamos
subir a montanha com Pedro, Tiago e João. Lá em cima iremos contemplar quem é
Jesus. A pergunta que ele mesmo tinha feito a todos os seus discípulos pouco
antes (cf. Mc 8,29) será agora respondida pelo próprio Deus, não mais por
Pedro: “Este é o meu Filho amado”. As palavras deixaram explícito aquilo que os
três já estavam vendo: a divindade escondida do Verbo encarnado rompeu as
paredes de sua carne e brilhou com toda a sua glória[3]. O
Pai continua: “Escutai o que ele diz”. As palavras de Jesus não são simples
conselhos sábios, mas Palavra de Deus, espírito e vida!
O que precisamos ouvir do Mestre? Aquilo que tinha acabado
de dizer e repetirá logo em seguida:
E começou a ensinar-lhes que
era necessário o Filho do Homem sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos,
sumos sacerdotes e escribas, ser morto e, depois de três dias, ressuscitar.
Chamou, então, a multidão,
juntamente com os discípulos, e disse-lhes: "Se alguém quer vir após mim,
renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me"! (Mc 8,31.34)
O que fazer diante do sofrimento? Acreditar! Acreditar que
Deus é tão bom e poderoso ao ponto de regatar cada dor, cada lágrima, e nos
fazer chegar através delas à glória eterna (cf. 2Cor 4,17). E assim podermos
dizer com os salmista: “Guardei a minha fé, mesmo dizendo: ‘É demais o
sofrimento em minha vida!’” (Sl 115, 10).
Pe. Emilio Cesar
Pároco de Messejana
[1] Prefácio da Transfiguração do
Senhor.
[2] Raniero
Cantalamessa,
La Parola e la vita. Riflessioni sulla
Parola di Dio delle Domeniche e delle feste dell’anno B. 9a Ed., Roma:
Città Nuova 2001, p. 74s.
[3] Raniero
Cantalamessa,
La Parola e la vita. Riflessioni sulla
Parola di Dio delle Domeniche e delle feste dell’anno B. 9a Ed., Roma:
Città Nuova 2001, p. 74.
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