sábado, 28 de fevereiro de 2015

II DOMINGO DA QUARESMA - ANO B


Gn 22,1-2.9-13.15-18
Rm 8,31b-34
Mc 9,2-10

Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!” (Mc 9, 7)

No segundo domingo da quaresma a Igreja nos apresenta o evangelho da transfiguração de Jesus. O motivo é pedagógico e corresponde ao mesmo que levou o evangelista a colocar esta cena após o anúncio que Jesus fez de sua paixão e das condições para segui-lo (cf. Mc 8,31-38). Os discípulos poderiam ser esmagados pela tristeza da morte de seu Mestre, poderiam se desesperar. É isso que rezaremos no prefácio de hoje:
Tendo predito aos discípulos a própria morte, Jesus lhes mostra, na montanha sagrada, todo o seu esplendor. E como o testemunho da Lei e dos Profetas, simbolizados em Moisés e Elias, nos ensina que, pela Paixão e Cruz, chegará à glória da ressurreição[1].
Após uma semana de jejum, oração e caridade, a Igreja nos mostra qual o fim último da nossa penitência em vista da conversão: a transfiguração, a ressurreição, a vida plena, que nós iremos celebrar antecipadamente na páscoa.
Talvez você me diga que nem lembrou da penitência e que esta semana não se diferenciou das outras. Mesmo assim esta leitura é para você que está passado, ou já passou, momentos difíceis ao ponto de duvidar da existência de Deus ou de Sua proximidade e cuidado.
Na primeira leitura ouvimos a narrativa de Abraão que ouve o Senhor lhe pedindo em sacrifício o seu único filho, aquele que foi fruto de uma promessa divina que demorou décadas para ser cumprida, Isaac. O filho que Deus lhe deu! Na última hora o Senhor poupou Isaac. Ele só queria provar a fé e o amor de Abraão. Jesus é a realização perfeita deste sacrifício: carregou nos ombros o lenho, foi amarrado (durante a paixão) e posto sobre um monte (Jerusalém – Gólgota)[2]. Deus, porém, não poupou seu Filho, mas o entregou por todos nós (cf. Rm 8,32). A morte de Jesus deixa de ser uma simples condenação, ou assassinato, para se tornar sacrifício único e perfeito pelo qual temos o perdão e a vida (nova e eterna Aliança). Jesus inaugura assim a estrada estreita que conduz à vida (cf. Mt 7,14).
Tanto sofrimento poderia desanimar, por isso precisamos subir a montanha com Pedro, Tiago e João. Lá em cima iremos contemplar quem é Jesus. A pergunta que ele mesmo tinha feito a todos os seus discípulos pouco antes (cf. Mc 8,29) será agora respondida pelo próprio Deus, não mais por Pedro: “Este é o meu Filho amado”. As palavras deixaram explícito aquilo que os três já estavam vendo: a divindade escondida do Verbo encarnado rompeu as paredes de sua carne e brilhou com toda a sua glória[3]. O Pai continua: “Escutai o que ele diz”. As palavras de Jesus não são simples conselhos sábios, mas Palavra de Deus, espírito e vida!
O que precisamos ouvir do Mestre? Aquilo que tinha acabado de dizer e repetirá logo em seguida:
E começou a ensinar-lhes que era necessário o Filho do Homem sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, sumos sacerdotes e escribas, ser morto e, depois de três dias, ressuscitar.
Chamou, então, a multidão, juntamente com os discípulos, e disse-lhes: "Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me"! (Mc 8,31.34)
O que fazer diante do sofrimento? Acreditar! Acreditar que Deus é tão bom e poderoso ao ponto de regatar cada dor, cada lágrima, e nos fazer chegar através delas à glória eterna (cf. 2Cor 4,17). E assim podermos dizer com os salmista: “Guardei a minha fé, mesmo dizendo: ‘É demais o sofrimento em minha vida!’” (Sl 115, 10).


Pe. Emilio Cesar
Pároco de Messejana



[1] Prefácio da Transfiguração do Senhor.
[2] Raniero Cantalamessa, La Parola e la vita. Riflessioni sulla Parola di Dio delle Domeniche e delle feste dell’anno B. 9a Ed., Roma: Città Nuova 2001, p. 74s.
[3] Raniero Cantalamessa, La Parola e la vita. Riflessioni sulla Parola di Dio delle Domeniche e delle feste dell’anno B. 9a Ed., Roma: Città Nuova 2001, p. 74.

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