sábado, 24 de setembro de 2011

"Não quero". Mas mudou de opinião e foi.

Homilia do XXVI domingo do Tempo Comum - Ano A

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.
Para sempre seja louvado.

Caros irmãos e irmãs,
Ouvimos o evangelho da parábola dos dois filhos (Mt 21,23-27). Ao pedido do pai de ir trabalha na sua vinha, o primeiro respondeu com um simples e grosseiro “não quero” mas mudando de opinião foi. O segundo respondeu com muita cortesia, “sim, senhor, eu vou”, mas não foi. Qual dos dois fez a vontade do pai?
Esta pergunta Jesus faz àqueles que são os chefes dos sacerdotes e anciãos do povo (cf. Mt 21,23). Lembremos que o Mestre estava no templo de Jerusalém, ensinando ao povo quando as autoridades religiosas da época se aproximam para questioná-lo (cf. Mt 21,23). A pergunta de Jesus é provocativa e visa envolver seus interlocutores na parábola depondo contra si próprios: o primeiro foi quem fez a vontade do pai! Disseram os chefes do povo.
Então Jesus lhes disse: “Em verdade eu vos digo que os cobradores de impostos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus. Porque João veio até vós, num caminho de justiça, e vós não acreditastes nele. Ao contrário, os cobradores de impostos e as prostitutas creram nele. Vós, porém, mesmo vendo isso, não vos arrependestes para crer nele” (Mt 21,31-32).
O filho que disse não mas depois foi trabalhar na vinha do pai representa aqueles que eram marginalizados pela sociedade religiosa e civil da época: as prostitutas, os cobradores de impostos etc. Estes, diante da pregação de João Batista, se converteram, “mudaram de opinião[1]” (cf. Mt 21,29.32).
O segundo filho, que respondeu respeitosamente ao pai, são as autoridades religiosas da época, bem vistas por todos, que sabem fazer belos discursos e orações mas possuem uma prática que nega o que dizem. Não aceitaram a pregação de João Batista, não conseguiram ler nem mesmo o grande sinal das conversões dos pecadores públicos. Aqueles que estavam à margem da religião e da sociedade, ouviram o apelo à mudança e mudaram, entraram num processo de conversão diante da pregação do Batista. Este grande sinal não foi suficiente para que o coração das autoridades religiosas da época mudasse de opinião e se convertesse também.
Fazer a vontade de Deus era o eixo sobre o qual girava toda a religião do A.T. e do judaísmo, e a Lei era sua manifestação mais clara. Mas agora a revelação plena e perfeita da vontade de Deus acontece em Jesus que anuncia a vinda do Reino de Deus e chama à conversão (cf. Mt 4,17). A conversão agora passa pela adesão ao ensinamento e à pessoa de Jesus. No centro da fé não está mais a Lei mas uma pessoa, Jesus Cristo. Os verdadeiros obedientes são os marginalizados que aderiram ao querer de Deus manifestado na vida e no ensinamento de Jesus. A obediência chama-se agora fé no Filho. E é sobre a base de tal obediência-fé que os pecadores são salvos e começam a fazer parte do Reino de Deus, enquanto os observantes da Lei permanecem excluídos[2].
Crer em Jesus Cristo implica em uma conversão do coração que se manifesta em mudança de atitudes e comportamentos. O evangelho de hoje nos serve para questionarmos como estamos nos colocando diante das palavras do Mestre. Conhecemos o que Jesus disse, sabemos suas palavras, sabemos responde-la com belas orações, mas estamos deixando que elas nos questionem e mudem nossa opinião? Estamos aderindo à sua pregação com nossa convicção que geram conversão, mudança de vida? Ou estamos como os chefes religiosos da época de Jesus, muito acomodados com nossa posição religiosa, com nossa “vidinha boa”, e, por isso, nosso sim a Deus é meramente verbal, desmentido pelos fatos da nossa vida?



[1] O verbo utilizado por Mateus é metame/lomai tanto no v. 29, para indicar a conversão do primeiro filho; quanto no v. 32 para indicar que as autoridades religiosas não se converteram diante do sinal de muitos pecadores públicos que mudavam de vida com a pregação de João Batista. O verbo indica uma mudança daquilo que se tem no coração e pode ser traduzido por “mudança de opinião” (cf. Zerwick, A grammatical analysis, Mt 21,29; W. Bauer, A greek-english léxicon, “metame/lomai”. O vocábulo não possui uma teologia tão desenvolvida quanto outros que indicam a conversão: metanoe/w e stre/fw.
[2] Todo esse parágrafo foi retirado de G. Barbaglio – R. Fabris – B. Maggioni, Os Evangelhos I, p. 321.

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