domingo, 5 de maio de 2013

VI DOMINGO DA PÁSCOA


Cristo ressuscitou, aleluia!
Sim, ressuscitou de verdade, aleluia!

Caros irmãos e irmãs,

Hoje estamos concluindo a leitura do primeiro discurso de adeus. Apesar de ele apresentar as últimas palavras de Jesus antes de sua paixão e morte, nós só o compreendemos corretamente à luz da ressurreição. Por isso a Igreja colocou esse evangelho durante o período da Páscoa.

Jesus fala que vai para o Pai, mas que isso não deve entristecer o coração dos discípulos, ao contrário, deve alegrá-lo. Essa alegria só é possível porque a partida de Jesus trará consigo uma nova forma de estar presente no meio dos seus: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada” (Jo 14,23). Jesus ressuscitado não está mais limitado no espaço e no tempo. Ele está em todo lugar, principalmente na vida daquelas pessoas que ouvem, guardam e praticam suas palavras. Estas pessoas, e suas comunidades, se tornarão morada dele e do Pai, serão templos de Deus. É interessante perceber que na morada definitiva de Deus com os homens, a cidade santa da segunda leitura (Ap 21, 10ss), não será necessário templo para sinalizar a presença do Senhor no meio do povo. Ele estará em todos os lugares e será tudo em todos (cf. Ap 21,22).

A escuta da Palavra não é apenas uma atividade humana que implica em técnicas difíceis de praticar. Ela é antes de tudo uma ação do Espírito Santo: “Mas o Defensor, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito” (Jo 14,26). O homem e a mulher de fé, que escutam atentamente a Palavra do Senhor, receberam o Espírito Santo. Este princípio interior de vida nova é também a memória (“Ele vos recordará”) e aquele que explica a Palavra (“Ele vos ensinará”). Quanto mais eu escuto atentamente a Palavra de Deus e a guardo no coração para praticá-la, mais este Espírito está agindo dentro de mim, recordando e ensinando. A ação de um não exclui a do outro, pelo contrário, a fortalece. Para confirmar isso basta ler com atenção a primeira leitura: decidimos, o Espírito Santo e nós... (cf. At 15, 28). A decisão que os Apóstolos tomaram após longa reflexão, fundamentada nas Escrituras e na vida da Igreja nascente, é atribuída igualmente a uma decisão do Espírito.

Jesus ressuscitado é aquele que age não somente no coração de cada indivíduo, mas também na história da humanidade. Na leitura dos Atos dos Apóstolos (1a leitura), percebemos que a pregação de Paulo aos pagãos (não judeus), anunciando Jesus morto e ressuscitado, suscitou a inveja e o ciúme dos cristãos de origem judaica. Quando estes viram que o número dos pagãos que abraçavam a fé em Jesus começava a crescer, ficaram preocupados com as próprias tradições religiosas: circuncisão e os 613 mandamentos da lei. Para colocar um freio naquilo que acreditavam que era desvio da comunidade de Antioquia (pagãos que acreditavam em Jesus sem se tornarem antes judeus), resolveram pregar: “Vós não podereis salvar-vos, se não fordes circuncidados, como ordena a Lei de Moisés” (At 15,1). Diante de tal proclamação, Paulo, Barnabé e toda a comunidade se levantaram contra e houve uma grande discussão: o que salva, defendiam estes, não são as tradições judaicas mas a fé em Jesus.

Como não conseguiram resolver o problema entre si, recorreram à autoridade da Igreja Mãe. Os apóstolos e anciãos, conduzidos pelo Espírito Santo e perscrutando a Palavra de Deus (At 15,13-21) e a história (At 15, 7-11), chegaram à conclusão que os pagãos não precisavam se tornar judeus (circuncisão e obediência aos 613 mandamentos) para receberem o batismo e viverem na comunidade, ou seja, para serem cristãos. Eles só precisavam seguir algumas normas que possibilitaria a convivência de ambos na mesma comunidade, celebrando a eucaristia na mesma mesa (cf. At 15,29). Tudo isso só foi possível porque Jesus ressuscitado continuava conduzindo a sua comunidade através dos Apóstolos que guardavam as palavras de Jesus e se deixaram guiar pela memória e ensinamento do Espírito Santo (evangelho de hoje).

Para concluir nossa homilia, queremos mais uma vez contemplar a meta última para qual a Igreja e cada um de nós caminha:

Um anjo me levou em espírito a uma montanha grande e alta. Mostrou-me a cidade santa, Jerusalém, descendo do céu, de junto de Deus, brilhando com a glória de Deus. Seu brilho era como o de uma pedra preciosíssima, como o brilho de jaspe cristalino. Estava cercada por uma muralha maciça e alta, com doze portas. Sobre as portas estavam doze anjos, e nas portas estavam escritos os nomes das doze tribos de Israel. Havia três portas do lado do oriente, três portas do lado norte, três portas do lado sul e três portas do lado do ocidente. A muralha da cidade tinha doze alicerces, e sobre eles estavam escritos os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro. Não vi templo na cidade, pois o seu Templo é o próprio Senhor, o Deus Todo-poderoso, e o Cordeiro. A cidade não precisa de sol nem de lua que a iluminem, pois a glória de Deus é a sua luz, e a sua lâmpada é o Cordeiro (Ap 21, 10-14.22-23)





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