Cristo ressuscitou, aleluia!
Sim, ressuscitou de verdade, aleluia!
Caros irmãos e irmãs,
Hoje estamos concluindo a leitura do primeiro discurso de
adeus. Apesar de ele apresentar as últimas palavras de Jesus antes de sua
paixão e morte, nós só o compreendemos corretamente à luz da ressurreição. Por
isso a Igreja colocou esse evangelho durante o período da Páscoa.
Jesus fala que vai para o Pai, mas que isso não deve
entristecer o coração dos discípulos, ao contrário, deve alegrá-lo. Essa
alegria só é possível porque a partida de Jesus trará consigo uma nova forma de
estar presente no meio dos seus: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e
o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada” (Jo 14,23).
Jesus ressuscitado não está mais limitado no espaço e no tempo. Ele está em
todo lugar, principalmente na vida daquelas pessoas que ouvem, guardam e
praticam suas palavras. Estas pessoas, e suas comunidades, se tornarão morada
dele e do Pai, serão templos de Deus. É interessante perceber que na morada
definitiva de Deus com os homens, a cidade santa da segunda leitura (Ap 21, 10ss),
não será necessário templo para sinalizar a presença do Senhor no meio do povo.
Ele estará em todos os lugares e será tudo em todos (cf. Ap 21,22).
A escuta da Palavra não é apenas uma atividade humana que
implica em técnicas difíceis de praticar. Ela é antes de tudo uma ação do
Espírito Santo: “Mas o Defensor, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu
nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito” (Jo
14,26). O homem e a mulher de fé, que escutam atentamente a Palavra do Senhor,
receberam o Espírito Santo. Este princípio interior de vida nova é também a
memória (“Ele vos recordará”) e aquele que explica a Palavra (“Ele vos
ensinará”). Quanto mais eu escuto atentamente a Palavra de Deus e a guardo no
coração para praticá-la, mais este Espírito está agindo dentro de mim,
recordando e ensinando. A ação de um não exclui a do outro, pelo contrário, a
fortalece. Para confirmar isso basta ler com atenção a primeira leitura:
decidimos, o Espírito Santo e nós... (cf. At 15, 28). A decisão que os
Apóstolos tomaram após longa reflexão, fundamentada nas Escrituras e na vida da
Igreja nascente, é atribuída igualmente a uma decisão do Espírito.
Jesus ressuscitado é aquele que age não somente no coração
de cada indivíduo, mas também na história da humanidade. Na leitura dos Atos
dos Apóstolos (1a leitura), percebemos que a pregação de Paulo aos
pagãos (não judeus), anunciando Jesus morto e ressuscitado, suscitou a inveja e
o ciúme dos cristãos de origem judaica. Quando estes viram que o número dos
pagãos que abraçavam a fé em Jesus começava a crescer, ficaram preocupados com
as próprias tradições religiosas: circuncisão e os 613 mandamentos da lei. Para
colocar um freio naquilo que acreditavam que era desvio da comunidade de
Antioquia (pagãos que acreditavam em Jesus sem se tornarem antes judeus),
resolveram pregar: “Vós não podereis salvar-vos, se não fordes circuncidados,
como ordena a Lei de Moisés” (At 15,1). Diante de tal proclamação, Paulo,
Barnabé e toda a comunidade se levantaram contra e houve uma grande discussão:
o que salva, defendiam estes, não são as tradições judaicas mas a fé em Jesus.
Como não conseguiram resolver o problema entre si,
recorreram à autoridade da Igreja Mãe. Os apóstolos e anciãos, conduzidos pelo
Espírito Santo e perscrutando a Palavra de Deus (At 15,13-21) e a história (At
15, 7-11), chegaram à conclusão que os pagãos não precisavam se tornar judeus
(circuncisão e obediência aos 613 mandamentos) para receberem o batismo e
viverem na comunidade, ou seja, para serem cristãos. Eles só precisavam seguir
algumas normas que possibilitaria a convivência de ambos na mesma comunidade,
celebrando a eucaristia na mesma mesa (cf. At 15,29). Tudo isso só foi possível
porque Jesus ressuscitado continuava conduzindo a sua comunidade através dos
Apóstolos que guardavam as palavras de Jesus e se deixaram guiar pela memória e
ensinamento do Espírito Santo (evangelho de hoje).
Para concluir nossa homilia, queremos mais uma vez
contemplar a meta última para qual a Igreja e cada um de nós caminha:
Um anjo me levou em espírito a
uma montanha grande e alta. Mostrou-me a cidade santa, Jerusalém, descendo do
céu, de junto de Deus, brilhando com a glória de Deus. Seu brilho era como o de
uma pedra preciosíssima, como o brilho de jaspe cristalino. Estava cercada por
uma muralha maciça e alta, com doze portas. Sobre as portas estavam doze anjos,
e nas portas estavam escritos os nomes das doze tribos de Israel. Havia três
portas do lado do oriente, três portas do lado norte, três portas do lado sul e
três portas do lado do ocidente. A muralha da cidade tinha doze alicerces, e
sobre eles estavam escritos os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro. Não vi
templo na cidade, pois o seu Templo é o próprio Senhor, o Deus Todo-poderoso, e
o Cordeiro. A cidade não precisa de sol nem de lua que a iluminem, pois a
glória de Deus é a sua luz, e a sua lâmpada é o Cordeiro (Ap 21, 10-14.22-23)
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