sábado, 28 de setembro de 2013

XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C


“Eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos” (Lc 16,31).
               
A parábola do rico perverso e do pobre Lázaro é uma das críticas mais fortes do evangelho contra o uso inadequado da riqueza. A história não condena a riqueza em si, nem canoniza a pobreza, mas mostra que o rico a utilizou apenas para seu benefício e prazer, esquecendo-se de fazer com ela amigos que lhe possam acolher nas “moradas eternas” (cf. Lc 16,9).

Se prestarmos atenção à narrativa, percebemos que o personagem principal não é Lázaro, nem os cinco irmãos (cf. Lc 16,27), mas o rico, aquele que se vestia com roupas finas e elegantes e fazia festas esplêndidas todos os dias, mas nada partilhava com o pobre que estava à sua porta. Os “ais” que Jesus tinha proclamado após as bem-aventuranças encontram aqui sua explicação narrativa: “Ai de vós, ricos, porque já tendes a vossa consolação! Ai de vós, que agora tendes fartura, porque passareis fome! Ai de vós, que agora rides, porque tereis luto e lágrimas!” (Lc 6,24-25). O que fazemos nessa vida tem suas consequências. Pode ser que o rico leve toda a sua vida desfrutando de seus bens sem se preocupar com os necessitados que estão à sua porta, mas um dia ele sofrerá as consequências do seu egoísmo e falta de amor. A parábola nos fala que o rico foi enterrado e levado para a região dos mortos no meio dos tormentos. Lázaro, por sua vez, foi para junto de Abraão, vivendo toda a consolação, alegria, bem-aventurança que não experimentou durante sua vida terrena.

A primeira comunidade cristã de Jerusalém soube colocar em prática esse ensinamento de Jesus. Aqueles que possuíam bens, vendiam-nos e distribuíam com os mais necessitados, de modo que a ninguém faltasse o necessário para viver (cf. At 2,44-45; 4,34-35). Essa partilha material era consequência direta da fé em Cristo, que convidava seus seguidores a viver o amor ao ponto de se tornarem “um só coração e uma só alma” (At 4,32). O testemunho mais forte que a comunidade cristã deu ao mundo foi justamente esse. Os de fora quando viam aquelas pessoas exclamavam: “Vejam como se amam!” e ficavam profundamente atraídos por essa forma de vida. Acredito que esse testemunho de amor fraterno, verdadeiro e concreto é o que as comunidades cristãs da nossa paróquia precisam oferecer aos de fora. Não existe outra forma de viver essa passagem bíblica a não ser em comunidade. Não basta dar esmolas, devolver o dízimo (porque uma parte dele é para ajudar os pobres), colaborar materialmente com uma obra de caridade. É preciso se comprometer, em primeiro lugar, ir ao encontro do está faminto e doente à porta da minha casa, e cuidar dele. É preciso perceber na minha comunidade aqueles que estão precisando da minha ajuda espiritual, emocional ou material  e ser efetivo na vivência da caridade, não só afetivo.

Voltemos à parábola. Aquele que está na região dos mortos, no meio dos tormentos, ao perceber que não existe mais possibilidade de mudança de sua situação, nem sequer de pequenas consolações para si (cf. Lc 16,24-26), se preocupa com seus cinco irmãos que ainda têm a possibilidade de mudar de vida:
‘Pai, eu te suplico, manda Lázaro à casa do meu pai, porque eu tenho cinco irmãos. Manda preveni-los, para que não venham também eles para este lugar de tormento.
Mas Abraão respondeu: ‘Eles têm Moisés e os Profetas, que os escutem!’
O rico insistiu: ‘Não, Pai Abraão, mas se um dos mortos for até eles, certamente vão se converter’.
Mas Abraão lhe disse: ‘Se não escutam a Moisés, nem aos Profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos’ (Lc 16,27-31)
Nós somos estes cinco homens que ainda podem mudar de vida. Temos a Lei, os Profetas (A.T.), o Novo Testamento, Cristo ressuscitado e a Igreja que hoje nos testemunham o amor pelos pobres e necessitados como o caminho da bem-aventurança, do céu. Iremos ouvir estas testemunhas eloquentes ou continuaremos fechados no nosso egoísmo e comodidade?


Pe. Emilio Cesar
Pároco de Guaiuba


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