sábado, 23 de novembro de 2013

CRISTO REI DO UNIVERSO - ANO C

“Este é o Rei dos judeus” (cf. Lc 23,38).

Chegamos ao final de mais um ano litúrgico. O último domingo do Tempo Comum a Igreja dedica à Solenidade de Cristo Rei do universo. O papa Pio XI instituiu esta festa com a encíclica Quas primas (1925). Ela deveria acontecer no último domingo de outubro e era revestida de um caráter fundamentalmente social. A reforma litúrgica inspirada pelo Concílio Vaticano II a transferiu para o período que celebramos hoje e sublinhou a dimensão escatológica do Reino na sua consumação final. “Assim, Cristo aparece como centro e Senhor da história, desde o início até seu momento final, ‘o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim’” (Ap 22,12-13)[1].

Os judeus da época de Jesus esperavam um rei-messias que viesse tirá-los daquela situação de exploração e humilhação por parte do Império Romano. Alguém que restaurasse o reino de Davi, que tivesse a força religiosa e política para fazer isso. A primeira leitura nos lembra um pouco como este rei foi importante na história do povo de Deus e como a esperança dos judeus da época de Jesus era não apenas religiosa mas também política.

Quando Jesus aceitou ser chamado de Messias - mesmo que tenha reiteradas vezes explicado que seu messianismo era diferente -, o povo passou a esperar que ele realizasse a libertação do jugo dos romanos e instaurasse um reino terreno e político. Diante de sua condenação, alguns daqueles que o tinham aclamado com alegria (cf. Mt 19, 35-38), na sua entrada triunfal em Jerusalém, começaram a caçoar: Que rei é esse que morre numa cruz sem que seu exército o defenda?! Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo! (Lc 23,35-36).

Hoje também, quando falamos que Cristo é Rei do universo, pensamos logo numa imagem dele com um cetro e uma coroa de ouro, manto vermelho e roupas majestosas, como os reis de antigamente. Mas o evangelho nos mostra que seu reinado é totalmente diferente daquilo que nós imaginamos ou desejamos.

O letreiro em cima da cruz dizia: “Este é o Rei dos Judeus” (Lc 23,38). Devem ter colocado esta placa para caçoar dele e dos judeus, mas ela dizia a verdade. Sim, Ele é rei justamente ao morrer na cruz como um condenado, sem dar nenhuma prova de realeza, mas perdendo honra, amigos, admiração, perdendo a vida. O Reino dele inicia efetivamente quando se despoja de tudo na cruz por amor a nós. Com isso, Jesus reconcilia consigo e com o Pai todos os seres, realizando a paz pelo seu sangue (cf. Col 1,20). Aqueles que pertenciam ao poder das trevas, o reino do mal, agora podem passar a fazer parte do Reino de Jesus (cf. Col 1,13). Como?

A resposta de como as pessoas que fazem parte do reino das trevas podem passar para o Reino de Deus está no próprio evangelho. Dois ladrões foram crucificados também. Eles pertenciam ao poder das trevas, foi por isso que tinham sido condenados a morrer daquela forma. Um, porém, reconheceu a verdade do seu pecado e, mais ainda, percebeu que aquele homem desfigurado pela dor, abandono e humilhação, aquele verme, era santo e poderia lhe salvar da situação de morte: “’Para nós, é justo, porque estamos recebendo o que merecemos; mas ele não fez nada de mal’. E acrescentou: ‘Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado’” (Lc 21,41-42). Este ladrão é um modelo para todos aqueles que reconhecem que estão emaranhados no reino do mal, se deixam levar pela vingança, humilham o próximo de todas as formas possíveis, tripudiam com o sofrimento alheio, são infiéis ao amor do cônjuge, não se dedicam à família quanto deviam... Se você reconhecer seu pecado e confessar que o Crucificado, aquele que morreu como condenado, é o único Rei que pode lhe ajudar a sair desta situação maléfica pelo perdão e pelo dom de uma vida nova, então você poderá também entrar no Reino de Deus.

Além do reino do mundo, existe um outro reino, aquele que construí e no qual desejo que todos entrem, inclusive Deus: cure o filho doente, dê emprego ao marido, faça a filha se dar bem com o esposo, consiga minha aposentadoria etc. Quando isso não acontece, me revolto e questiono se Jesus existe e se reina na minha vida. O que a Igreja nos convida hoje é não só deixar o reino das trevas mas também o nosso e entrar no Reino de Jesus. Como se faz isso? Através de um fé autêntica e profunda. A confiança nele me leva a unir minha tristeza, sofrimento e decepção à sua derrota na cruz para nele encontrar vida e salvação justamente a partir destas situações de morte e assim me tornar vitorioso, mesmo perdendo.

Jesus dirá para você aquilo que Ele disse para o ladrão: “Em verdade eu te digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,43) ou, em outras palavras: Hoje poderás sair do reino das trevas e do próprio reino e entrar no Reino de Deus!


Pe. Emilio Cesar
Pároco de Guaiuba





[1]Bergamini, Augusto, Cristo, festa da Igreja: história, teologia, espiritualidade e pastoral do ano litúrgico. 3a Edição, São Paulo: Paulinas, 2004, p. 436.

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