“Feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim!” (Mt 11,6).
O terceiro domingo do advento é conhecido na liturgia como o
domingo da alegria. A antífona de entrada indica o canto mais adequado para
iniciar esta celebração: “Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo,
alegrai-vos! O Senhor está perto” (Fl 4,4s). Cantamos o júb[1].
ilo da proximidade
do Natal e, mais ainda, da salvação
As leitura nos mostram toda a trajetória do anúncio e
cumprimento da vinda do Messias e, com ele, da nossa salvação.
Isaias promete libertação
ao povo que estava passando por grande dificuldade e humilhação; aos deprimidos
e fracos proclama: “Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus, é a
vingança que vem, é a recompensa de Deus; é ele que vem para nos salvar” (Is
35,4). Alguns sinais mostrarão que este tempo messiânico chegou: os cegos irão
ver, os surdos ouvir, o cocho saltará e a língua dos mudos se desatará (cf. v.
5-6a). A alegria e o contentamento irão invadir o coração dos homens e mulheres
naquele tempo, e tal contentamento se transformará em louvores:
Os que o Senhor salvou voltarão para casa. Eles virão a Sião
cantando louvores, com infinita alegria brilhando em seus rostos; cheios de
gozo e contentamento, não mais conhecerão a dor e o pranto (Is 35, 10).
Nós cristãos acreditamos que o cumprimento desta e de outras profecias do Antigo Testamento se
cumpriu com a vinda de Jesus que João Batista anunciou, apontou e preparou o
caminho. No evangelho, porém, o Precursor pede que alguns dos seus discípulos
perguntem ao Mestre: “És tu aquele que há de vir ou devemos esperar um outro?”
(Mt 11,3). Ele provavelmente esperava um Messias que viesse instaurar um
julgamento mais definitivo, cortando as árvores que não dão fruto, separando o
trigo do seu refugo, queimando a palha no fogo e estocando o fruto no celeiro
(cf. Mt 3,10-12). João deve ter se impressionado quando percebeu que o
Prometido continuava falando de conversão, acolhia a todos que o procurassem,
perdoava os pecadores, mandava perdoar sempre porque era assim que Deus agia.
Para responder aos mensageiros, Jesus faz uso de várias passagens de Isaias que
falam que o tempo messiânico será marcado pela cura dos enfermos e pela
evangelização dos pobres (cf. Mt 11,5) e conclui: “Feliz aquele que não se
escandaliza por causa de mim! ” (v. 6).
Aquele que foi o maior dos profetas poderia se escandalizar,
tropeçar, diante de suas próprias expectativas messiânicas e é isso que Jesus
alerta. Reconhecer Jesus como o Messias esperado não é algo totalmente lógico
ou matemático. As profecias do Antigo Testamento não foram imediatamente
cumpridas na primeira vinda do Senhor, algo foi deslocado para sua vinda
gloriosa (ressurreição da carne, julgamento final, aniquilamento da morte,
renovação cósmica), aquela que acontecerá no final dos tempos. Isso fez que
muitos judeus se escandalizassem e não reconhecessem no Mestre seu Cristo. Isso
também pode nos fazer tropeçar, impedir de acreditar em Jesus como cumprimento
das promessas de Deus, se antepomos nossas necessidades de provas lógicas, ou
nosso modelo de salvador, ao encontro com Jesus. A fé, apesar de ser razoável
(se pode dar as razões da própria fé e esperança), nasce de um encontro com a
pessoa do Verbo encarnado e este acontecimento transcende as possibilidade do
ser humano, é graça. Neste caso, a racionalidade orgulhosa, os esquemas rígidos
e fechados de algumas pessoas podem impedir o nascimento de fé. Situações muito
comuns nos meios acadêmicos e na mídia, onde alguns, ou muitos, intelectuais
parecem mais preocupados com suas ideias e ciências que com a busca da verdade
e, por isso, se fecham ao encontro com a Verdade encarnada.
Se na primeira leitura contemplamos a expectativa que
precedeu a primeira vinda de Cristo e as esperanças que a animaram, e no
evangelho percebemos o pleno cumprimento das promessas em Jesus, agora, na
segunda leitura, mergulhamos no nosso tempo. É o tempo que está no meio, entre
a vinda de Cristo e o seu retorno. Aquele que devia vir já veio, o objeto da
expectativa se transformou em recordação: aquilo que iremos celebrar no Natal.
Mas a recordação gera e alimenta uma nova expectativa[2]:
Irmãos, “ficai firmes e fortalecei vossos corações, porque a vinda do Senhor
está próxima” (Tg 5,8). Não esperamos algo novo ou o cumprimento de profecias.
Tudo foi cumprido em Cristo, ele trouxe toda a novidade ao mundo trazendo-se a
si mesmo[3].
O que esperamos agora é o definitivo! Esta nossa espera é comparável àquela do
agricultor que já plantou a semente (fé em Cristo e vida cristã) e espera
pacientemente o tempo da colheita (ressurreição e renovação cósmica).
Caros irmão, esta nossa esperança é necessária para o mundo
de hoje que colocou toda sua confiança na razão, na técnica, no dinheiro, nas
próprias capacidades, e está à beira do desespero. Neste tempo do advento não
se envergonhe de testemunhar sua fé e esperança, os homens e mulheres que ainda
não creem em Deus precisam disso.
Como fizemos na primeira semana, vamos concluir com uma
oração de louvor da Igreja para este tempo:
Vós preferistes ocultar o dia e
a hora em que Cristo, vosso Filho, Senhor e juiz da história, aparecerá nas
nuvens do céu, revestido de poder e majestade. Naquele tremendo e glorioso dia,
passará o mundo presente e surgirá novo céu e nova terra. Agora e em todos os
tempos, ele vem ao nosso encontro, presente em cada pessoa humana, para que o
acolhamos na fé e o testemunhemos na caridade, enquanto esperamos a feliz
realização de seu reino (Prefácio do Advento IA)
Pe. Emilio Cesar
Pároco de Guaiuba
[2] Cf. Raniero Cantalamessa, La Parola e la vita. Riflessioni sulla Parola di Dio delle Domeniche e
delle feste dell’anno A. 12a Ed., Roma:
Città Nuova 2004, p. 21-22.
[3] Cf. Raniero Cantalamessa, La Parola e la vita. Riflessioni sulla Parola di Dio delle Domeniche e
delle feste dell’anno A. 12a Ed., Roma:
Città Nuova 2004, p. 22
QUE O ADVENTO CONSIGA TOCAR NOS CORAÇÕES FECHADOS DE ÓDIO AO SEU PRÓXIMO E QUE A LUZ DO MENINO JESUS OS TOQUE DE VERDADE E OS MESMO SE COMPROMETA DE SER FIEL AO CRISTO, AMÉM
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