“Deus está conosco” (Mt 1,23).
Estamos no quarto e último domingo do advento, a última vela
da cora foi acesa. Isso significa que o Natal do Senhor está às portas e temos
pouquíssimos dias para nos preparar para sua vinda humilde. As leituras de hoje
falam do mistério deste acontecimento: Deus, em Jesus Cristo, se fez Emanuel,
Deus Conosco! O que isso significa?
Deus estava com o homem e a mulher desde a criação do mundo,
mas após o pecado original o diálogo entre eles se tornou difícil, realizado
através da mediação dos profetas em momentos especiais. Existia uma distância
entre o Criador e sua criatura mais amada e a aliança que os unia era precária,
o pecado do homem muitas vezes a quebrava[1].
Em Cristo Deus entrou pessoalmente na humanidade, se fez um
de nós para falar-nos ao coração e salvar-nos dos nossos pecados. Não como
alguém que está fora, nos observando como expectador impassível, mas como
alguém que entrou na nossa história e dentro dela nos abraçou e nos reconciliou
com o Pai. A nova aliança realizada por Jesus é nova e eterna porque as duas
partes – Deus e homem – são uma pessoa indivisível: Jesus Cristo[2].
O título "Emanuel" provém de Isaias, como ouvimos
na primeira leitura. Acaz, rei de Judá, está ameaçado pelos governantes de Aram
e de Israel e, por isso, a dinastia de Davi, herdeira de tantas promessas
messiânicas (cf. 2Sm 7,12-16), está em perigo, juntamente com o povo (cf. Is
7,1.4-6). O rei de Judá em vez de pedir o auxílio de Deus, prefere imolar
sacrifícios aos ídolos (cf. 2Rs 16,3-4) e buscar aliança com os poderosos da
época, a Assíria (cf. 2Rs 16,7). Apesar do pecado deste homem Deus continua
fiel e promete um descendente que esteja à Sua altura, alguém que fará parte do
povo e trará Deus para o meio dele: um emanu-El
(conosco-Deus).
O evangelho é bem claro, a profecia se cumpre com a
concepção em Maria pela ação do Espírito Santo, mas José precisa participar de
tudo isso para que o menino seja descendente de Davi. De fato era o homem que
colocava o nome na criança (cf. Mt 1,21) e com o nome se concedia àquele rebento
uma família, uma ascendência. Maria não pertencia à tribo de Judá, de onde
devia vir o Rei-Messias, mas José. Sem ele a profecia de Isaias não estaria
completa. Sim, a virgem teria concebido mas a criança não seria descendente de
Davi. Com o mistério da encarnação, Deus entra decididamente na nossa história
e precisa de nós para realizar seu plano de salvação. Que mistério
impressionante!
José, como homem ficou desconcertado ao ver sua noiva[3]
grávida e começou a pensar o que devia fazer. A lei mandava denunciar
publicamente que aquela mulher não era virgem já que estava grávida e sem a
participação do seu prometido esposo (cf. Dt 22,20-21). Isso implicaria o
apedrejamento da mulher. O evangelho de hoje diz que José era justo, e sua
virtude ia além do cumprimento da lei, ele amava a Deus e a sua noiva, não
desejava que nada de mal lhe acontecesse mesmo com toda aquela situação
desconcertante. Para fazer a vontade de Deus acima de tudo - o amor - prefere
abandonar Maria sem dizer nada a ninguém, assim poderiam pensar que o filho era
dele mas que não teve coragem de assumi-lo, assim nada aconteceria com sua
amada.
Enquanto José pensava e decidia tudo isso em seu coração,
discernindo cada coisa a partir da sua compreensão da Palavra e da vida, algo
acontece. Deus envia um anjo ao varão para anunciar-lhe o mistério que Maria
traz em seu ventre e dizer-lhe que ele precisa participar de tão grande dádiva
dando seu nome ao menino, ao Menino Deus.
Quanto tempo perdemos pedindo sinais do céu para descobri a
vontade de Deus para nós. Ficamos imóveis, paralisados, passivos, esperando por
algo que já aconteceu. Deus já nos falou tudo o que precisávamos ouvir e sua
revelação está na Sagrada Escritura e na Tradição da Igreja, mas tudo pode ser
resumido em uma única palavra: Jesus. Você que me escuta e está preocupado com
a vontade Deus para sua vida, não peça sinais nem oráculos, ouça a Boa Nova com
atenção. Com sua inteligência ilumine a sua vida com o que Deus lhe fala nas
Sagradas Escrituras e na pregação da Igreja, e decida o que fazer. O Senhor lhe deu inteligência e vontade para
usá-las especialmente nestes momentos. Foi isso que José fez. Mas a
inteligência de José para discernir a vontade de Deus e sua vontade para
decidir pelo que considerava o melhor não estavam fechadas para o diferente. É
isso que precisamos aprender com esse homem justo.
Jesus ainda é Deus Conosco hoje? Ou o foi apenas do período
da sua concepção até a morte em cruz? No final do evangelho de Mateus ouvimos o
Ressuscitado falando para seus 11 discípulos-apóstolos: “Eis que eu estarei
convosco todos os dias, até ao fim do mundo” (Mt 28, 20). Sim, ele está ainda
conosco. A sua ressurreição inaugurou uma maneira nova de estar no nosso meio,
uma forma espiritual e real, ele sempre será nosso contemporâneo, especialmente
quando a Igreja estiver reunida para oração e para a missão. Aquele que é
Emanuel na concepção é ainda mais Emanuel a partir da ressurreição.
Precisamos agora fazer uma última pergunta: Jesus está
conosco, isso é uma certeza que ninguém pode nos tirar, mas nós estamos com
ele? É verdade que nada pode nos separar de Deus: nem tribulação nem, angústia,
fome, perigo, espada... Em tudo isso somos vencedores graças àquele que nos
amou (cf. Rm 8,35-39). Existe porém, alguém que pode nos separar Dele: nós
mesmos, ou melhor, eu. Podemos virar as costas para Ele e viver como se não
tivesse vindo nos visitar, como se não estivesse conosco e nos falasse[4].
Podemos inclusive manter práticas religiosas, pensar nas coisas de Deus, dizer
que queremos fazer Sua vontade mas permanecemos fechados nas nossas verdades e
nas naquilo que decidimos, sendo o contrário de José.
Jesus será sempre Deus Conosco, mas será que queremos estar
sempre com ele? Nestes últimos dias intensifiquemos nossa oração para pensar sobre
isso e preparar sua vinda.
Pe. Emilio Cesar
Pároco de Guaiuba
[1]
Cf. Raniero
Cantalamessa, La Parola e la vita. Riflessioni
sulla Parola di Dio delle Domeniche e delle feste dell’anno A. 12a Ed., Roma: Città Nuova 2004, p. 26.
[2] Cf. Raniero
Cantalamessa, La Parola e la vita. Riflessioni
sulla Parola di Dio delle Domeniche e delle feste dell’anno A. 12a Ed., Roma: Città Nuova 2004, p. 26-27.
[3] Aquilo que nós chamamos de noivado era na verdade a
primeira etapa do casamento judaico, um compromisso entre os pretendentes e
suas famílias que só poderia ser desfeito por um ato de repúdio (cf. Mt 1,19).
Neste primeiro momento o casal não ainda não podia conviver como marido e
mulher, por isso muitas traduções bíblica preferem utilizar a palavra noivado
(cf. Mt 1,18, nota e).
[4] Cf. Raniero
Cantalamessa, La Parola e la vita. Riflessioni
sulla Parola di Dio delle Domeniche e delle feste dell’anno A. 12a Ed., Roma: Città Nuova 2004, p. 28.
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