terça-feira, 24 de dezembro de 2013

NATAL DO NATAL DO SENHOR - MISSA DA NOITE

Is 9,1-6
Tt 2,11-14
Lc 2,1-14

“Um recém-nascido envolvido em faixas e deitado numa manjedoura” (Lc 2,12).
Passamos quatro semanas sem cantar o hino do glória. Nosso jejum tinha por objetivo não antecipar a alegria desta noite quando nos unimos ao coro daqueles anjos que proclamou pela primeira vez na história: "Glória a Deus no mais alto dos céus" (Mt 2,14). A partir de então este hino foi se desenvolvendo e cantado nas comunidades cristãs. No século IV passou a fazer parte da missa de Natal, depois das eucaristias das festas e dos domingos presididas pelos bispos. No século X passou a aparecer com maior frequência[1].
Por que tanta alegria nesta noite?
"Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor" (Mt 2,10-11). Disse o anjo aos pastores que estavam com muito medo após serem envolvidos pela glória do Senhor (v. 9). O nascimento de uma criança é o motivo de tanto júbilo. Ela irá tirar o povo da escuridão e da morte, fará aumentar a felicidade pois o jugo que oprimia o povo será abatido, os trajes manchados pelo sangue das guerras serão queimados (cf. Is 9,1-4). A criança será um menino-rei, o seu nome é: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai dos tempos futuros, Príncipe da paz (cf. Is 9,5). "Grande será o seu reino e a paz não há de ter fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reinado" (Is 9,6).
O mais impressionante é que essa profecia do período da dominação Assíria (732a.C.) só se cumpriu nesta noite de Natal, há cerca de dois mil anos atrás, em Belém da Judeia. E nos assombra contemplar a forma que Deus a cumpriu: um recém-nascido numa manjedoura porque não existia outro lugar para ele! É deste espetáculo de fraqueza que nos vem a paz e a salvação!?
No tempo em que Jesus nasceu, o imperador César Augusto (cf. Lc 2,1), se fazia chamar salvador e príncipe da paz. Nas moedas que circulavam estava cunhada a sua face e algumas frases como: "restaurador do mundo", "esperado das nações", "representante da luz". Até este momento todos pensavam que só quem era forte, quem possuía exércitos, quem tinha o comando, podia impor aos outros a paz e trazer a salvação. Com o Natal de Cristo, Deus derrubou e modificou todas estas falsas certezas: "Mas o que para o mundo é loucura, Deus o escolheu para envergonhar os sábios, e o que para o mundo é fraqueza, Deus o escolheu para envergonhar o que é forte" (1Cor 1,27). O que é mais tolo para o mundo do que a pobreza, e mais fraco do que  uma criança? Por isso Ele resolveu dar aos pastores e a nós este sinal: Um recém-nascido envolvido em faixas e deitado numa manjedoura (cf. Lc 2,12)[2]!
Só Deus podia pensar numa mudança tão radical da lógica humana: no ponto mais alto da escala de valores não está mais a riqueza, o poder, a honra ou a autoridade, mas a pobreza e a humildade. O Verbo poderia ter se encarnado e nascido em Roma, na casa do imperador, filho do mais poderoso homem da terra. Assim ele continuaria sendo verdadeiro homem e verdadeiro Deus, a encarnação continuaria teologicamente perfeita. Mas se assim fosse, teria dito "sim" àquilo que os homens sempre pensaram. Nada de verdadeiramente novo teria começado.
Para ti Senhor, mais do que fazer-te homem, era importante fazer-te pobre e humilde. Assim deste uma esperança real aos pobres da terra, aos abandonados e aos que não contam. Deste uma esperança a todo o povo, porque nem todos podem ser ricos, mas todos podem se tornar humildes[3].
Os grandes, os poderosos, os fortes, os ricos, os sabidos... não nos causam mais medo, são os pobres e os humildes que foram escolhido para receberem esta Boa notícia (cf. Mt 11,26).

Pe. Emilio Cesar
Pároco de Guaiuba




[1] José Aldazábal. Vocabulário básico de liturgia. São Paulo: Paulinas, 2013 (Coleção fonte viva), p. 157.
[2] Cf. Raniero Cantalamessa, La Parola e la vita. Riflessioni sulla Parola di Dio delle Domeniche e delle feste dell’anno A. 12a Ed., Roma: Città Nuova 2004, p. 31-32.
[3] Raniero Cantalamessa, La Parola e la vita. Riflessioni sulla Parola di Dio delle Domeniche e delle feste dell’anno A. 12a Ed., Roma: Città Nuova 2004, p. 32 (Tradução livre).

Nenhum comentário:

Postar um comentário