domingo, 26 de janeiro de 2014

III DOMINGO DO TEMPO COMUM



Is 8,23B-9,3
1Cor 1,10-13.17
Mt 4,12-23

"Convertei-vos porque o Reino dos Céus está próximo" (Mt 4,17).

É uma alegria para mim participar desta celebração com vocês, fiéis da Paróquia da Paz. Graças ao convite do Pe. Virgínio, posso celebrar na comunidade que participei durante minha infância e juventude, e tentar descobrir o que Deus deseja nos ensinar através das leituras que a Igreja escolheu para hoje.
 
A profecia de Isaías que ouvimos pode ser colocada no ano de 732 a.C., quando o governante da Assíria (Teglat-Falasar III) deportou os israelitas de suas terras (norte da Palestina). Foi uma grande humilhação para o povo. Mas agora, o próprio Senhor promete aos exilados exaltá-los, cobrindo-os de glória; resplandecer sua luz para os que caminhavam nas sombras da morte, fazer crescer a alegria e aumentar a felicidade dos que estavam abatidos pelo peso da opressão (cf. Is 8,23b; 9,1). Essa promessa se alarga e atinge todos homens e mulheres que estão sob o domínio do mal e da escravidão. A humanidade que se perdeu e está curvada sob o peso da própria experiência, ou escrava de patrões que colocaram algemas em suas mãos e correntes em suas almas[1]. A profecia de Isaías é também dirigida a estes e, para nós, cristãos, ela se cumpre plenamente em Jesus.

Após a prisão de João Batista, Jesus volta para Galiléia, mas deixa Nazaré para morar em Cafarnaum, a região citada em Is 8. O evangelho de Mateus faz questão de dizer que isso aconteceu para cumprir a profecia que escutamos na primeira leitura (cf. Mt 8, 14-15). O lugar que foi palco de humilhação, exílio e trevas, conhece agora a luz: Jesus (cf. Jo 8,12). Ele mesmo proclama a luz na sua pregação: “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo” (Mt 4,17). Que pregação é esta? O que ela quis dizer ao seu tempo e hoje?

Tanta coisa se escreveu sobre o Reino de Deus, e tanto se fala dele, mas sempre temos dificuldade de entender mais claramente e às vezes o identificamos com uma sociedade totalmente regida pelos valores do Novo Testamento ainda sobre a terra. Acredito que o evangelho de hoje é muito elucidativo. Logo após a sua pregação inicial, que é igual a de João (cf. Mt 3,2) e a dos apóstolos (cf. Mt 10,7), Jesus convida algumas pessoas para segui-lo: “Segui-me” (Mt 4, 19.21). Quatro homens deixaram imediatamente o trabalho e a família e passaram a seguir Jesus. Eles “se converteram”, viraram as costas para aquilo que tinham de mais importante – seu trabalho e família – para seguir o Mestre. Neste momento Pedro, André, João e Tiago entram no Reino de Deus, se submetem aos Senhorio do Altíssimo. colocando no centro de suas vidas a própria pessoa e ensinamento de Jesus. Esse discipulado não se conclui com 3 ou 4 anos. Nem tem por finalidade aprender a Torá na prática da vida, mas aderir a Jesus e seus ensinamentos, formando uma comunidade dos seguidores que posteriormente serão enviados em missão. Esse discipulado é para vida inteira.

Isso é o Reino do Céus, uma comunidade de pessoas fracas que colocam no centro da sua vida Jesus e seus ensinamentos, deixando para trás (conversão) aquilo que antes era valor supremo: família, trabalho, carreira, sucesso, dinheiro. Esse processo de conversão é inicialmente doloroso, mas provoca uma libertação tão grande que leva a pessoa a experimentar aquilo que ouvimos na primeira leitura: glória, luz, alegria, felicidade. Nem todos os discípulos de Jesus são chamados a deixarem efetivamente suas famílias e trabalhos, mas todos precisam fazer isso em intenção: Jesus, eu quero te seguir e farei o que for preciso, mesmo deixar tudo. Na prática essa disposição se manifesta em tempo para participar da missa dominical na minha comunidade, tempo para oração, para cuidar da família que Deus lhe deu, para se engajar em uma comunidade cristã. Muitos católicos enchem a boca dizendo que tem muita fé, mas a prática mostra uma realidade bem diferente. Nunca têm tempo para Deus, nem para Sua Igreja, muito menos para os pobres. Está crença é somente fé em si mesmo, e no reino que a pessoa deseja criar. Jesus, porém, não anunciou o reino de cada um de nós, mas o do seu Pai.

Qual é o sinal mais efetivo que acolhi a pregação de Jesus, “deixei minha vida” (conversão) para segui-lo? É a participação em uma comunidade cristã, uma comunidade eclesial. Muitos de nós católicos assistimos a missa todos os domingos no lugar que é mais cômodo para nós, mas nossa dimensão eclesial muitas vezes para aí. Qual é sua comunidade? Qual é sua nova família instaurada pelos laços da fé? O Reino de Deus, apesar de não se identificar totalmente com a comunidade cristã/eclesial, tem uma relação intrínseca com ela (cf. Mt 16,18). É verdade que o Reino também existe fora da Igreja; e o pior, dentre da comunidade eclesial existem pessoas que estão fora do Reino, porque escolheram o mal. Mas Jesus deixou sua comunidade para que fosse o lugar por excelência onde a sua luz e alegria reinassem e se manifestassem para os que não creem. Será que nós, cristãos, estamos vivendo isso e dando testemunho ao mundo que anda nas trevas? Se um ateu estivesse na nossa assembleia, ou se encontrasse conosco após a celebração dominical da nossa comunidade, ele ficaria questionado ao menos com nosso semblante de felicidade? Se somos cristãos tristes é porque o anúncio do Evangelho ainda não desceu em profundidade no nosso coração ao ponto de podermos experimentar a alegria, mesmo em meio às tribulações, como o Apóstolo Paulo (cf. 2Cor 7,4)[2].

A santa missa dominical é o lugar onde fazemos essa experiência comunitária. Chegamos aqui como aqueles israelitas da primeira leitura: aflitos, cansados, tristes; mas depois de nos alimentarmos da Palavra, da fraternidade e do Pão eucarístico, sairemos cheios de alegria e seremos, assim, testemunhas para o mundo que jaz triste nas trevas. Por isso, no final da celebração, a Igreja nos dirá: “A alegria do Senhor seja a vossa força (Ne 8,10). Ide em paz e o Senhor vos acompanhe”.



Pe. Emilio Cesar
Pároco de Messejana





[1] Cf. Raniero Cantalamessa, La Parola e la vita. Riflessioni sulla Parola di Dio delle Domeniche e delle feste dell’anno A. 12a Ed., Roma: Città Nuova 2004, p. 149.
[2] Raniero Cantalamessa, La Parola e la vita. Riflessioni sulla Parola di Dio delle Domeniche e delle feste dell’anno A. 12a Ed., Roma: Città Nuova 2004, p. 150s.

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