Lv 19,1-2.17-18
1Cor 3,16-23
Mt 5,38-48
Continuamos ouvindo o discurso da montanha. Na passagem de
hoje, Jesus nos apresenta o seu mandamento novo, o ápice da ética cristã: dar a
outra face a quem nos bate e amar nossos inimigos.
Diante de palavras tão duras e difíceis de serem colocadas
em prática, nós pregadores temos a tentação de deturpá-las e explicar de uma
forma a tirar toda radicalidade e escândalo deste ensinamento do nosso Mestre.
Aqui, porém, está a novidade do cristianismo em relação ao judaísmo e todas as
outras religiões. É a pedra de toque para sabermos se alguém é ou não discípulo
de Jesus.
O Antigo Testamento apresentou uma máxima conhecida como lei
de talião: “Olho por olho, dente por dente” (cf. Ex 21,24; Lv 24,1-20; Dt 19,21).
Ela era uma limitação à vingança desmedida praticada anteriormente pelos povos
da época (cf. Gn 4,23-24). E em relação aos compatriotas, a lei prescrevia o
perdão (cf. Lv 19,17-18). Jesus, porém, dá um passo ulterior: “se alguém te dá
um tapa na face direita, oferece-lhe também a esquerda!” (Mt 5,39). Sempre
gosto de lembrar que o que Jesus pede não é que façamos isso literalmente, ele
mesmo revidou contra o soldado que lhe bateu durante seu julgamento perguntando-lhe
o que ele tinha feito de mal para merecer aquilo (cf. Jo 18,22-23). “Dar a
outra face” significa não revidar o mal que sofremos com outro mal, e ainda
mais, revidar o mal com o bem. Se uma pessoa lhe bate com palavras ou ações que
lhe prejudicam a tendência natural de qualquer pessoa sadia é fazer o mesmo, é
se vingar. Nosso Mestre está nos pedindo que não nos deixemos levar pela nossa
inclinação natural mas escolhamos o caminho do amor, mesmo em relação à pessoa
que nos fez mal. Continuamos falando com ela, não alimentamos pensamentos de
vingança, se ela precisar da nossa ajuda estaremos preparados para lhe fazer o
bem... Isso é amor. Não importa se dentro de você ainda existe o sentimento de
mágoa, ou mesmo de rancor. Se você não se deixa levar por eles, se você escolhe
o caminho de Jesus, você está vivendo o amor.
Por que somos convidados a fazer isso? Porque nosso Pai age
assim e se queremos ser parecidos com Ele, se queremos ser de fato seus filhos,
precisamos amar como Ele nos ama. Deus faz nascer o sol sobre os bons e maus,
faz cair a chuva sobre os justos e os injustos, ou seja, Deus nos faz o bem
mesmo quando Lhe fazemos o mal. E está sempre preparado a nos perdoar quando
Lhe pedimos perdão. A frase “sede perfeitos como o vosso Pai celeste é
perfeito!” (Mt 5,48) não deve ser compreendida como um convite ao
perfeccionismo neurótico. A perfeição de Deus apresentada nessa passagem é
oposta a esse transtorno, é a misericórdia. Amar o outro mesmo com suas
fraquezas, limitações, pecados... misérias. Ser perfeito é aceitar o próximo
com seus pecados e perdoá-lo sempre, assim como Deus faz conosco.
Em última instância a santidade cristã é isso. Quando Jesus
falou do julgamento final em Mt 25 (vv. 31-46) deixou bem claro o que será
determinante para estar ao seu lado direito (ovelhas, justos) ou esquerdo
(cabritos, ímpios): o bem que se fez a um de seus irmãos mais pequeninos (cf.
Mt 25, 40); aqueles que não podem retribuir com reconhecimento, favores ou
presentes. S. João da Cruz, com uma frase lapidar, resume tudo o que foi dito: “no
entardecer da vida, seremos julgados sobre o amor”[1].
Para que serve a oração nesse caminho de misericórdia? Serve para nos unir ao
Amor e nos dar força para agir como Ele.
Façamos um momento de silencia e deixemos que a Palavra nos
questione se estamos trilhando o caminho do amor cristão.
Pe. Emilio Cesar
Pároco de Messejana
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