sábado, 22 de fevereiro de 2014

VII DOMINGO TEMPO COMUM



Lv 19,1-2.17-18
1Cor 3,16-23
Mt 5,38-48

“Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48).
Continuamos ouvindo o discurso da montanha. Na passagem de hoje, Jesus nos apresenta o seu mandamento novo, o ápice da ética cristã: dar a outra face a quem nos bate e amar nossos inimigos.
Diante de palavras tão duras e difíceis de serem colocadas em prática, nós pregadores temos a tentação de deturpá-las e explicar de uma forma a tirar toda radicalidade e escândalo deste ensinamento do nosso Mestre. Aqui, porém, está a novidade do cristianismo em relação ao judaísmo e todas as outras religiões. É a pedra de toque para sabermos se alguém é ou não discípulo de Jesus.
O Antigo Testamento apresentou uma máxima conhecida como lei de talião: “Olho por olho, dente por dente” (cf. Ex 21,24; Lv 24,1-20; Dt 19,21). Ela era uma limitação à vingança desmedida praticada anteriormente pelos povos da época (cf. Gn 4,23-24). E em relação aos compatriotas, a lei prescrevia o perdão (cf. Lv 19,17-18). Jesus, porém, dá um passo ulterior: “se alguém te dá um tapa na face direita, oferece-lhe também a esquerda!” (Mt 5,39). Sempre gosto de lembrar que o que Jesus pede não é que façamos isso literalmente, ele mesmo revidou contra o soldado que lhe bateu durante seu julgamento perguntando-lhe o que ele tinha feito de mal para merecer aquilo (cf. Jo 18,22-23). “Dar a outra face” significa não revidar o mal que sofremos com outro mal, e ainda mais, revidar o mal com o bem. Se uma pessoa lhe bate com palavras ou ações que lhe prejudicam a tendência natural de qualquer pessoa sadia é fazer o mesmo, é se vingar. Nosso Mestre está nos pedindo que não nos deixemos levar pela nossa inclinação natural mas escolhamos o caminho do amor, mesmo em relação à pessoa que nos fez mal. Continuamos falando com ela, não alimentamos pensamentos de vingança, se ela precisar da nossa ajuda estaremos preparados para lhe fazer o bem... Isso é amor. Não importa se dentro de você ainda existe o sentimento de mágoa, ou mesmo de rancor. Se você não se deixa levar por eles, se você escolhe o caminho de Jesus, você está vivendo o amor.
Por que somos convidados a fazer isso? Porque nosso Pai age assim e se queremos ser parecidos com Ele, se queremos ser de fato seus filhos, precisamos amar como Ele nos ama. Deus faz nascer o sol sobre os bons e maus, faz cair a chuva sobre os justos e os injustos, ou seja, Deus nos faz o bem mesmo quando Lhe fazemos o mal. E está sempre preparado a nos perdoar quando Lhe pedimos perdão. A frase “sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito!” (Mt 5,48) não deve ser compreendida como um convite ao perfeccionismo neurótico. A perfeição de Deus apresentada nessa passagem é oposta a esse transtorno, é a misericórdia. Amar o outro mesmo com suas fraquezas, limitações, pecados... misérias. Ser perfeito é aceitar o próximo com seus pecados e perdoá-lo sempre, assim como Deus faz conosco.
Em última instância a santidade cristã é isso. Quando Jesus falou do julgamento final em Mt 25 (vv. 31-46) deixou bem claro o que será determinante para estar ao seu lado direito (ovelhas, justos) ou esquerdo (cabritos, ímpios): o bem que se fez a um de seus irmãos mais pequeninos (cf. Mt 25, 40); aqueles que não podem retribuir com reconhecimento, favores ou presentes. S. João da Cruz, com uma frase lapidar, resume tudo o que foi dito: “no entardecer da vida, seremos julgados sobre o amor”[1]. Para que serve a oração nesse caminho de misericórdia? Serve para nos unir ao Amor e nos dar força para agir como Ele.
Façamos um momento de silencia e deixemos que a Palavra nos questione se estamos trilhando o caminho do amor cristão.



Pe. Emilio Cesar
Pároco de Messejana



[1]  São João da Cruz, Avisos y sentencias, 57

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