1Sm 16,1b.6-7.10-13a
Ef 5,8-14
Jo 9,1-41
Eu sou a luz do mundo!
Crês nisto? (cf. Jo 9,5.35)
Continuamos nosso caminho de preparação para o batismo dos
catecúmenos e, consequentemente, de renovação do nosso. O longo evangelho de
hoje nos ajudará a refletir sobre outro elemento do batismo: a luz.
A riqueza do texto não poderá ser explorada toda, precisamos
nos deter nos elementos mais importantes. Em primeiro lugar, o encontro de
Jesus com aquele cego de nascença, o encontro da Luz do mundo com alguém que se
encontrava nas trevas desde seu nascimento. Após o gesto insólito de passar
lama nos olhos daquele homem, o Mestre manda lavar-se na piscina de Siloé, que
significa “Enviado”. É no momento que ele se lava nas águas que passa a enxergar.
A Igreja leu e lê essa passagem à luz do sacramento do batismo. O banho nas
águas do batismo concede aos cegos de nascença, ou seja, nós que somos
pecadores, a visão, a luz. Isso é um dom divino, uma dádiva que precisa ser
acolhida com gratidão e fé. É por isso que no dia do batismo cada um recebe uma
vela acesa no círio e escuta o padre dizendo: "Deus tornou vocês luz em
Cristo. Caminhem sempre como filhos da luz, para que, perseverando na fé,
possam ir ao encontro do Senhor com todos os Santos no reino celeste"[1].
Esse dom, porém, pressupõe fé em Cristo.
Após a cura, percebemos 6 cenas que narram diversos
encontros e questionamentos, parece um verdadeiro processo em tribunal: os
vizinhos e o ex-cego (vv. 8-12); os fariseus e o homem curado (vv. 13-18a); os
pais do cego e as autoridades judaicas (vv. 18b-23); o curado e os fariseus
(vv. 24-34); Jesus e aquele que passou a enxergar (vv. 35-39); Jesus e o
fariseus cegos (vv. 39-41). Por um lado, os fariseus progressivamente vão
pressionando o homem curado até acusá-lo de discípulo de Jesus e de pecador.
(v. 28.34). A sentença é a expulsão da sinagoga (cf. v. 34).
Por outro lado, existe um outro processo mais importante: o
de Jesus. Diante de todos os questionamentos dos vizinhos e dos fariseus, o ex-cego
começa a se comprometer cada vez mais com aquele que lhe curou. Parece até que
ele vai crescendo nas suas profissões de fé: "Aquele homem chamado
Jesus..." (v. 11); "como pode um pecador fazer tais sinais?" (v.
16); "É um profeta" (v. 17); "se esse homem não viesse de Deus,
não poderia fazer nada" (v. 33). Até o momento que ele encontra o Filho do
Homem e faz sua adesão total a Ele: "'Eu creio, Senhor!' E
prostrou-se..." (v.38). É então Jesus emite a sentença: "Eu vim a
este mundo para exercer um julgamento, a fim de que os que não veem, vejam, e
os que veem se tornem cegos" (v. 39). Aquele homem foi absolvido por
Jesus, ele passou das trevas para a luz, da incredulidade para a fé em Cristo.
A adesão à pessoa de Jesus foi total: uma profissão de fé e o ato mais profundo
de adoração, o jogar-se no chão. É precisamente este caminho que nós, batizados
na infância, precisamos fazer: um crescimento na fé, na luz que Cristo nos deu
no batismo!
O processo não acabou. A sentença de Jesus mostrou que os
fariseus se condenaram pelo seu endurecimento cada vez maior contra aquele que
era cego e contra o próprio taumaturgo. E eles percebem: "Por ventura,
também nós somos cegos?" (v. 40). Se vocês se reconhecessem cegos, diz o
Senhor, como este homem, vocês poderiam ser iluminados pela minha luz. Mas como
vocês acham que veem muito bem, permanecem nas trevas, no pecado, não podem ser
iluminados (cf. v. 41)
Meus irmãos, recebemos nosso batismo quando pequenos, mas
nossos pais se comprometeram de nos dar uma educação religiosa consistente:
ensinar as orações, os mandamentos de Deus e da Igreja, ler partes do evangelho
para nós e, principalmente, nos trazer para celebrações dominicais. Se eles
tivessem feito isso com esmero, seria bem mais fácil o dom da fé ter nascido e
se desenvolvido nos nossos corações. Pena que muitos de nós que aqui estamos
não receberam essa educação que nossos pais prometeram no dia do sacramento.
Por isso, claudicamos na fé. Precisamos, então aproveitar esse tempo de
quaresma para fazer o caminho que o cego curado fez. A luz de Cristo que nos
foi dada no batismo precisa crescer dentro de nós, e ela cresce graças à escuta
da Palavra que alimenta nossa fé e nos conduz à prática da caridade.
Agora falo especialmente aos pais. Ofereçam aos seus filhos
uma sólida educação religiosa para que eles também possam encontrar
pessoalmente Jesus e receberem o dom da fé que ilumina toda a vida da pessoa. É
essa a melhor herança que vocês podem deixar para seus filhos: a educação
religiosa cristã.
Por fim, precisamos aprender com o cego curado o destemor no
testemunho. Ele não teve medo de dizer o que tinha acontecido com ele, nem de
tomar o partido de Jesus, mesmo sem conhecê-lo bem, e sofreu as consequências
dessa sua postura. Muitos de nós temos vergonha ou medo de, quando necessário,
assumir publicamente nossa fé. Preferimos nos esquivar ou nos esconder por trás
de justificativas pífias, mas a verdade é que nos parecemos com os pais do
cego: tinham medo das consequências negativas que que os atingiriam se testemunhassem
publicamente Jesus (v. 22). Além do medo e da vergonha, nossa falta de
testemunho público vem pela nossa despreparação intelectual. Não conhecemos
nossa fé ao ponto de podermos oferecer a quem perguntar, ou quando precisar,
suas razões.
Tudo que falamos nos indica uma urgência: precisamos crescer
na fé! Seja na fé-confiança em Jesus, seja na fé-adesão às suas palavras.
Pe. Emilio Cesar
Pároco de Messejana
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