Ez 37-12-14
Rm 8,8-11
Jo 11,1-445
Eu sou a ressurreição
e a vida. Crês isto? (cf. Jo 11,25.26)
Estamos no quinto domingo da quaresma. Ouvimos a proclamação
de mais um longo evangelho que nos prepara definitivamente para aquilo que
iremos viver na próxima semana: a paixão de Nosso Senhor. Lembremos ainda que
hoje poderia acontecer o terceiro e último escrutínio (prova) dos adultos que
estariam se preparando para o batismo, seguido de uma oração de exorcismo[1].
A passagem de hoje é muito importante para o evangelho de
João. Ela funciona como uma dobradiça entre a primeira parte deste livro
(narrativa dos sinais de Jesus) e segunda (narrativa da hora de Jesus). É esta
cura que fará o drama da paixão iniciar (v. 45) e, por outro lado, vai revelar
o significado profundo da morte de Jesus e prefigurar a sua ressurreição[2].
O episódio da ressurreição de Lázaro ocupa no quarto
evangelho um lugar semelhante ao da transfiguração nos sinóticos[3]:
antes de enfrentar a paixão, Jesus oferece aos discípulos confusos uma
antecipação da ressurreição, para lhes mostrar o significado profundo e
inesperado da cruz, caminho de vida e vitória, não de morte e derrota[4].
Ouvindo a Boa nova de hoje descobrimos que a doença de
Lázaro, que o leva à morte, é para a glória de Deus (v.4), ou seja, destinada a
se tornar lugar da revelação de Jesus, lugar no qual o poder de Deus se manifesta
como ressurreição (v. 40). Os dois diálogo de Marta com o Mestre nos mostram
isso (v. 21-28.39-40).
Marta acreditava na ressurreição final, aquela que irá
acontecer no último dia (v. 24). Mas ainda não sabia que esta ressurreição
precisava passar pela fé em Jesus e já começa imediatamente[5]:
“Eu sou a ressurreição e a
vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e crê em
mim, não morrerá jamais. Crês isto?” Respondeu ela: “Sim, Senhor, eu creio
firmemente que tu és o Messias, o Filho de Deus, que devia vir ao mundo” (v.
25-27).
Podemos dizer que a irmã de Lázaro, com o seu
"creio", passa de uma fé judaica a uma fé cristã. Ela passa a
acreditar que o Messias veio ao mundo para dar a ressurreição e a vida.
Com essa explicação bíblica podemos entender melhor a
interpretação litúrgica dessa passagem oferecida pelo prefácio de hoje:
Verdadeiro homem, Jesus chorou
o amigo Lázaro. Deus vivo e eterno, ele o ressuscitou, tirando-o do túmulo.
Compadecendo-se da humanidade, que jaz na morte do pecado, por seus sagrados
mistérios ele nos eleva ao Reino da vida nova[6].
Lázaro no sepulcro é o símbolo de toda a humanidade morta
pelo pecado (cf. Rm 5,12). Por outro lado, o amor de Jesus por Lázaro (v. 35) é
sinal do amor dele por cada homem e mulher que repousa nesta situação de morte.
Por causa de sua compaixão pelo pecador, ele o chama à vida através da fé,
fruto do anúncio da Palavra na Igreja, e através do batismo. É precisamente
nestes dois momentos, no ato de fé em Cristo e no batismo, que acontece o milagre
da ressurreição e da vida, o milagre do amor derramado em nossos corações (cf.
Rm 5,5).
Como nos ensinou a primeira leitura, a morte pode ser até
uma situação de injustiça que nos envolve, nos aprisiona e é bem maior que
nossas capacidades. O povo exilado na Babilônia já tinha perdido a esperança de
retornar à casa (cf. Ez 37,11). Era como cadáveres que jaziam nos seus
sepulcros. Quando tudo parece perdido, Deus fala através do profeta: "Ó
meu povo, vou abrir as vossas sepulturas e conduzir-vos para a terra de
Israel... Porei em vós o meu espírito, para que vivais e vos colocarei em vossa
terra" (Ez 37,12.14). A Palavra do Senhor vai fazer uma nova criação
graças ao seu espírito infundido em cada uma das pessoas de seu povo (Ez 37,4).
Mais uma vez é importante repetir. Tudo isso acontece para nós no momento do
nosso batismo e da fé em Cristo.
Ouçamos a palavra que Jesus dirigiu a Lázaro naquele dia
como se fosse para nós hoje: Lázaro (José, Maria, Emilio, Joana...), vem para
fora! Sai do teu sepulcro e cria vida; sai do reino da morte e vem para o Reino
da vida nova! Deixe essa Palavra agir em você, renovar sua fé e a graça do seu
batismo, produzindo ressurreição e vida.
Pe. Emilio Cesar
Pároco de Messejana
[1] Ritual
de Iniciação Cristã de Adultos (RICA), n. 174-179.
[2] Cf.
Fabris, R. – Maggioni,
B., Os Evangelhos II. 4ª ed., São
Paulo: Loyola 2006 (Bíblica Loyola 2), p. 392.
[3] Evangelhos
de Mateus, Marcos e Lucas.
[4] Cf. Fabris, R. – Maggioni,
B., Os Evangelhos II. 4ª ed., São
Paulo: Loyola 2006 (Bíblica Loyola 2), p. 392
[5] Cf. Fabris, R. – Maggioni,
B., Os Evangelhos II. 4ª ed., São
Paulo: Loyola 2006 (Bíblica Loyola 2), p. 393s.
[6] Prefácio
do V domingo da quaresma.
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