2 Sm 7,4-5a.12-16
Rm 4,13.16-18.22
Mt 1,16.18-21.24a
“José era justo” (Mt
17,5).
A Igreja, no mundo inteiro, faz uma pausa na Quaresma para
celebrar a solenidade de S. José, esposo de Maria, pai adotivo de Jesus,
padroeiro da Igreja universal e do nosso Estado do Ceará.
O evangelho que lemos diz que José era um homem justo (cf.
Mt 1,19). O que significa ser justo? Em primeiro lugar, precisamos dizer o que
não significa. A justiça não está no cumprimento minucioso da lei. De fato,
José, se quisesse cumprir as prescrições do Antigo Testamento, precisaria
denunciar publicamente Maria que, consequentemente, seria apedrejada (cf. Dt
22,20-21).
Na segunda leitura descobrimos que a justiça pertence a Deus
e Ele a concede a todos que creem no seu Filho: Irmãos, “não foi por causa da
Lei, mas por causa da justiça que vem da fé que Deus prometeu o mundo como
herança a Abraão ou à sua descendência” (Rm 4,13). Aquele que acredita em Jesus
Cristo e se entrega a Deus se torna justo, herdeiro, filho, perdoado. Palavras
sinônimas para tentar explicar o que é esta justiça de Deus. Abraão foi o
primeiro justo, porque acreditou em Deus e nas suas promessas; por isso se
tornou pai de uma multidão. Ele é nosso pai na fé, tanto para os judeus quanto
para os cristãos (cf. Rm 4,16).
Quando a Igreja coloca esta passagem da Carta de S. Paulo
aos Romanos, ela está nos sugerindo que José era justo porque, em primeiro
lugar, acreditava em Deus e vivia consequentemente. Foi essa confiança absoluta
em Deus que fez dele o pai de Jesus, mesmo não o tendo gerado segundo a carne.
E através de Jesus, ele se tornou “padroeiro” (pai) de todos os cristãos
católicos, graças a sua fé!
Mas quando o evangelho fala da justiça de José está visando
mais a dimensão da ação: ele era um homem que procurava em tudo fazer a vontade
de Deus. Ele sabia que a lei prescrevia a lapidação para a mulher que perdesse
a virgindade antes de coabitar com seu esposo; e Maria estava grávida! A
dedução lógica era que ela o tinha traído. Mas ele não desejava aquele fim para
a mulher que tanto amava. Por isso, preferiu fugir e, indiretamente, assumir a
culpa daquela situação. As pessoas ficariam pensando que tinha sido ele, mas,
por algum motivo, não quis assumir. Essa era a justiça de José nesta sua
decisão. Deus, porém, quis levar aquele homem a uma justiça mais profunda.
Enviando um mensageiro, contou-lhe tudo o que tinha
acontecido com Maria: “José, filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria
como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. Ela dará à
luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois Ele vai salvar o seu povo dos
seus pecados” (Mt 1,21). Quando acordou do sonho, José fez tudo o que o anjo
lhe tinha dito, passando assim para uma justiça que vai além de seus projetos
de vida e das aparências humanas. Ele ia ser esposo de uma mulher que estava
grávida pela ação do Espírito Santo, iria dar ao menino o seu nome e sua
ascendência e aquele rebento seria o salvador do povo! Apesar da grandiosidade
da sua missão, tudo parecia continuar como antes. José precisou de um ato de fé
profundo para fazer tudo isso. A vocação de José foi muito parecida coma
vocação de Abraão; por isso que ele se tornou padroeiro da Igreja universal,
pai de muitos povos.
Por outro lado, José deu uma colaboração única na história
da salvação. Jesus só é conhecido como “filho de Davi”, o Messias anunciado em
tantas profecias, porque José aceitou acolhê-lo como filho e dar-lhe o nome.
Dar o nome significa reconhecer aquela criança como sua. Assim a tribo de José
se tornou a tribo de Jesus, que era a mesma do rei Davi.
Compreendendo essa relação entre José, Jesus e Davi é que
podemos entender a primeira leitura. Davi não construiu um templo como
desejava. Por isso o Senhor disse através de Natã: “Será ele [um filho teu] que
construirá uma casa para meu nome, e eu firmarei para sempre o seu trono real...
Tua casa e teu reino serão estáveis para sempre diante de mim, e teu trono será
firme para sempre” (2 Sm 7, 13.14a). Sabemos que essa profecia se cumpriu em
parte com Salomão, mas o alcance dela é bem maior. A casa do Senhor não é
apenas o templo e o reino de Salomão não permaneceu estável para sempre. Por
isso acreditamos que o verdadeiro descendente de Davi que cumpriu essa profecia
foi Jesus. Ele, juntamente com sua Igreja, é o verdadeiro templo de Deus; e seu
Reino permanece estável ainda hoje. Lembremos, porém, que Jesus só é
reconhecido como “filho de Davi” graças a José!
José nos ensina o que significa ser homens e mulheres justos.
Pessoas que confiam no Senhor, procuram conhecer e cumprir sua vontade, mesmo
que ela vá contra seus projetos mais imediatos ou contra a normalidade da vida
e os clichês da sociedade que olha apenas para as aparências. Confiar em Deus e
na sua Palavra/promessa mesmo que tudo continue tão normal ou adverso ao que o
Senhor falou.
Pe. Emilio Cesar
Pároco de Messejana
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