Is 52,13 – 53,12
Hb 4,14-16; 5,7-9
Jo 18,1 – 19,42
"Tudo está
consumado" (Jo 19,30)
Ontem celebrávamos a páscoa litúrgica, o memorial que o
Senhor nos deixou para perpetuar a sua entrega amorosa no alto da cruz. Hoje
retiramos da Igreja todos os sinais desta páscoa: o sacrário está sem o
Santíssimo Sacramento, sua porta escancarada, sua lâmpada apagada; o altar está
sem toalhas e velas, no início da celebração o padre não o beijou porque sobre
ele não será celebrado o sacrifício de Cristo. Um grande silêncio toma conta da
Igreja e do mundo porque hoje celebramos a páscoa histórica de Jesus. O momento
em que ele morreu na cruz há dois mil anos atrás, quando seu amor pelo mundo
atingiu o ápice, quando ele amou até o fim.
A nível de acontecimento, sabemos que a morte de Jesus
realmente ocorreu. Além do testemunho dos apóstolos e dos evangelhos, o
historiador romano Tácito, no final do primeiro século, nos confirma que Jesus
foi condenado ao suplício por Pôncio Pilatos. Sabemos também que, apesar da
história não poder confirmar com dados, ele realmente ressuscitou ao terceiro
dia. S. Paulo possui uma passagem que nos ajuda a entender bem o que estamos
falando: “De fato, eu vos transmiti, antes de tudo, o que eu mesmo tinha recebido,
a saber: que Cristo morreu (...), foi sepultado e, ao terceiro dia, foi
ressuscitado...” (1Cor 15,3-4. Cf. Rm 4,25). O apóstolo dos gentios, que não
tinha vivido com Jesus, sabe da importância das raízes históricas daquilo que
anuncia. Por isso ele salienta: eu vos transmiti aquilo que eu mesmo recebi
(subentendido: daqueles que viveram em primeira pessoa estes acontecimentos). A
mensagem cristã não é fundamentada em ideias ou filosofias, mas na história. Cristo
morreu de verdade e verdadeiramente ressuscitou. Precisamos, porém, dar um
passo a mais e nos questionar o significado
de tudo isso.
Encontramos a resposta na primeira leitura apresentada pela
Igreja: "Nós pensávamos que fosse um chagado, golpeado por Deus e
humilhado! Mas ele foi ferido por causa
de nossos pecados, suas feridas era o preço da nossa cura" (Is
53,4-5). S. Paulo escreve: “Cristo morreu pelos
nossos pecados (...), foi sepultado e, ao terceiro dia, foi ressuscitado,
segundo as Escrituras” (1Cor 15,3-4). Esse é o mistério que está por trás da
paixão, morte e ressurreição: Jesus assumiu o nosso lugar de pecador para que
pudéssemos ter o perdão e a vida nova. Se lembrarmos do evangelho de ontem,
quando ele lavou os pés dos seus apóstolos, vamos entender melhor o que
acontece hoje. O supremo ato de serviço que Jesus realizou por nós, a maior
humilhação que Ele escolheu viver: o amor até o fim.
Contemplando esse acontecimento e o seu significado, não façamos como Pedro ameaçou fazer no evangelho de ontem: Tu não me lavarás os pés; tu não farás gesto tão humilhante por mim! Mas aceitemos o que Jesus fez por nós e professemos nossa fé como S. Paulo: “Minha vida atual na carne, eu a vivo na fé, crendo no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gl 2,20)
Pe. Emilio Cesar
Pároco de Messejana
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