sexta-feira, 18 de abril de 2014

MISSA DA CEIA DO SENHOR

Ex 12, 1-8.11-14
1Cor 11,23-26
Jo 13,1-15

"Amou-os até o fim" (Jo 13,1)

Esta tarde, ou noite, a Igreja celebra a Ceia do Senhor. O momento que Jesus sentou-se à mesa com seus apóstolos, tomou o pão e o vinho e disse: “Isto é o meu corpo... Isto é o meu sangue... Fazei isto em memória de mim”. Ele deu aos seus apóstolos o memorial daquilo que iria acontecer historicamente algumas horas depois, sua morte e ressurreição (páscoa histórica). Por isso, podemos afirmar que esta é a páscoa litúrgica, que permite perpetuar através de todos os tempos a única páscoa de Jesus, trazendo seus efeitos para quem dela participa. Nesta missa também recordamos a instituição do sacerdócio e o novo mandamento do amor.

O evangelho de hoje vai nos ajudar a aprofundar a realidade que está por trás de tudo o que viveremos nestes dias: “Jesus sabia que tinha chegado a sua hora de passar (páscoa) deste mundo para o Pai; tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). O amor é o que está por trás do mistério da paixão e morte do Senhor. E o amor que Ele tem por cada um dos seus. Ninguém o obrigou a sofrer, ninguém o agarrou contra a sua vontade, Ele não estava em um beco sem saída; mas decidiu livremente amar-nos, da mesma forma que ele estava acostumado a amar seu Pai, até o fim. Mais à frente Ele nos dirá: “Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos. Vós sois meus amigos (Jo 15,13-14).

Prestemos atenção ao que Ele faz durante a refeição: Levanta-se, tira o manto, pega uma toalha, derrama água numa bacia e começa a lavar os pés de seus discípulos. Um gesto inusitado para alguém que é considerado Mestre. Ocasionalmente os discípulos podiam lavar os pés de seus mestres em sinal de devoção, mas nunca o contrário. Fazendo isso, Jesus se humilha, fazendo-se servo. Essa humilhação possui também outro nome: amor. O gesto do lava-pés precisa ser compreendido no seu duplo significado: um que só Jesus pode fazer e que precisamos aceitar, outro que podemos imitar.

O primeiro significado aparece no diálogo com Pedro, que não quer deixar que lhe lave os pés: “Se eu não te lavar, não terás parte comigo[1]” (Jo 13,8). O lava-pés é algo que torna possível que os discípulos tenham “parte” com Jesus, recebam a sua herança, que é a vida eterna. Se aceitamos que esse gesto é símbolo da morte salvífica de Jesus, quem se escandaliza diante dele e o rejeita nunca terá “parte” com o Senhor, porque não poderá ser salvo, porque não aceita o amor redentor de Jesus manifestado na cruz. Esta reação de Pedro é muito parecida com a que teve diante do primeiro anúncio da paixão (cf. Mc 8,31-33) - é o escândalo da cruz[2].

O segundo significado do lava-pés é dado pelo próprio Jesus quando retorna à mesa: “Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros” (Jo 13,14). Sabemos que apenas os discípulos mais generosos e devotos se dispunham ocasionalmente a lavar os pés de seus mestres, mas agora Jesus torna isso a regra comum. Não entre discípulo e mestre, mas entre todos. A verdadeira e mais profunda humildade não é se sentir ou se reconhecer pequeno, mas é se colocar a serviço do outro e operar aquilo que ele está precisando (que nem sempre corresponde ao que o necessitado deseja). Neste segundo significado, mais uma vez, serviço e amor se correspondem.

Após contemplamos Jesus neste momento especial, precisamos olhar para nossa comunidade e perguntarmos: estamos servindo a nossos irmãos? Temos muitas pessoas engajadas nos ministérios e pastorais da nossa comunidade; elas desempenham suas funções como verdadeiro serviço de amor?

Olhando para si, você pode se questionar: aceito o escândalo da cruz redentora? Aceito o amor de Cristo por mim, que foi até o fim?


Pe. Emilio Cesar
Pároco de Messejana




[1] “Parte” (meros) é uma palavra que a LXX usava para traduzir a herança de Israel, o dom que Deus irá lhe fazer, dando “parte” na Terra prometida (cf. Nm 18,20; Dt 12,12; 14,27). Depois a palavra se torna recompensa escatológica, como aqui e em outros escritos de tradição joanina (Ap 20,6; 21,8; 22,19) (cf. R.E. Brown, Commento al vangelo spirituale, 3a ed, Citadella: Assis 1991, p. 674-675).
[2] cf. R.E. Brown, Commento al vangelo spirituale, 3a ed, Citadella: Assis 1991, p. 675.

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