At 2,42-47
1Pd 1,3-9
Jo 20,19-31
Vimos o Senhor! (Jo
20,25)
A riqueza do evangelho não permite que aprofundemos todos os
aspectos, por isso escolhemos três. As duas vezes que Jesus aparece aos
discípulos acontece no dia depois do sábado, o primeiro da semana. Para o judeu
esse era um dia como os outros, o primeiro dia de trabalho. Mas os cristãos
perceberam que a escolha de Jesus tinha uma intensão clara: tornar esse dia o
herdeiro do sábado do Antigo Testamento e fazê-lo ainda mais santo. Por isso,
começamos a chamá-lo de domingo, "o dia do Senhor" (dies dominica), e nos reunimos nesse dia
em assembleia litúrgica (missa ou celebração da Palavra). O domingo é para nós
a páscoa semanal, o momento que nos abstemos daquilo que fazemos nos outros
dias da semana para encontrar Jesus Ressuscitado e receber dele a paz, a
alegria, o Espírito Santo e a missão. Precisamos olhar para nosso domingo e nos
perguntar: ele está sendo um dia santo? Rompemos com nosso ciclo de atividades
cotidianas e nos dedicamos a Deus? Ou nossa ambição e preocupação não nos
permitem ter tal repouso? Como nos lembra o documento de João Paulo II sobre o
domingo (Dies Domini), o descanso não
serve apenas para a dimensão de fé, mas também para nos dedicar mais à família,
ao lazer e à cultura. É um dia diferente de todos os outros porque nele Jesus
ressuscitou e apareceu aos discípulos, por isso precisa se tornar o dia por
excelência não só da fé mas também da dignidade do homem e da mulher. Nele não
existe patrões e trabalhadores, mas apenas homens e mulheres livres que creem
no Cristo.
Outro aspecto importante do evangelho de hoje é o fato de
Jesus se manifestar sempre no meio de seus discípulos: “... pondo-se no meio
deles” (Jo 20,19.26). Tomé não estava reunido. Tenho a tentação de dizer que ele
ficou em casa assistindo televisão, descansando ou fazendo outra coisa menos
importante que participar da celebração dominical, com a desculpa de que Deus
está em todo lugar e tanto faz rezar na Igreja ou em casa. Deus está em todo
lugar mas para o Cristão ele está de forma especial na comunidade reunida, na assembleia
que celebra o dia do Senhor. Essa não é uma afirmação da Igreja para ter mais
pessoas em suas celebrações, mas é uma escolha do próprio Jesus; além do evangelho de hoje recorde-se da
passagem de Mt 18,20: “Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome,
eu estou aí no meio deles”. Lembre-se ainda que Paulo nos ensinou que Jesus é a
cabeça e nós o corpo de Cristo, só podemos ter acesso ao Senhor se permanecemos
no seu corpo que é a Igreja, comunidade cristã. Retornado ao evangelho podemos afirmar que Tomé
só conseguiu encontrar com o Ressuscitado quando permaneceu unido a seus irmãos
em assembleia, oito dias depois. A primeira leitura vai aprofundar esse tema
mostrando o que a comunidade precisa fazer e ser para se tornar verdadeiramente
cristã:
Os que se haviam convertido eram perseverantes em ouvir o
ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações
(…) Todos os que abraçavam a fé viviam unidos e colocavam tudo em comum
(At 2,41-44).
O terceiro aspecto que desejo destacar é o testemunho dos
discípulos: “Vimos o Senhor!” (Jo 20,25) disseram com muita alegria a Tomé.
Quem se encontra com o Ressuscitado descobre uma nova vida, uma grande alegria,
uma paz que todos os homens desejam e procuram mas não conseguem encontrar fora
de Deus. Tudo isso que o cristão experimenta não pode ser guardado apenas para
ele, como um tesouro que pode se acabar. Na verdade acontece o inverso, quanto
mais se partilha esse tesouro com outros, mais ele cresce. A reação que Tomé
teve diante do anúncio não foi diferente da que muitos homens e mulheres
apresentam: para crer preciso de provas racionais ou sensíveis; prove que Deus
existe! Diante de tais reações, algumas até violentas, somos tentados a
silenciar o testemunho. Mas isso não é virtude da prudência mas medo e respeito
próprio. O anúncio pascal, “Cristo ressuscitou e disso nós somos testemunhas”,
precisa continuar ecoando no mundo, mesmo que muitos rejeitem. Já aconteceu
outras vezes, aqueles que mais se opuseram ao evangelho se tornaram grandes
evangelizadores: além de Tomé que passa de incrédulo a fiel (cf. Jo 20,28-29)
pode-se recordar de Paulo, um perseguidor que passou a anunciar a Boa Nova (At
9,1-18). Continuemos testemunhando nossa fé aos homens e mulheres descrentes
porque essa é a forma normal que Jesus se utiliza para manifestar, através do
nosso anúncio.
Pe. Emilio Cesar
Pároco de Messejana
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