sábado, 3 de maio de 2014

III DOMINGO DE PÁSCOA - ANO A


At 2,14.22-33
1Pd 1,17-21
Lc 24,13-35

Fica conosco! (Lc 24,29)
No terceiro domingo de páscoa somos convidados pela Igreja a percorrer o caminho que levava os peregrinos de Jerusalém a Emaús. Não sabemos muito detalhes sobre a geografia da estrada ou desta cidade, mas temos um fato importantíssimo que aconteceu alí e é narrado apenas pelo evangelho de Lucas.

Dois discípulos voltavam para sua cidade natal após a morte do Mestre. Eles estavam decepcionados com tudo que tinha acontecido. O profeta poderoso em obras e palavras foi entregue pelos sumos sacerdotes ao poder romano, foi condenado e morto numa cruz. Eles acreditavam que aquele homem fosse o Messias aguardado que vinha restaurar o reino de Israel, mas agora estava morto e nada tinha mudado. A tristeza destas duas pessoas era tão grande que estavam como que cegos (cf. Lc 24,16) e não reconheceram Jesus que se aproximou deles e puxou conversa: “O que ides conversando pelo caminho?” (Lc 24,17).
Depois de falarem bastante o peregrino desconhecido começou a explicar todas as passagens da Escritura que tratavam sobre o sofrimento do Messias ates dele entrar na glória. Podemos até imaginar que falou sobre o servo sofredor de Isaias, a paixão de Jeremias, o pastor de Zc 12,10 e 13,7 e os orantes anônimos dos salmos (Sl 21; 38; 55; 69 etc.). Os dois caminhantes precisavam entender que o Messias já tinha vindo mas não se identificava com seus sonhos de glória e domínio político. Neste momento o coração de Cléofas e de seu companheiro[1] já ardia, Deus estava agindo no interior deles através da Palavra sem que percebessem.
O momento decisivo, porém, foi o convite feito ao peregrino: “Fica conosco pois já é tarde e a noite vem chegando” (Lc 24,29). Foi o acolhimento daquele casal que fez toda diferença, pois será durante uma refeição, provavelmente na sua casa e com seu pão, que reconhecem o homem que os acompanhou por toda a estrada. “Quando se sentou à mesa com eles, tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e lhes distribuía” (Lc 24,30). Os três verbos destacados em itálico, incluindo sua ordem, são muito semelhantes àqueles utilizados na última ceia e em 1Cor 11,23-24. Sabemos também que “fração do pão” é o primeiro nome que a comunidade cristã dá à Eucaristia (cf. At 2,42). Os olhos dos discípulos se abrem para fé no momento da partilha do pão, eles são curados da cegueira causada pela tristeza e pelas ideias preconcebidas do Messias glorioso, agora podem enxergar: é ele, Jesus. Nesse momento desaparece porque já foi reconhecido, o Senhor ressuscitou e está conosco!
Podemos dizer que às vezes somos esses dois discípulos que andam abatidos pela tristeza e decepção com a vida. Jesus chega perto de nós, caminha conosco mas não percebemos, estamos cegos. Não percebemos que ele está vivo, que nos conduz, que fala conosco, nos anima... Só enxergamos problemas, sofrimentos, desilusão. O que pode curar nossa cegueira? Convidar Jesus para entrar na nossa casa, sentar-se à nossa mesa e partilhar nosso pão. Isso não tem nada de romântico, é muito concreto. Significa se preocupar com o pobre, dá-lhe de comer, beber, vestir... (cf. Mt 24, 37-40). Compartilhar com ele nosso tempo, alegria, amor e, se preciso, nossos bens materiais. Isso ainda pode parecer distante e impossível para muitos, por isso gostaria de dar uma sugestão mais concreta.
A realidade que melhor representa Cristo para nós hoje é a comunidade cristã. Não estou falando da Igreja institucional, nem da Igreja universal ou da estrutura paroquial, que também representam o Senhor. Mas de um grupo de pessoas que acreditam em Jesus ressuscitado, celebram seu dia e querem viver, orar e trabalhar como irmãos, apesar de suas fraquezas e diferenças. Paulo, antes de acreditar em Jesus, perseguia alguns judeus que pertenciam a essa nova realidade, por isso Jesus perguntou-lhe: “Paulo por que me persegues?” (At 9, 4-5). Participar de uma comunidade cristã ao ponto de deixar que ela entre na nossa casa, sente à nossa mesa e partilhe o nosso pão, é a melhor maneira de deixarmos Jesus se manifestar curando nossa cegueira. Por isso, gostaria de convidá-los a participarem dos pequenos grupos que iremos iniciar em nossa paróquia que terão por objetivo se tornarem uma comunidade de fé que nos colocam em caminho com Jesus para ouvir sua Palavra e partilhar o pão. Ou se preferirem, procurem um movimento ou grupo já existente (Comunidade Jesus e Maria, Comunidade Católica Shalom, JUPAME, Caminho Neocatecumenal), reconhecido pela Igreja institucional, e participem dele como sua comunidade de fé.



Pe. Emilio Cesar
Pároco de Messejana





[1] É possível que não seja um homem mas uma mulher. Em Jo 19,25 descobrimos que aos pés da cruz existia uma Maria que era esposa de Cléofas. Após a decepção com a morte de Jesus o casal de discípulos retornavam à casa para retomarem sua vida de antes.

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