segunda-feira, 12 de maio de 2014

IV DOMINGO DA PÁSCOA - ANO A



Eu sou a porta! (Jo 10,9)
Hoje a Igreja celebra o domingo do Bom Pastor. Quem ele é? Alguns católicos respondem imediatamente que é o Papa, o Bispo e o padre, mas a resposta precisa ser aprofundada. Pela leituras e orações litúrgicas de hoje, descobrimos que Bom Pastor é unicamente Deus e seu Filho Jesus. Os outros são ovelhas que, às vezes, recebem a missão de representá-lo e refletir o seu amor pelo rebanho.
Iniciemos, então pelo salmo.
O Senhor é o pastor que me conduz, não me falta coisa alguma. Pelos prados e campinas verdejantes ele me leva a descansar. Para as águas repousantes me encaminha, e restaura as minhas forças (…) Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei; estais comigo com bastão e com cajado; eles me dão a segurança! (Sl 22)
A imagem evoca especialmente o carinho, o cuidado e a dedicação que os pastores da Terra Santa do período do Antigo e Novo Testamento tinham pelo seu rebanho. Como o pasto era escasso, eles conduziam as ovelhas a lugares distantes para procurar comida. Quase sempre precisavam dormir no meio delas para defende-las de lobos e assaltantes. Assim era Deus com seu povo. Ele o tirou do Egito, conduziu-lhe pelo deserto sem deixar faltar o necessário para sua subsistência, deu-lhe uma terra prometida. Deus sempre esteve com seu povo, conduzindo, defendendo, orientado.
O versículo de aclamação do Evangelho dizia: “Eu sou o bom pastor; eu conheço minhas ovelhas e elas me conhecem a mim” (Jo 10,14). Jesus também é o Bom Pastor, e ele faz questão de dizer que conhece suas ovelhas. Ou seja, conhece sua história, suas alegrias e sofrimentos. Ele chama cada ovelha pelo nome para reuni-las em um rebanho e assim poder conduzi-las à fortaleza do Pastor, aos prados da eterna alegria[1]. É muito importante que o cristão perceba que a sua confiança no Bom Pastor não pode lhe deixar solitário, tentando viver o cristianismo de forma individualista, “Eu e meu Bom Pastor”. Mas conduz a viver junto com outras ovelhas, no rebanho que Jesus adquiriu com seu sangue derramado na cruz. Como fazer parte desse rebanho? Como as ovelhas desgarradas ou individualistas podem retornar (cf. 1Pd 2,25)?
Jesus nos ensinou no evangelho: é preciso que as ovelhas conheçam a voz do pastor, não se deixem levar pelos ladrões e assaltantes que se disfarçam de pastor só para roubar o rebanho (cf. Jo 10,1-5). Quantas coisas para falar sobre essa passagem! O fiel precisa conhecer Jesus. Não se trata de conhecimento intelectual mas existencial, um encontro pessoal com ele. E qual o melhor lugar, qual o espaço privilegiado da presença do Ressuscitado? Onde ele se encontra de maneira mais forte para que nós possamos encontra-lo? Muitos de vocês responderam “no meu coração”. É verdade que que o Senhor está no seu coração mas o espaço privilegiado da presença dele é a comunidade reunida para celebrar o dia da ressurreição, o domingo. É aqui, nesta assembleia litúrgica, que nosso Bom Pastor se encontra vivo e querendo se mostrar a cada um. Essa experiência é o que significa “passar pela porta”. É deixar uma vida cristã acomodada no individualismo, no tradicionalismo de ritos exteriores, no “assistir a missa” e ouvir o convite de S. Pedro na primeira leitura: Convertam-se, creiam em Jesus  e cada de vocês passem a viver de acordo com o batismo, cheios do Espírito Santo e participando de uma comunidade cristã (cf. At 2,38-39).
Hoje, como podemos nos deixar conduzir pelo Bom Pastor? Jesus deixou os apóstolos como continuadores de sua missão, e escolheu Pedro para exercer o primado na caridade (cf. Mt 16). Estes, por sua vez, escolheram homens para lhe ajudarem e sucederem nesta missa que são os bispos. Através destes, auxiliados pelos padres, o Senhor continua pastoreando seu povo. Para que o Papa, os bispos e padres possam cumprir adequadamente sua missão precisam estar unidos a Cristo e entre si. Assim, a voz deles será a voz do Senhor e as ovelhas reconhecerão isso seguindo suas orientações, mesmo quando forem difíceis ou duras.
E preciso, porém, alertar que existem muitos que se dizem pastores prometendo coisas que Jesus não prometeu: “Pare de sofrer, venha congregar aqui!”; “Se você está com dificuldade financeira aceite Jesus, entregue o seu dízimo na nossa igreja e você vai pagar todas as suas contas e se tornar rico, porque o nosso é o Deus do impossível!” Será que essa é a voz de Jesus? Ele alguma vez prometeu riqueza material aos seus discípulos? Prometeu que o caminho seria sem cruz e só com alegrias? As vezes a gente se deixa levar por essas vozes de assaltantes e ladrões porque no fundo é esse o nosso desejo, ou porque ficamos com raiva de uma palavra dura que o padre ou um irmão de comunidade nos disse. Lembremos que Jesus nos fala através dessas pessoas não apenas aquilo que nós queremos ou gostamos, mas aquilo que é o melhor para nós e pode nos fazer crescer, inclusive através de perseguições ou injustiças.


Pe. Emilio Cesar
Pároco de Messejana



[1] Cf. Oração Coleta e sobre as oferendas da missa de hoje.

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