sábado, 17 de maio de 2014

V DOMINGO - TEMPO DA PÁSCOA


At 6,1-7
1Pd 2,4-9
Jo 14, 1-12

Tendes fé em Deus, tende fé em mim também (Jo 14,1).
O início do evangelho toca de forma especial o homem e a mulher de hoje marcados por tantos medos, agitações, dúvidas... preocupados com o futuro: “Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus, tende fé em mim também” (Jo 14,1). A fé em Cristo pode nos ajudar a lhe dar com tudo isso, não fugindo, mas enfrentando com esperança.

Ainda segundo o evangelho, a fé nos faz perceber que Jesus é o caminho que nos leva ao Pai. Não apenas porque ele é o modelo a ser seguido por seus discípulos mas, principalmente, porque ele nos abriu a vereda que nos leva a Deus com sua morte e ressurreição. Ou seja, para chegar ao Pai é preciso “passar” por ele, é preciso estar unido a Jesus como ele está a Deus. Esta união íntima é chamada também de fé.
No nosso meio católico tradicional existe uma grande dificuldade de compreender o que significa fé. Muitos afirmam, com toda a convicção, que possuem uma fé forte, profunda, apesar de não ir à missa todo domingo, apesar de não participar de uma comunidade cristã. Chegam a afirmar que esta sua fé é inabalável. A Palavra ouvida na segunda leitura, porém, oferece uma resposta a essas pessoas.
Em primeiro lugar fica claro que a fé nasce da escuta da Palavra do Senhor (cf. 1Pd 2,8). Quem a ouve e acolhe em seu coração se une à pedra fundamental. Quem rejeita o anúncio da Boa Nova, quem não abraça todo o Evangelho mas escolhe aquilo que quer acreditar, esse tropeça na pedra, rejeita Cristo.
Por outro lado, a fé que nos une ao Senhor nos torna participantes de um prédio espiritual composto por Cristo e por todos aqueles que lhe estão unidos. No cristianismo não dá para ter uma fé individual, só eu e Deus. Toda fé verdadeira é pessoal (eu creio no Senhor) mas insere o fiel imediatamente na comunidade cristã:
Aproximai-vos do Senhor, pedra viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida e honrosa aos olhos de Deus. Do mesmo modo, também vós, como pedras vivas, formai um edifício espiritual, um sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo (1Pd 2,4-5).
A comunidade é chamada de “edifício espiritual” e o contexto nos faz pensar que que a construção que o autor tem em mente é um templo onde o sacerdócio exerce sua função de oferecer sacrifícios agradáveis a Deus. Mais na frente o autor vai deixar isso mais claro: “vós sois a raça escolhida, o sacerdócio do Reino, a nação santa, o povo que ele conquistou para proclamar as obras admiráveis daquele que vos chamou das trevas para a sua luz maravilhosa” (1Pd 2,9). O fiel unido a Cristo participa de uma comunidade e se torna com ela sacerdócio do Reino, nação santa, para oferecer sacrifícios verdadeiros e santos ao Senhor. Aquilo que o povo do Antigo Testamento se tornou no êxodo (cf. Ex 19,6) agora nós somos em Cristo. E qual o sacrifício que todos nós batizados somos convidados a oferecer?
A celebração eucarística nos ajuda a entender. No momento da apresentação das oferendas o padre diz: “Bendito sejais, Senhor, Deus do Universo, pelo pão que recebemos da Vossa bondade, fruto da terra e do trabalho humano: que agora Vos apresentamos e que para nós se vai tornar Pão da vida”. A eucaristia só acontece se antes os batizados acolheram a criação (fruto da terra) e trabalharam nela para produzir a matéria (pão) que será transformada em Corpo de Cristo. Podemos então afirmar que toda a realidade terrena, política, cultura, lazer, trabalhos, família... todo o mundo, é o campo de atuação do batizado para oferecer sacrifícios agradáveis. Como?
Em primeiro lugar trabalhando para melhorar esse mundo implantando nele a realidade nova inaugurada por Cristo com sua ressurreição: o amor, a justiça, a verdade, a vida. Isso acontece de maneira muito simples: através de uma boa educação cristã para nossos filhos, respeitando nosso colegas de trabalho, nos preocupando com a necessidade dos outros, obedecendo as leis do transito, nos engajando para tentar mudar nossa realidade politica tão deprimente e decadente.
Mas não esqueçamos, só conseguiremos transformar esse mundo em uma sacrifício agradável a Deus se estivermos unidos a Cristo por uma fé sólida e participando de uma comunidade cristã que se transforma, assim, no novo templo, lugar da presença do Senhor.

Pe. Emilio Cesar
Pároco de Messejana


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