sábado, 24 de maio de 2014

VI DOMINGO - TEMPO DA PÁSCOA

At 8,5-8.14-17
1Pd 3,15-18
Jo 14, 15-21

“Não vos deixareis órfãos. Eu virei a vós” (Jo 14,18)
Estamos nos aproximando do final da Páscoa e, com isso, da festa de Pentecostes. As leituras bíblicas além de continuar nos falando do Cristo começam a nos apresentar o Espírito Santo convidando que nosso olhar passe do Ressuscitado para seu dom. Podemos utilizar as palavras do Pe. Raniero e afirmar que estamos vivendo um pequeno advento em preparação para Pentecostes[1]. Precisamos nos perguntar: quem é este Espírito? O que ele fez e faz?
A segunda carta de Pedro nos recorda que Jesus morreu por causa dos nossos pecados para nos conduzir a Deus e diz mais: “Sofreu a morte, na sua existência humana, mas recebeu nova vida pelo Espírito” (3,18). O Espírito Santo foi quem vivificou a humanidade morta de Jesus e a chamou ao estado glorioso de Senhor[2]. Ele continua realizando a mesma coisa no Corpo de Cristo que é sua Igreja, especialmente naqueles membros que experimentam na sua existência a dor, a desilusão, a desesperança, o abandono, a enfermidade... a morte. Por isso ele é chamado de Paráclito (paraklétos) que o evangelho de hoje traduz por Defensor, mas também poderíamos traduzir por Consolador.
O evangelho continua a passagem ouvida domingo passado. Lembremos o contexto, Jesus, após lavar os pés de seus discípulos, senta-se à mesa e começa a conversar com eles sobre aquilo que irá acontecer em breve: sua morte e ressurreição.
“Se me amais, guardareis os meus mandamentos, e eu rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro Defensor (...) o Espírito da Verdade (...) Ele permanece junto de vós e estará dentro de vós. Não vos deixareis órfãos, eu virei a vós” (Jo 14,15-18).
A paixão e morte do Senhor irá trazer uma grande dor para todos, comparável a da orfandade, mas ele promete que não lhes deixará sozinhos, mas virá. Sua vinda acontecerá de uma maneira nova, diferente da atual que é também física e material. Ele virá através de Espírito da Verdade, o outro Consolador. Jesus foi o primeiro Consolador, aquele que convidou os cansados e fatigados a descansar nele (cf. Mt 11,28); que veio libertar os presos e oprimidos, curar os cegos (cf. Lc 4,18); que trouxe misericórdia e não sacrifício (cf. Mt 12,7). Agora ele se fará presente através do Espírito que está não apenas junto de mas também dentro de nós (cf. Jo 14,17). Por isso, a Sequência de Pentecostes vai nos fazer chama-lo de Consolador supremo e doce hóspede da alma. Como conseguir tal consolação?
A Igreja é a primeira destinatária dest ação divina, basta olhar para a narrativa de Pentecostes em Atos dos Apóstolos e percebemos que aqueles homens e mulheres que estavam receosos e acuados são consolados e se tornam homens destemidos. Mais a frente vai dizer que o número de fieis nas Igrejas cresciam e elas estava repletas da consolação do Espírito Santo (cf. At 9,30-31). Na Primeira leitura descobrimos que os cristãos de Samaria, que ouviram a pregação e receberam o batismo através de Filipe, precisaram acolher a visita de dois Apóstolos, representantes da Igreja Mãe, para poderem receber o Espírito Santo através da imposição de suas mãos (cf. At 8,17). O Espírito, apesar de soprar onde e como quer, escolheu a comunidade cristã para morar de forma especial. E a Igreja recebeu de Jesus o poder de comunicar esse Espirito pelas orações e gestos através dos apóstolos e de seus sucessores, os bispos. Por isso, é muito difícil um católico que não participa de uma comunidade concreta e não está unido ao seu bispo e pároco, experimentar essa verdadeira consolação de Deus. Ele pode experimentar um sentimento de consolação, um alívio emocional fruto das orações de curas, de palavras bonitas e de ânimo, mas após uma semana está precisando de novo da mesma “injeção” porque seu estado ficou pior que o anterior.
A consolação autêntica que vem do Espírito conduz à uma verdade sobre si mesmo e sobre Deus que liberta a pessoa de seu egocentrismo, do seu sentimentalismo, de sua dependência das pessoas, situações ou objetos, do seu medo e pecado. Como sabemos se aquilo que experimentamos é ação do Consolador supremo ou de sugestões humanas, boas como analgésicos mas não como remédio que cura?
A resposta é simples e escandalosa: se aquilo que experimento me conduz ao amor a Deus e ao próximo, então vem do Espírito. Mas se minha busca de consolação e cura me leva apenas a olhar para mim e querer sempre mais para mim, então ela é mentirosa e me afasta de Deus. São Paulo já ensinou: Deus nos consola em todas as nossas tribulações para que nós possamos consolar quem se encontra em situação semelhante ou pior que a nossa (cf. 2Cor 1,4). Somos consolados para amar.
Precisamos concluir dizendo ainda que Deus só pode consolar os humildes (cf. 2Cor 7,6). Os soberbos são impermeáveis à ternura divina porque autossuficientes[3].

Pe. Emilio Cesar
Pároco de Messejana






[1] Cf. Raniero Cantalamessa, La Parola e la vita. Riflessioni sulla Parola di Dio delle Domeniche e delle feste dell’anno A. 12a Ed., Roma: Città Nuova 2004, p. 117.
[2] Cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 648.
[3] Cf. Raniero Cantalamessa, La Parola e la vita. Riflessioni sulla Parola di Dio delle Domeniche e delle feste dell’anno A. 12a Ed., Roma: Città Nuova 2004, p.120.

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